Paraná continua com suspeita de aftosa

Ainda não foi dessa vez que o Paraná ficou sabendo se existem ou não focos de febre aftosa no Estado. A expectativa já dura quase duas semanas, e até agora não houve qualquer explicação pertinente que justificasse tamanha demora. Ontem, durante o lançamento da segunda etapa da Campanha de Vacinação contra a Febre Aftosa, em uma propriedade rural em São José dos Pinhais, o vice- governador e secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, Orlando Pessuti, criticou a postura do Ministério da Agricultura, que demorou quatro dias para informar sobre o resultado preliminar dos exames.

?A gente lamenta essa demora em nos comunicar e esperamos que os próximos laudos que o Lanagro (Laboratório Nacional da Agricultura, em Belém do Pará) vai emitir, que o Ministério da Agricultura possa nos informar com mais presteza, mais rapidez?, criticou o secretário. ?Não só a nós como ao próprio ministro (Roberto Rodrigues, da Agricultura), que disse que não havia qualquer resultado.?

Os resultados preliminares, no entanto, não colocam fim à dúvida. Segundo Pessuti, o resultado do exame indica reação ?falso-positiva?, ou seja, não da a certeza se há a doença ou não. ?Pode ser tanto que haja a doença, como pode ser uma reação à vacina. Daí a necessidade de fazer o isolamento do vírus e outros tipos de provas, de análises?, explicou.

Os exames que apontaram tal resultado foram o Elisa 3 abc e reagentes EITB. O material colhido foi o sorólogico. Outro tipo de exame, o Probang, que examina a secreção raspada do esôfago, ainda não teve o resultado divulgado. Além disso, um entre os 19 animais sob suspeita foi sacrificado em Maringá e seus órgãos enviados ao Lanagro. O material (pulmão, baço, esôfago) chegou a Belém na segunda-feira, afirmou Pessuti.

Com relação aos resultados conclusivos sobre a aftosa, o secretário afirmou que deve sair apenas semana que vem. ?Não acredito que o resultado saia amanhã (hoje). Os resultados que virão na seqüência dependerão da análise laboratorial e das provas que serão feitas naquele material do animal necropsiado. Com certeza não teremos resultado antes de sexta ou sábado, então fica difícil que tenhamos resultado definitivo, conclusivo, antes do final de semana?, afirmou.

Sobre os prejuízos, especialmente do setor leiteiro, Pessuti lembrou que o Ministério da Agricultura anunciou ontem instrução normativa em que elimina exigência de que o leite que sai do Paraná seja pasteurizado, ?desde que o produto seja oriundo de área fora de risco sanitário, procedente de um estabelecimento com Serviço de Inspeção Federal (SIF) e destinado para um estabelecimento com SIF?. ?Acredito que este problema da região do ABC do leite (região dos Campos Gerais) estará equacionado a partir de hoje?, arrematou.

Seab orienta produtores a vacinarem o quanto antes

A segunda etapa da campanha de vacinação contra a febre aftosa no Paraná, lançada oficialmente ontem, em São José dos Pinhais, deve atingir 10,5 milhões de animais, entre bovinos e bubalinos. A vacinação é obrigatória, e a multa por animal não vacinado é de R$ 72,86. A campanha segue até o dia 20 de novembro e a recomendação do governo estadual é que os produtores vacinem seu gado o quanto antes.

É o que deve fazer o criador José Schulis, 76 anos, dono da propriedade onde foi lançada ontem a campanha de vacinação no Paraná. Ontem mesmo, vários animais de sua propriedade já estavam recebendo a dose. O objetivo, segundo ele, é vacinar todo o rebanho (de 150 bovinos, da raça charolês) até sexta-feira. ?O quanto antes, melhor. Se o tempo colaborar, acho que dá para terminar até quinta?, disse.

Criador de gado de corte, Schulis afirmou que ainda não está sentindo os prejuízos diretos da suspeita de febre aftosa no Paraná. Ele contou que não tem animais prontos para abate. Mas tenta vender um lote de 20 novilhas a R$ 500,00 cada, só que não acha comprador. A suspeita de aftosa não o assusta, diz. ?Vacino meu gado sempre. Acho que é um problema que vai passar logo.?

