Confirmando previsões feitas durante o ano passado, em 2010 o Paraná deverá voltar a ser o maior Estado produtor de grãos do País. A posição foi perdida durante 2009 para Mato Grosso, principalmente devido aos problemas climáticos ocorridos na Região Sul, no ano passado.
As previsões da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgadas simultaneamente ontem, apontam um aumento na produção agrícola paranaense de 25 milhões de toneladas, na safra 2008/2009, para 29 milhões no período 2009/2010.
Para o engenheiro agrônomo Otmar Hubner, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento (Seab), os números mostram a retomada da perda de produção da safra passada, prejudicada por uma estiagem no verão e chuvas acima da média no inverno.
“Este ano, por enquanto, o clima está normal. Nesta safra, tudo indica que vamos colher normalmente”, afirma, lembrando que as colheitas devem começar já em fevereiro.
Segundo o assessor técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti, a safra pode ser ainda maior se o clima ajudar, passando dos 30 milhões de toneladas de grãos.
Segundo ele, a soja é o maior destaque, com um aumento previsto de 40% na produção, que deve passar das 9,5 milhões de toneladas produzidas na safra anterior, para 13,3 milhões, apesar de um aumento relativamente pequeno na área plantada, de 300 mil hectares, passando para 4,3 milhões de hectares plantados.
O milho, por outro lado, teve a área plantada reduzida em 27%, para aproximadamente 914 mil hectares. No entanto, destaca Mafioletti, a produção deve ter uma redução pequena, de 0,8%, para 6,47 milhões de toneladas.
“Isso se explica pelo clima positivo, que faz a produtividade aumentar 37%”, informa. Já Hubner complementa que o milho tem uma produtividade maior que a soja: enquanto no primeiro produto são colhidos 8 mil quilos por hectare, no segundo a taxa é de 3 mil quilos por hectare.
O engenheiro agrônomo do Deral diz que o clima tem ajudado e que as previsões para fevereiro não são de estiagem, que é o fenômeno que mais preocupa nessa época de início de colheita. “Mas a safra só é garantida mesmo quando já está colhida e no armazém”, completa Hubner.
Com o clima ajudando, como previsto, Mafioletti diz que o maior problema a ser enfrentado pelos agricultores será o câmbio. Se, no ano passado, com o dólar a R$ 2,20, um “buschel” de soja (medida equivalente a quase meia saca, ou 27,2 quilos), que vale US$ 10 no mercado internacional, rendia R$ 22, este ano a mesma quantidade do produto deve sair por R$ 17, devido à valorização do real no período. Assim, ele ressalta que, de certa forma, a melhora na safra será compensada pela taxa de câmbio, desfavorável para as exportações.
Produção de café será maior
A primeira estimativa da produção de café da safra 2010, que indica um aumento entre 16,3% e 23,3% em relação ao ano passado no País, prevê também uma melhora significativa na cultura, no Paraná.
Segundo a previsão da Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), divulgada ontem, o Estado deve beneficiar de 2 milhões a 2,2 milhões de sacas de 60 quilos da variedade arábica do produto, este ano, aumentando entre 36,3% e 50% a produção em relação a 2009, quando ficou abaixo de 1,47 milhões de sacas.
O volume previsto para o Estado deverá ser, no entanto, 23,4% a 15,7% menor que os 2,6 milhões de sacas obtidas em 2008. De acordo com o relatório da Conab, a área total cultivada foi reduzida em 4%, com a perda de 3,9 mil hectares em relação ao ano passado.
O motivo, diz o documento, &ea,cute; a “grave situação de renda vivida pelos cafeicultores”, frustrados pelos baixos preços de mercado e o custo de produção cada vez mais alto.
Caso a previsão mais alta da produção nacional se confirmar, o País pode, este ano, ter a maior colheita do produto da história. Isso porque a Conab espera um total de 45,9 milhões a 48,7 milhões de sacas do produto este ano. Até agora, a marca a ser superada é do ciclo 2002/2003, quando 48,5 milhões de sacas foram colhidas.
Segundo a Conab, a bienalidade positiva da cultura explica a boa previsão para o ano, que será de ciclo cheio, ou seja, de grande florada dos cafezais, alternado com anos de pequena florada. Além disso, o órgão aponta que, na temporada atual, o regime de chuvas regulares na primavera coincide com a fase de floração nas regiões produtoras.
Ainda ontem, porém, o Conselho Nacional do Café (CNC) contestou os números da Conab. Para a entidade, que representa as principais cooperativas cafeeiras do País, que respondem por cerca de metade da produção brasileira, a previsão é de 45 milhões de sacas. O motivo alegado, em um comunicado, é que os cafezais “não receberam os tratos culturais adequados devido à descapitalização da maioria dos produtores”.
A entidade afirma, ainda, que as chuvas acima da média no chamado cinturão cafeeiro podem ter causado problemas fitossanitários nas colheitas. Ela chama a atenção para uma maior incidência da praga chamada broca, além da incidência de ferrugem e cercóspora.
Por falta de capital, segundo a CNC, os agricultores não conseguiram aplicar os tratos adequados ao longo do ano, e não têm condições, agora, de tratar ou prevenir as pragas e doenças.