Paraná defende mobilização nacional

Produtores rurais do Paraná não vão bancar, sozinhos, protestos para pressionar o governo federal a melhorar o Plano Safra, anunciado na semana passada. Eles querem o apoio de agricultores de outros estados, como Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Essa foi uma das principais decisões tomadas ontem, durante encontro realizado na sede da Federação da Agricultura no Estado do Paraná (Faep), onde estiveram reunidos cerca de 200 produtores rurais de todo o Estado, representando 101 sindicatos rurais patronais.

Foram quase sete horas de discussão. Ao final, foi aprovado um documento que será levado pelo presidente da Faep, Ágide Meneguette, para a reunião da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), amanhã, em Brasília. São seis pontos principais da proposta aprovada, entre eles o de que ?qualquer movimento tem que ter caráter nacional?. ?O Paraná, o Rio Grande do Sul ou o Mato Grosso não têm força para mudar. Tem que haver uma mobilização nacional?, salientou o assessor da Faep, Carlos Augusto Albuquerque. Os agricultores aprovaram ainda reduzir 30% da produção nacional, na tentativa de forçar a alta dos preços dos produtos. ?É a lei da oferta e da procura, já que o governo não faz nada neste sentido?, criticou Albuquerque. Medida semelhante já foi adotada pelo setor avícola.

Outras propostas são: fechar os principais portos exportadores de grãos – Paranaguá (PR), Santos (SP), São Francisco do Sul (SC) e Rio Grande (RS), cessar os bloqueios de rodovias e bloquear as saídas de produtos de cooperativas, cerealistas e agroindústrias. ?Fechar as rodovias perdeu sentido; funcionou na manifestação anterior, mas não agora. Ao invés de fechar 30 rodovias, é muito mais eficaz fechar os portos, as cooperativas, as agroindústrias?, analisou. ?Decidimos mudar a estratégia?, acrescentou. A sexta e última proposta aprovada ontem é no sentido de ?trabalhar para eleger candidatos comprometidos com a agropecuária na próxima eleição?. Até amanhã, os produtores rurais do Paraná permanecem em estado de alerta.

De acordo com Albuquerque, os protestos têm como objetivo pressionar o governo federal para que mude a política cambial e conceda um prazo maior para o pagamento de dívidas. O governo concedeu prazo de quatro anos, enquanto o setor reivindicava, no mínimo, dez anos.

R$ 9,7 bilhões

Segundo levantamentos da Faep, o Paraná acumula prejuízos de quatro safras, que somam R$ 9,7 bilhões, o que representa 30% dos prejuízos da agricultura no País.

A economista da Faep Gilda Bozza afirma que além do acúmulo de prejuízos, os agricultores tiveram uma queda bruta no faturamento, o que vem inviabilizando o setor. Na avaliação de Pedro Loyola, também economista da Faep, o plano do governo federal pode ser bom a longo prazo, mas não resolve os problemas que já existem. ?Ele resolve o problema para 2006 mas gera outros para 2007?, comentou. Além disso, ele comenta, que alguns setores ficaram de fora, como o café, a cana-de-açúcar e o fumo.

O produtor de Centenário do Sul Walter Ferreira de Lima disse que a região vem sofrendo há três anos com problemas climáticos e perdas na produção. A situação se agravou na safra passada, quando os preços dos insumos superaram o da comercialização. ?Isso gerou endividamento. O banco prorrogou as dívidas, mas veio outra perda, e transformou a situação em bola de neve?, comentou.

O representante do Sindicato Rural de Castro, Eduardo Medeiros Gomes, disse que os valores apresentados pelo governo são insuficientes. Só o Paraná necessitaria de R$ 8,7 bilhões, mas deverá receber apenas R$ 3 bilhões.

Agropecuária quer ampliação das medidas do pacote

A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) quer a ampliação das medidas de apoio à agricultura anunciadas pelo governo na semana passada. O presidente da entidade, João Paulo Koslovski, agendou para amanhã reunião com o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara Federal, deputado Abelardo Lupion, para discutir as estratégias.

?O grande problema que fica é o endividamento passado, porque se o agricultor não conseguir resolver isto, não vai ter acesso a essa nova política da safra de verão 2006/2007, pois está inadimplente perante o agente financeiro?, afirmou Koslovski. Segundo o dirigente cooperativista, só com novos ajustes nas medidas esses agricultores poderão voltar a produzir. A OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras também convocou reunião para amanhã da sua Comissão Agropecuária para avaliar o pacote agrícola.

Além das medidas emergenciais para driblar a crise atual (ver quadro), a Ocepar considera importante que o governo adote medidas estruturantes, entre elas a desoneração tributária, programa de captação de recursos externos, programa de garantia de renda mínima (seguro agrícola e preços mínimos), facilidade na importação de insumos do Mercosul (Programa de Genéricos), investimentos na infra-estrutura e solução para o problema da cabotagem.

Queda do PIB

O PIB do agronegócio brasileiro terá uma queda de 1,28% em 2006, segundo projeção divulgada ontem pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). De acordo com a entidade, enquanto no ano passado o setor gerou R$ 537,63 bilhões em riquezas, este ano o valor deve cair para R$ 530,77 bilhões.

A CNA também prevê uma redução de 2,2% no faturamento do setor este ano em relação a 2005, o que representa R$ 3,9 bilhões. De acordo com a entidade, essa queda ocorrerá pelo terceiro ano consecutivo, reduzindo a capacidade dos produtores de pagar suas dívidas de curto prazo e com isso diminuindo também investimentos na produção.

Segundo o superintendente técnico da CNA, Ricardo Cota, o pacote de medidas para ajudar o setor agrícola anunciado pelo governo na semana passada foi positivo para diminuir os problemas no curto prazo, mas não soluciona dificuldades estruturais. ?O pacote da semana passada não foi amplo. Na parte estrutural, ele só tratou do seguro agrícola, sendo que existem problemas de infra-estrutura de transportes e de carga tributária sobre insumos que foram tratados de maneira secundária. Nós esperávamos um tratamento de maior impacto?, disse Cota. (LS)

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