Paraná ganha primeira biofábrica do sul do País

Promover o desenvolvimento sustentável e reduzir o uso de agentes químicos nas lavouras de agricultores familiares serão os desafios para a Biofábrica do Paraná, a primeira do sul do Brasil, inaugurada recentemente no município de Jacarezinho, norte pioneiro do Estado.

A iniciativa da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior conta com a colaboração do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp). O laboratório vai funcionar nas antigas instalações de uma unidade do Tecpar.

O objetivo do laboratório será produzir inseticidas biológicos por meio da produção de inimigos naturais das pragas, que podem ser de grande valia nessa luta. Ao utilizar essa forma de combater agentes nocivos às lavouras, o produtor rural, em particular o pequeno agricultor, tem redução nos custos de produção, garante um alimento mais saudável ao consumidor e diminui ou mesmo elimina a utilização de agrotóxicos.

“A biofábrica faz parte de um projeto da Seti de expandir tecnologia para a agricultura familiar. Queremos incentivar cada vez mais a agroecologia e a produção de alimentos orgânicos (produzidos sem qualquer tipo de contato com substâncias químicas) e dar toda a atenção a esses produtores, uma vez que eles são responsáveis por 85% dos alimentos consumidos pela população”, explica a secretária da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Lygia Pupatto.

A secretária acredita que a redução drástica de agrotóxicos nas lavouras é uma tendência mundial. Por isso a necessidade de atender às demandas globais para utilizar práticas agrícolas menos agressivas ao meio ambiente.

“Existe uma discussão sobre esse assunto e todos concordam que a busca pelo desenvolvimento sustentável é o caminho para um futuro melhor e com menos danos ao ambiente. Há essa necessidade de se aprender tudo de novo, redescobrir o mundo, romper com essa cultura dos agrotóxicos. O controle biológico protege a biodiversidade, diminui o risco de atingir outros organismos e não polui o solo, a água e os alimentos. Além disso, a questão financeira é interessante, pois os produtores conseguem um preço melhor na sua mercadoria e não terão custos para receber esses organismos”, afirma.

Para solidificar essa ideia, Pupatto diz que o governo do Estado deve utilizar seus núcleos regionais para dar aos produtores uma certificação que garanta que o alimento é livre de agentes químicos.

“Para se obter essa garantia, o produtor precisa desembolsar. A partir de outubro, por meio desses núcleos, os agricultores poderão receber a certificação de forma gratuita, o que, consequentemente, auxilia a redução de custos da atividade”, informa.

Ela conta ainda que o investimento para a criação da fábrica foi baixo. “Aproveitamos a estrutura pertencente à Tecpar. Fizemos algumas adaptações e o custo total saiu por R$ 200 mil. É um investimento baixo que garante retorno em um curto prazo de tempo”, comenta.

Cana-de-açúcar será a primeira beneficiada com a vespinha

Sxc.hu
A plantação de cana-de-açúcar é sujeita à broca, uma praga que pode ser combatida com a vespinha, em um processo 100% natural.

A primeira produção da biofábrica será a de produzir a ves,pinha (nome científico: Cotesia flavipes), que combate a praga conhecida como broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis). O diretor-presidente da Tecpar, Aldair Tarcisio Rizzi, explica como o inseto combate a broca.

“A vespinha deposita os ovos na lagarta da broca da cana. Ela põe em média de 200 a 400 ovos que levam de quatro a oito dias para eclodir. Após nascerem, as larvas da vespa se alimentam da lagarta, garantindo assim o controle biológico. Esse processo é 100% natural e não agride o meio ambiente. O produtor recebe o lote com as vespinhas e deixa que a natureza se encarrega do resto. Essa é apenas a primeira etapa, pois futuramente estaremos desenvolvendo soluções para pragas que atacam o feijão, olericulturas em geral, milho, entre outras culturas”, afirma.

Rizzi revela que a criação da fábrica serviu também para outra questão social: a manutenção dos empregos de diversos trabalhadores, uma vez que o local, que produzia vacina antirrábica, seria fechado.

“Além disso, a biofábrica vai trazer inovação para o local e demonstra a preocupação em buscar alternativas naturais em vez de artificiais. Esperamos que essa grande inovação tecnológica possa avançar cada vez mais e desfazer essa mentalidade arcaica e comodista de se utilizar agrotóxicos. Certamente será um diferencial para a sociedade esse processo de produção controlado naturalmente”, avalia. (FL)

Emater apoia o agricultor

O Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) é o responsável pela divulgação da biofábrica junto aos produtores rurais. Além disso, o instituto poderá fomentar o trabalho desenvolvido pelo espaço. De acordo com o agrônomo do Emater em Jacarezinho, Rômulo Madureira Faria, o órgão será uma ponte entre o agricultor familiar e a biofábrica.

“Se o produtor estiver enfrentando uma praga na sua plantação e não está conseguindo dar conta, ele poderá nos procurar que iremos estudar um inimigo natural para que ele possa combatê-la sem a necessidade de usar produtos químicos”, revela.

Faria diz que os produtores rurais da região de Jacarezinho estão recebendo muito bem essa ideia e que estão entusiasmados com os benefícios de se combater uma praga por métodos naturais.

“Além da parte referente ao lucro, o fato de que eles não ficarão mais expostos aos agrotóxicos fez com que essas pessoas se entusiasmassem com esse trabalho. O crescimento do mercado de orgânicos, que oferece um preço superior se comparado aos da agricultura convencional, ajudou também para que esses pequenos e médios produtores demonstrassem interesse para progredir com a produção ecologicamente sustentável, sem agressão à sua saúde e ao meio ambiente. Claro, irá demandar um certo tempo para atender a todos, mas quem abraçar essa causa não vai se arrepender”, diz. (FL)

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo