A Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento do Paraná recebeu apenas no final da tarde de ontem (por volta de 19h) um documento – cópia do relatório que o Ministério da Agricultura enviou à União Européia -, contendo os trabalhos executados para prevenção da aftosa, com um anexo, onde constam os exames laboratoriais indicando ausência da doença no Paraná. ?Não é o laudo final, mas consta aqui o que nos interessa, o resultado do exame de epitélio (raspagem da garganta dos animais), todos negativos?, explicou o diretor da Secretaria de Agricultura do Paraná, Newton Pohl Ribas.
O documento passou por uma análise ontem, na Seab, mas será detalhado na verdade hoje pela manhã em nova reunião. Apenas após ter certeza jurídica da cópia do relatório como documento oficial, a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento poderá flexibilizar as medidas adotadas nos quatro municípios interditados sob suspeita de ter foco de aftosa – Maringá, Grandes Rios, Amaporã e Loanda -, e nas 32 cidades vizinhas. Estados como São Paulo também continua impedindo a entrada de animais vivos e carne com osso vindos do Paraná.
Ontem de manhã, o governador Roberto Requião disse que todas as medidas tomadas por seu governo, nos 22 dias de dúvidas sobre a existência de focos de febre aftosa no Estado, atenderam às exigências internacionais. Segundo Requião, o Paraná recebeu gado de Mato Grosso do Sul em uma feira no município de Londrina e não poderia expor o Brasil a um acidente dessa proporção.
Otimismo
Apesar da dúvida que pairava no ar, o clima ontem era de otimismo. No Frigorífico Garantia, em Maringá, que exporta quase 90% da produção, os abates devem ser retomados aos poucos a partir de hoje, informou o proprietário Waldir Torelli. ?Desde que surgiu a suspeita de aftosa, ficou tudo parado. Estava havendo uma matança pequena de 300 animais por semana, só mesmo para manutenção?, afirmou. Normalmente, o Garantia abate entre 1,2 mil e 1,5 mil animais por dia. O retorno, segundo ele, vai acontecer aos poucos. ?Deve demorar de oito a dez dias para normalizar completamente.?
Quase 40% da carne exportada pelo Garantia tem como destino a Rússia, e 30%, países da União Européia. ?Mesmo sem o embargo da Rússia, paramos de embarcar para lá com medo de que a aftosa fosse confirmada e a mercadoria tivesse que voltar, o que seria um custo muito alto?, disse. Os prejuízos quanto à suspeita da aftosa no Paraná, segundo ele, ainda não foram colocados na ponta do lápis.
Para o assessor econômico do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Paraná (Sindicarnes-PR), Gustavo Fanaya, a divulgação do laudo oficial é algo urgente. ?O Paraná todo está ansioso. Só é possível confirmar as vendas de carne com osso para São Paulo, por exemplo, se o laudo for divulgado oficialmente e caírem as restrições?, afirmou.
Segundo ele, é preciso ainda que o teor do laudo do Ministério da Agricultura seja contundente. ?Se for algo vago, pode ser que São Paulo não retire as restrições. É preciso que nada fique nebuloso?, comentou. Para Fanaya, o Paraná pode acabar se beneficiando com todo esse episódio envolvendo a suspeita de aftosa. ?Feitas as contas, vamos sair no lucro no médio e longo prazo. Foi a cota de sacrifício que pagamos para mostrar a nossa real pecuária de corte, que é superior a de outros estados. E os exames laboratoriais mostraram isso?, arrematou.
Encontro define ações a serem adotadas no Estado
Ontem, em Curitiba, o diretor-geral da Secretaria da Agricultura, Newton Pohl Ribas, reuniu-se com representantes da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), Sindicato das Indústrias de Laticínio do Estado do Paraná (Sindileite), Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarne), Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná (Fetaep) e Associação dos Abatedouros do Paraná (Avipar).
No encontro foram discutidas as ações que a Secretaria da Agricultura e as 35 entidades do Conselho Estadual de Sanidade Agropecuária (Conesa) devem tomar a partir do momento que foi confirmada, oficialmente, a inexistência do vírus no Estado. ?Vamos reforçar ainda mais nossas medidas de defesa sanitária. Não podemos esquecer que a situação em Mato Grosso do Sul está mais grave. No dia 10 de outubro, havia um foco de aftosa no estado vizinho. Hoje, são 22 focos da doença. Por isso, são necessários todos os nossos cuidados e atenção?, disse Ribas. Novo encontro está previsto para hoje.
O presidente do Sindicarnes, Péricles Salazar, defendeu que o transporte e comércio de produtos das regiões onde há propriedades interditadas sejam liberados o quanto antes. ?O setor produtivo não pode continuar sendo prejudicado?, disse. Já o representante da Faep, Ronei Volpi, afirmou que a luta contra a aftosa deve envolver todos os países do Mercosul.
Governador estimula continuidade da vacina
O governador Roberto Requião destacou a importância da vacinação na segunda etapa da Campanha de Vacinação Contra a Febre Aftosa, que iniciou no dia 1.º e vai até o dia 20 de novembro. ?Vamos recuperar o tempo perdido. Não se trata de convencer os demais países, agora, sobre o gado paranaense. Um laudo laboratorial encerra o assunto?, ressaltou.
O governador criticou a demora do Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) em concluir os exames laboratoriais para identificar a existência ou não do vírus nos animais suspeitos. ?O que atrapalhou tudo foi a lentidão e uma ineficácia do laboratório que não tinha condições de isolar o vírus e completar os testes?, disse.
Ontem, em Londrina, o vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, também afirmou que não existe o vírus de febre aftosa no rebanho do Paraná. A afirmação foi feita durante uma palestra no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
O vice-governador lembrou que, mesmo com os resultados negativos, o Paraná vai dar continuidade ao trabalho desenvolvido até o momento para manter o Estado livre da febre aftosa. Ele destacou que, em nenhum momento, o Paraná deixou de adotar os procedimentos exigidos pela Organização Internacional de Epizootias (OIE). ?Sempre agimos com transparência e agilidade em nome da precaução e prevenção. Agora vamos reforçar ainda mais nossas ações de controle sanitário, principalmente nas regiões de fronteira. Assim, vamos evitar que o vírus entre em nosso Estado futuramente?, disse.