Não vacina

Sem confirmar os focos de febre aftosa no Paraná, o secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, Orlando Pessuti, fez ontem um alerta: os donos das quatro propriedades interditadas (em Amaporã, Grandes Rios, Maringá e Loanda) com suspeita de aftosa, e de todas as propriedades vizinhas a elas não devem vacinar seus animais. ?Se comprovada a febre aftosa, nós teremos que fazer a limpeza sanitária dessas propriedades, e para fazer a limpeza sanitária tem que fazer a sorologia. E se fizermos a sorologia em cima desses animais vacinados, com certeza teremos resultado falso-positivo?, afirmou o secretário, explicando que nesse caso a reação da vacina pode ser confundida com a doença. ?Nessas propriedades, estamos pedindo que aguardem as instruções da Secretaria de Agricultura?, disse. (LS)

Loanda estuda decretar estado de calamidade

Londrina (AE) – A Prefeitura de Loanda, uma das quatro cidades do Paraná interditadas por causa da suspeita de febre aftosa, deverá decretar estado de calamidade pública assim que a assessoria jurídica der o sinal verde. A informação foi dada ontem pelo prefeito Álvaro de Freitas Neto (PPS). Ele afirmou que o decreto está sendo exigido pelos produtores de leite, os maiores prejudicados até agora porque não podem comercializar o produto.

A intervenção foi imposta dia 21 de outubro e atinge também os municípios de Maringá, Amaporã e Grandes Rios, nos quais a Secretaria de Agricultura disse ter localizado 19 animais suspeitos de ter febre aftosa. Amaporã e Grandes Rios também analisam a possibilidade de decretar estado de calamidade pública. Maringá, que não depende da agropecuária, descartou a adoção desta medida. Freitas Neto disse não saber informar a quantidade de leite que está sendo jogada fora. A oficialização do estado de calamidade, explicou Freitas Neto, dará condições jurídicas para a indenização dos produtores de leite com recursos dos governos federal e estadual. Na eventualidade de ser confirmada a febre aftosa, os proprietários do gado infectado – que terá de ser abatido, assim como todos os animais da propriedade – serão indenizados.

O estado de calamidade permitirá também que a Prefeitura possa ser ressarcida das despesas com a manutenção das 21 barreiras sanitárias. Sessenta pessoas estão trabalhando nessas barreiras e a prefeitura é responsável pelo transporte e alimentação delas.

Férias coletivas e demissões preocupam Força Sindical

Brasília (ABr) A direção da Força Sindical, em conversa ontem com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, manifestou preocupação com as férias coletivas e as demissões ocasionadas após o surto de febre aftosa no estado do Mato Grosso do Sul. Os sindicalistas querem negociar com os governadores, o governo federal e o legislativo uma saída para a crise. Entre as alternativas estão o barateamento da carne bovina no país, para estimular o consumo, resguardando assim os empregos no setor, ameaçados pelos bloqueios à carne brasileira no exterior.

Liderada por Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, a Força pediu ao ministro que coordenasse uma série de reuniões com os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e com os presidentes da Câmara e do Senado, além de trabalhadores e empresários para tentar resolver a questão.

?A nossa preocupação é que essas férias coletivas vão se transformar em desemprego. Já tinha frigorífico demitindo em São Paulo e conseguimos segurar por 30 dias, mas tenho notícia de demissão no Mato Grosso do Sul. Se há um problema com a exportação, vamos tentar aumentar o consumo de carne aqui, barateando e discutindo talvez a redução de imposto para o setor. Além disso, estudar a possibilidade dos governadores liberarem o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para garantir os empregos?, afirmou.

Segundo Paulinho, o setor da carne emprega aproximadamente um milhão de trabalhadores direta e indiretamente. Ele acrescentou que ?a maioria dos frigoríficos deu férias coletivas? e há embargo da carne não só no exterior, mas em estados como São Paulo e Paraná, que não recebem mais o produto do Mato Grosso do Sul. ?Em Santa Catarina, não passa nem caminhão de bois dentro do estado. Portanto, é preciso ter compreensão também dos governadores.?

Mais 32 municípios na área de risco

Brasília (ABr) – O Ministério da Agricultura (Mapa) aumentou a área de risco sanitário do Paraná para 36 municípios por causa da suspeita de focos de aftosa no Estado. A secretaria estadual de Agricultura já havia declarado área de risco sanitário os municípios de Maringá, Loanda, Grandes Rios e Amaporã, onde foram encontrados animais com sintomas da doença no final do mês passado.

