Paraná já admite sacrifício sanitário

O governo do Estado do Paraná deve decidir, na semana que vem, o que será feito com as pouco mais de duas mil cabeças de gado que estão confinadas na Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira (norte do Estado). Na fazenda foi detectado um foco de aftosa, depois que chegaram 209 novilhas adquiridas em Eldorado (MS) e que, de acordo com o Ministério da Agricultura, são portadoras do vírus da doença. Não está descartado o sacrifício sanitário de todos os animais.

A possibilidade foi admitida ontem, pelo governador Roberto Requião, depois da reunião semanal com os secretários de Estado na chamada ?escolinha?. Até o momento, o governo do Estado tem recusado a aceitar o laudo do Laboratório Nacional Agropecuário de Porto Alegre (RS), que constatou, por meio de amostras de sangue, reação das novilhas ao vírus da aftosa, o que indica a contaminação.

Como o laudo definitivo somente será divulgado em janeiro, de acordo com o Ministério da Agricultura, Requião ordenou à Procuradoria Geral do Estado que processe o ministério, a quem acusa de ?irresponsabilidade? por ter confirmado a doença sem dispor dos laudos definitivos, que dependem do exame Pro-bang.

?Talvez tenhamos que adotar uma solução prática?, afirmou o governador, ao final da costumeira reunião das terças-feiras pela manhã com o secretariado, na capital. O governador sugeriu, desta forma, a possibilidade de ordenar o sacrifício dos animais. O vice-governador e secretário de Agricultura, Orlando Pessuti, também admitiu a possibilidade de recuo ao afirmar que o destino do rebanho da Fazenda Cachoeira será decidido na semana que vem, quando se espera que o Ministério da Agricultura conclua nova bateria de exames.

A flexibilização do governador ocorreu um dia depois de o Fundo de Desenvolvimento Agropecuário do Paraná (Fundepec) pedir formalmente ao governo que, independentemente da comprovação ou não da aftosa, ordene o sacrifício dos animais da Fazenda Cachoeira. Assim, as exportações de carne bovina e suína do Estado – embargadas desde 10 de outubro, quando se confirmou a presença da aftosa no vizinho MS – poderão ser retomadas dentro de seis meses. Se o sacrifício não ocorrer, as exportações somente serão retomadas um ano e seis meses depois da erradicação do foco da doença.

Para a direção do Fundepec – que dispõe de R$ 10 milhões em caixa para indenizar proprietários de animais que, por medidas sanitárias, tenham que ser sacrificados – não tem mais sentido discutir se o rebanho da Cachoeira está ou não contaminado. A doença já é ?fato consumado? porque a Organização Mundial de Saúde Animais (OIE) foi notificada pelo Ministério da Agricultura sobre o foco da aftosa no Paraná. (AE)

Vacina pode induzir a resultado errado, diz técnica 

A diretora de Programas da Área Animal do Ministério da Agricultura, Tânia Maria de Paula Lyra, afirmou ontem, em debate na Câmara Federal, que algumas vacinas contra a febre aftosa podem ter resquícios de proteínas, o que induz a um resultado sorológico de falso positivo. ?Alguns países já tiraram determinadas vacinas de circulação exatamente por causa dessa reação sorológica?, disse Tânia.

As declarações da técnica foram reforçadas pelo coordenador do curso de medicina veterinária do Centro Universitário de Maringá (Cesumar/PR), professor Raimundo Alberto Tostes. Segundo ele, os animais que apresentaram lesões não tinham sintomas claramente provocados por febre aftosa. Essas lesões podem ser conseqüência do processo de estresse gerado no transporte e no próprio leilão, afirmou.

Além disso, o professor observou que no Mato Grosso do Sul foi identificado um tipo de vírus que não apareceu no Paraná – fato estranho, lembrou Tostes, já que a pequena distância que separa os animais dos dois estados torna improvável a ocorrência de mudanças nas características do vírus. Tostes citou o caso de uma novilha sacrificada em Maringá que mostrou não ter o vírus, apesar de mostrar lesões, de ser proveniente do leilão de Londrina e de ter apresentado a proteína no teste sorológico.

A mesma preocupação foi demonstrada pelo professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Amauri Alfieri, que é doutor em virologia animal. Depois de mostrar fotografias de animais com lesões bastante similares às da aftosa, mas provocadas pela diarréia viral bovina em sua forma aguda, Alfieri citou pesquisa científica que revela que aproximadamente 13,5% dos animais vacinados apresentarão resultado soropositivo no tipo de teste feito nos animais do Paraná.

Três fatores

O coordenador-geral de Combate às Doenças do Ministério da Agricultura, Jamil Gomes de Souza, enumerou três fatores que levaram o ministério a concluir pela existência do foco no Paraná. Um deles foi a sintomatologia clínica – os animais apresentaram lesões na boca, nas patas e, no caso das vacas, também nos órgãos genitais. Outro sinal, disse Souza, referiu-se à origem dos animais: alguns deles saíram de uma fazenda do Mato Grosso do Sul, vizinha a uma propriedade na qual se detectou um foco – para outra fazenda do mesmo dono, no Paraná. O terceiro fator apontado pelo ministério para identificar o foco foi um laudo de sorologia positiva.

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