Paraná deve colher maior safra de soja da história

O Paraná está prestes a colher a maior safra de soja da sua história. O jargão de “super-safra” vem se repetindo a cada ano, pois devido ao comportamento do mercado internacional – já que hoje quase 45% do produto é exportado – o agricultor vem aumentando a área plantada e investindo na cultura. A expectativa é que chegue a 11,7 milhões de toneladas, contra 10,9 milhões de toneladas da safra anterior.

Com essa produção, o Paraná se mantêm como segundo maior produtor de soja do Brasil, perdendo apenas para o Mato Grosso, que deverá colher 15,6 milhões de toneladas. O Estado também participa com 20% da área total cultivada no País – que deverá atingir uma safra de 58,7 milhões de toneladas, e também se mantêm na vice-liderança da produção mundial, ficando atrás dos Estados Unidos que reponde por uma produção superior a 70 milhões de toneladas.

Os mais otimistas acreditam que até o final do primeiro semestre, quando toda a safra estiver colhida, os resultados poderão ser ainda melhores. Isso estaria ligado ao clima e ao rendimento médio por hectare, que hoje é de 3 mil quilos/hectare, mas em algumas regiões, esse número é maior devido ao emprego de alta tecnologia. De acordo com o engenheiro agrônomo responsável pela cultura da soja do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab) do Paraná, Otmar Bubner, outro fator importante que ajudou a melhorar a produtividade da soja no Estado foram as iniciativas de conservação do solo e emprego do plantio direto.

Milho

Já o aumento de área com a cultura no Estado – cerca de 3 milhões e 900 mil hectares – está relacionado ao seu desempenho econômico no mercado internacional, entende o engenheiro. A soja é uma das principais commodities mundiais e seu preço é determinado pela negociação do grão nas principais bolsas de mercadorias. Pela sua variável utilização, tem uma demanda mundial de consumo superior a 180 milhões de toneladas. “Nos dois últimos anos a cotação do dólar ajudou a manter o produto em boa posição, o que estimulou os produtores”, disse Bubner.

Outro fator que ajudou a impulsionar a cultura foi o preço desfavorável do milho. Segundo a engenheira agrônoma do Deral, Vera Zardo, além da garantia da comercialização, a soja tem uma rentabilidade maior, o que acaba sendo muito mais atraente para o produtor. Enquanto com a cultura do milho é possível obter uma rentabilidade de 58%, a soja oferece 152%. “Com o fim da taxação de impostos para a exportação, o grão ganhou também mais competitividade”, destaca Vera.

Hoje no Paraná, quase a totalidade dos 100 mil produtores rurais instalados no Estado investem na cultura, sendo a maioria pequenos e médios produtores. Cerca de 50% da produção está concentrada nas regiões Oeste e Norte do Estado. A cultura responde por 22% do total de produtos agropecuários cultivados no Paraná, e o complexo soja -grão, farelo e óleo – atinge 34% do total das exportações paranaenses.

Otimismo, mas com cautela

Mesmo com todas as projeções positivas para a safra da soja, é preciso lembrar que a cultura ainda está para ser colhida, e que é preciso ter cuidado com o otimismo. Quem faz o alerta é o engenheiro agrônomo, produtor rural e consultor da Protecta Assessoria Agropecuária, de Ponta Grossa, João Conrado Schmidt.

“Como a colheita está prevista para até o mês de abril, as igrejas da cidade estão lotadas, e os produtores rezando para que tudo continue correndo bem” brincou Schmidt.

Segundo ele, o mercado está favorável para a cultura, mas se comparado com o ano anterior, o preço pago ficará cerca de 26% menor. “No ano passado a cotação do dólar foi de até R$ 3,80. E nesta semana ele chegou a R$ 2,80”, comparou.

O que também preocupa o consultor é que o frete do transporte vem subindo com freqüência, e isso poderá refletir no preço final do produto. Além disso, o Porto de Paranaguá já vem registrando filas para o embarque da cultura do milho, cuja a exportação não chega a ser tão expressiva quanto a soja.

Ferrugem asiática preocupa autoridades

Se por um lado existe o otimismo com os resultados da produção da soja, por outro, há uma tensão em relação ao crescimento de uma patologia que pode afetar consideravelmente a cultura. Identificada há três anos no Paraná, a ferrugem asiática já foi notificada inclusive em regiões onde a doença estava descartada, como no norte do Estado.

A fitopatologista da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária/Embrapa-Soja, de Londrina, Cláudia Vieira Godói, afirma que a doença provoca a desfolha precoce da soja e a redução do peso do grão. “Se ela entra cedo na lavoura, pode reduzir em 70% a produtividade”, disse Cláudia, acrescentando que isso já ocorreu, no ano passado, na Bahia.

O primeiro relato da doença ocorreu em 1904 na Ásia, de onde vem a identificação da ferrugem. No Paraná, ela teria entrado pelo Paraguai, que possui condições favoráveis para o desenvolvimento do fungo, responsável pela patologia. Cláudia Godói explica que a ferrugem asiática se propaga em temperaturas amenas, entre 18.ºC e 26.ºC, e “associada a presença de umidade, se torna um bom ambiente para a proliferação”.

Alerta

O controle da ferrugem se dá através de fungicida, mas é preciso saber reconhecer o momento certo de aplicar. Por isso, a fitopatologista defende um monitoramento constante da lavoura, para que logo nos primeiros sintomas, seja feita a aplicação. “Se o agricultor fizer a aplicação em um momento errado, corre o risco de não conseguir combater a doença, ou ter que repetir o procedimento. E isso pode aumentar os custos da produção”, disse.

Uma das grandes dificuldades no controle da ferrugem asiática tem sido a identificação da doença. Por isso, a Embrapa tem promovido uma série de atividades técnicas para esclarecer os profissionais e agricultores. Claúdia Godói afirma que a ferrugem aparece na folha através de minúsculos pontos. O que a diferencia de outras doenças são pequenas saliências que aparecem na parte inferior da folha.

A Embrapa criou um mapa da evolução da ferrugem asiática, que pode ser acompanhado pelo site www.cnpso.embrapa.br. A fitopatologista destaca que os produtores podem acompanhar os locais onde a ferrugem já foi notificada. “Isso ajuda a monitorar a doença, pois como ela se propaga pelo vento, se apareceu em uma propriedade, pode ter certeza que será identificada na propriedade vizinha”, finalizou.

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