Agora, além desses quatro municípios, mais 32 cidades próximas foram definidas como área de risco. Com isso, fica proibida a saída de animais suscetíveis à aftosa, bem como o transporte de produtos e subprodutos à base de carne e de leite para outros estados. Além disso, a produção dos 32 municípios vizinhos e dos municípios dos possíveis focos só pode ser vendidas dentro do próprio Estado, e desde que seja submetida a tratamentos que matem o vírus da aftosa. Para isso, os frigoríficos têm que seguir as normas da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).

A instrução normativa que institui a área de risco sanitário do Paraná foi publicada ontem no Diário Oficial da União. A medida reforça ainda que a área interditada no Mato Grosso do Sul, no início de outubro, por causa dos focos de Eldorado, Japorã e Mundo Novo, também é considerada de risco sanitário. Os municípios de Mato Grosso do Sul que não fizerem parte da área de risco do estado, que inclui ainda Itaquiraí e Iguatemi, podem vender sua produção à base de carne e de leite para qualquer estado, com exceção de Santa Catarina. Animais vivos desses municípios também podem circular para outras áreas. O objetivo da ampliação da área de risco, segundo a instrução, é evitar a disseminação do vírus da doença para outras áreas do país.

Os 32 municípios paranaenses incluídos na área de risco sanitário são: Ângulo, Ariranha do Ivaí, Astorga, Cidade Gaúcha, Cruzmaltina, Doutor Camargo, Faxinal, Floresta, Guairaça, Guaporema, Iguaraçu, Ivaiporã, Ivatuba, Jardim Alegre, Lidianópolis, Mandaguaçu, Marialva, Marilena, Mirador, Nova Londrina, Ortigueira, Paiçandu, Paranavaí, Planaltina do Paraná, Porto Rico, Rio Branco do Ivaí, Rosário do Ivaí, Santa Cruz de Monte Castelo, Santa Isabel do Ivaí, Santa Mônica, São Pedro do Paraná e Sarandí.

Itamaraty cria força-tarefa

Brasília (AE) – O Itamaraty criou uma ?força-tarefa? para dar informações aos países que adotaram embargos à carne brasileira em razão do surgimento de focos de febre aftosa. A prioridade são os nove países que pararam de importar carne de todo o território nacional, apesar de os focos estarem concentrados em um estado – Mato Grosso do Sul. O objetivo prioritário do Nafa é convencer África do Sul Chile, Colômbia, Cuba, Indonésia, Israel, Namíbia, Peru e Uruguai a limitarem seus embargos à carne de Mato Grosso do Sul, – e não estenderem a medida à carne produzida nos demais estados como fizeram.

Paraguai defende ações conjuntas

Brasília (AE) – O embaixador do Paraguai no Brasil, Luiz Gonzales, defendeu ontem melhorias nos acordos sanitários entre os dois países como forma de combater e erradicar a febre aftosa na região de fronteira. Ele observou que o Paraguai já concorda em vacinar seu rebanho no mesmo período que o Brasil (maio e novembro), medida que já é adotada há pelo menos três anos. O presidente da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, Ronaldo Caiado (PFL-GO), sugeriu a identificação das fazendas e dos animais num raio de 50 km a partir da fronteira entre os dois países. ?Esse trabalho pode dar a nós e aos importadores de carne, tanto do Brasil, quanto do Paraguai, a garantia de que não teremos mais aftosa?.

Fiscais entram em greve segunda

São Paulo (AE) – Os fiscais federais agropecuários anunciaram que vão entrar em greve a partir da próxima segunda-feira (7). A paralisação, decidida em assembléia da semana passada, é por tempo indeterminado. A categoria é responsável pela fiscalização de zoonoses como a gripe aviária e a febre aftosa dentro do território nacional. Além disso, encarrega-se do Serviço de Inspeção Federal (SIF), que certifica os produtos agropecuários que entram e saem do Brasil. Uma paralisação prolongada da categoria tem, por isso, poder para prejudicar o desempenho das exportações brasileiras. Apenas aqueles que estão trabalhando em áreas fundamentais, como a da febre aftosa e da gripe aviária, não vão parar.

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