Foto: Arquivo/O Estado

 Rebanho bovino do Paraná: da suspeita à confirmação.

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Mesmo sem admitir a existência de foco de febre aftosa no Paraná, o governo do Estado determinou ontem medidas de sanidade em relação à Fazenda Cachoeira, no município de São Sebastião de Amoreira, norte do Estado. A fazenda teve o foco da doença confirmado pelo Ministério da Agricultura na última terça-feira. Entre as medidas estão a implantação de barreiras volantes para garantir a não-movimentação de animais no local, a interdição da propriedade e a delimitação de um raio de 10 quilômetros ao redor da fazenda.

As medidas foram anunciadas pela Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) e encaminhadas ao Núcleo Regional de Cornélio Procópio – que abrange a Fazenda Cachoeira -, depois que o órgão recebeu nota técnica da superintendência regional do Ministério da agricultura, no final da manhã de ontem. A Seab informou, através da assessoria de imprensa, que o conteúdo da nota técnica só seria divulgado depois que o vice-governador e secretário da agricultura Orlando Pessuti definisse quais medidas tomar, o que deve acontecer hoje. A superintendência do Ministério da Agricultura também não divulgou o conteúdo, alegando que se trata de normas internas.

Em Cascavel, durante visita à 26.ª Feira Agropecuária Expovel (esvaziada em função do anúncio da existência de aftosa), o governador Roberto Requião disse ontem que entrará com ações judiciais contra o Ministério da Agricultura devido à ?irresponsabilidade? de continuar considerando o Paraná foco de aftosa, após os resultados negativos dos exames que vêm sendo realizados. ?O Paraná está pagando por erro e irresponsabilidade do Ministério da Agricultura. Nós estamos conversando com o governo federal e vamos até as últimas conseqüências porque este assunto não é brincadeira?, afirmou o governador.

?Não existe aftosa?

O gerente da Fazenda Cachoeira – nome fantasia da Empresa Agropecuária Lunardelli -, André Carioba Filho, disse que até o final da tarde não havia sido comunicado oficialmente sobre a existência do foco de aftosa em sua propriedade. ?Nós mesmos não fomos informados, não recebemos sequer um documento?, reclamou. Com o documento em mãos, segundo ele, a idéia é entrar com uma ação, contestando a confirmação da doença em sua fazenda.

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?Não existe aftosa aqui. Duzentos e nove animais foram comprados no leilão em Londrina, mas estão todos bem. A própria Fazenda Bonanza (de onde veio boa parte dos animais) não tem foco de aftosa e todos os animais já foram vacinados?, afirmou Carioba Filho. Para ele, existe grande controvérsia em relação aos exames feitos no Laboratório Nacional de Agropecuária do Rio Grande do Sul. ?O Gabriel Maciel (secretário nacional da Defesa Agropecuária) disse que os exames foram feitos no Rio Grande do Sul, mas o próprio diretor do laboratório disse que não foram feitos lá, que não manipularam nenhum vírus.?

Para Carioba Filho, ?acabaram escolhendo o que era mais fácil?. ?As outras fazendas já estavam sub judice. Hoje (ontem) tem uma reunião da OIE (Organização Internacional de Epizootias) e o Brasil tinha que dar uma satisfação. Acredito que tenha sido a alternativa para tentar evitar que outros estados também deixassem de exportar?, lamentou.

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A Fazenda Cachoeira é de confinamento, servindo para a engorda de animais. A área é de 1.418 alqueires, e a agricultura é a principal atividade. Segundo Carioba, amostras de soro e de líquido esofágico foram colhidas em 209 animais nos últimos dias 28 e 29. Em relação aos prejuízos, ele cita a queda da arroba do boi – de R$ 52,00 para R$ 45,00 em uma semana – e o fato de não poder comercializar os 209 animais que vieram do Mato Grosso do Sul. ?Eles já estão prontos para venda, mas não podem ser comercializados. Estão todos identificados pela Seab e pelo Ministério da Agricultura.? Segundo ele, a fazenda também deixou de comprar cabeças, por conta da suspeita da doença no Estado. Por ano, a Fazenda Cachoeira comercializa entre 3,5 mil e 4 mil cabeças de gado.

Prefeito

O prefeito de São Sebastião da Amoreira, Jorge Takassumi (PL), afirmou ontem estar ?perplexo? pela falta de comunicação do Ministério da Agricultura, que anunciou terça-feira a existência de um foco de febre aftosa. ?Por que o ministério informou formalmente os organismos internacionais e até agora não comunicou oficialmente nem o governo do Estado nem o meu município, que está na linha de frente do problema??, queixou-se Takassumi.

?Estou entre a cruz e a espada: o governo federal insiste que o Paraná tem a aftosa e o governo do Estado, por sua vez, garante que estamos livres da doença?, disse ele.

Exame feito no RS não é conclusivo

Porto Alegre (AE) – O Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) do Rio Grande do Sul fez um dos exames que serviram para a Secretaria de Defesa Agropecuária constatar a existência de um foco de aftosa na Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, no Paraná. Os laudos foram emitidos na segunda-feira, em Porto Alegre, informando que havia sido encontrada reatividade, ou seja, a presença de anticorpos, em parte das 209 amostras sorológicas analisadas no laboratório.

Sozinho, o resultado não é considerado pelos técnicos do setor como suficiente para confirmar a contaminação dos animais. O exame identifica a replicação da atividade viral sem no entanto esclarecer se ela ocorre pela presença da doença ou por deficiência da purificação de proteínas na vacina. O diagnóstico da aftosa depende também da avaliação clínica, na qual os veterinários observam se os animais têm feridas nas patas e aftas na boca, e de um terceiro exame, o Pró-Bang, no qual é feita uma raspagem do esôfago do bovino para analisar se as células contêm o vírus ou não. Como nem todo o tecido é atacado pela doença, a recomendação é de que a coleta se repita três vezes, em lugares diferentes.

O Lanagro do Rio Grande do Sul faz exames sorológicos, mas o material que recebe deve passar por uma fase de inativação viral na origem. O processo evita que os técnicos tenham de manipular o vírus no estado, que é zona livre de aftosa com vacinação.