Apesar de existirem diversos projetos de veículos elétricos sendo desenvolvidos em todo o território brasileiro, o primeiro deles a ser comercializado pode ser um carro baseado em um protótipo elaborado por pesquisadores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Depois de cerca de cinco anos de pesquisa, o carro Pompeo, batizado com este nome em homenagem ao criador do projeto, Renato Cesar Pompeu, está prestes a ser concluído e, assim, estará pronto para ser comercializado. De acordo com o atual coordenador do projeto na universidade, o professor Eloy Casagrande Jr, caso a instituição consiga captar recursos para bancar a produção em série do veículo, a previsão é de que ele seja vendido já no próximo ano.
Segundo ele, o grande diferencial do protótipo elaborado pela equipe da UTFPR em relação aos demais projetos brasileiros e que faz com que esse veículo seja mais interessante do ponto de vista comercial é que não se trata de uma adaptação de um modelo existente para o abastecimento elétrico. “A maioria dos projetos, como o da Itaipu, trabalha com carcaças pesadas, de carros que já existem, que não são adequadas para o abastecimento elétrico. Já o Pompeo, desde o início foi desenhado para ser um carro leve, para dois ocupantes, e, por isso, ele deve ficar em um valor baixo, cerca de R$ 30 mil”, explica.
Por ser um carro criado para mobilidade urbana, o Pompeo atinge apenas 90 quilômetros por hora, mas tem uma autonomia de 200 quilômetros ao ser abastecido com uma bateria de energia solar. No entanto, a expectativa é de melhorar o projeto caso o produto tenha uma boa receptividade no mercado. “Como este é um carro urbano, não precisa atingir uma velocidade acima desta, mas mais adiante pretendemos fazer uma linha de carros com uma potência maior, espaço para mais pessoas e que atinja uma velocidade maior, para ser utilizado em viagens”, completa Casagrande. De acordo com o professor, já existe uma lista de espera que contempla pelo menos 800 interessados cadastrados no site do projeto.
Ele e a equipe esperam contar com o apoio de investidores para captar os recursos necessários para a fabricação do veículo em série, sem ter que recorrer a grandes montadoras. “Não podemos entregar um produto como esses nas mãos das montadoras multinacionais, ele tem que ser genuinamente nacional, ainda mais porque sabemos que iniciativas brasileiras podem ser até mesmo prejudicadas por essas empresas, como aconteceu com o Gurgel nos anos 1970”, comenta o professor. Para ele, o único motivo que poderia dificultar a comercialização do Pompeo é a falta de apoio do governo. “Precisamos vencer a inércia da tecnologia no Brasil imposta pelo governo porque atualmente todo o mundo está estudando o assunto, mas aqui ficamos à mercê de lobbies que não deixam essas novas tecnologias avançarem”.
Outras tentativas brasileiras
De acordo com o diretor-presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Pietro Erber, não é possível determinar quantos projetos de veículos elétricos estão em andamento em todo o Brasil neste momento. Mesmo assim, ele acredita que sejam muitos, mas poucos ganham notoriedade porque a maioria não está bem documentada, sendo iniciativas individuais. “Os principais projetos ainda são os da Itaipu Binacional, da empresa Edra, que estão em testes, mas ambos são projetos experimentais e ainda não temos informações sobre veículos comerciais”, comenta. Ele ainda cita as iniciativas das empresas de transportes Eletra e Tutto, que também possuem modelos de ônibus elétricos ou híbridos, mas sem o objetivo de comercialização.
Enquanto o Brasil não consegue comercializar seu próprio carro elétrico, as opções disponíveis no País são somente os carros importados. “A Mercedes e a Ford possuem modelos vendidos no Brasil, mas que ainda nem são puramente elétricos, são híbridos. Já a Mitsubishi e a Nissan estão fabricando modelos elétricos fora daqui e pretendem trazê-los em breve”, revela Erber. Ele ainda acredita que o Brasil não está preparado para ter uma frota considerável de veículos elétricos. “Para que tenhamos mais veículos híbridos ou elétricos no Brasil, é necessário que haja uma indústria de baterias de grande potência e uma rede de abastecimento adequada, coisas que o País pode fazer porque custam algum dinheiro, mas não é nada tão extraordinário”.