A safra de trigo 2001/2002 já está 70% colhida no Paraná, maior produtor brasileiro do cereal, conforme o relatório semanal divulgado pelo Deral (Departamento de Economia Rural). Segundo o órgão, a evolução da colheita está normal, já que no ano passado 76% da safra estava colhida na mesma época. Houve um pequeno atraso no plantio nesse ano por causa da estiagem. Porém o volume comercializado até agora 23% da produção prevista está menor que em igual período de 2001 (34%), apesar da saca de trigo atingir seu patamar mais alto do Plano Real na última sexta-feira, quando foi vendida a R$ 37,12 em média. O cereal variava entre R$ 35,30, em Francisco Beltrão, e R$ 39,00, em Guarapuava.
A alta do dólar provocou uma disparada histórica no preço do produto. Em janeiro, a saca de trigo custava R$ 16,73 no Paraná. Fechou setembro com o preço médio de R$ 28,61. No ano passado, a média foi R$ 15,12, mas nesse ano soma R$ 18,14 de janeiro a setembro. Na última sexta-feira, alcançou o valor mais alto da série histórica, ficando 132% acima do valor pago aos produtores no mesmo período do ano passado (R$ 16). “Os produtores esperavam que o preço podia subir mais, tentando valorizar o produto, mas agora a tendência é de manutenção dos preços. Não há expectativa de queda, pelo menos a curto prazo”, analisa o engenheiro agrônomo Otmar Hubner, técnico do Deral, salientando que a cotação dependerá muito do dólar e do mercado internacional.
Como o Brasil importa cerca de 70% do trigo consumido, os preços locais acompanham os internacionais. A quebra da safra brasileira forçou aumento de importação, colaborando para elevar os custos. Além disso, cita Hubner, o último relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) apontou redução do estoque mundial de trigo, em decorrência das quebras de produção na Austrália e Argentina, que são países exportadores. A China é o maior produtor mundial do cereal, mas mesmo assim importa para atender o consumo interno.
Safra do Paraná
Pelas estimativas do Deral, a safra 2001/2002 do Paraná chegará a 1,530 milhão de toneladas, volume 16,8% inferior às 1,840 milhões de toneladas colhidas na safra passada. A previsão inicial era chegar a 2,452 milhões de toneladas, com crescimento de 33% sobre a produção da safra 2000/2001, porém a estiagem ocorrida entre o final de maio e julho e, principalmente, as geadas de 2 e 3 de setembro, acarretaram perda de 37,6% sobre a quantidade projetada para este ano. No ano passado, a perda com geadas foi bem menor, em torno de 10%. Em 2002, a cultura do trigo foi a mais afetada pelo clima, acumulando prejuízos de R$ 572 milhões.
Inicialmente, esperava-se plantar 1.055.000 hectares de trigo nesta safra, área 21% maior que os 873.465 hectares ocupados na safra 2000/2001. Porém com as intempéries climáticas, 76.505 hectares ficaram comprometidos, representando perda de 7,3%. Devido aos problemas de seca e geadas, a produtividade média do trigo caiu de 2.100 quilos por hectare, na última safra, para 1.450 quilos por hectare. Em relação à condição da lavoura que ainda não foi colhida, 28% do trigo está ruim, 28% médio e 44% bom, informa o último relatório do Deral.
Apesar da redução de produção, o Paraná continua como principal produtor de trigo do Brasil. Como o consumo estadual é de aproximadamente 800 mil toneladas por ano, mais de 700 mil toneladas são vendidas para outros estados. Uma pequena parte do trigo foi colhida em agosto. O movimento se acentuou em setembro e termina no início em dezembro. O plantio da próxima safra começa em março.
Pão francês subiu 22%
Olavo Pesch
O reflexo mais direto da alta do trigo para a população está no preço do pãozinho. Desde janeiro, o pão francês subiu em média 22% nas 1,3 mil panificadoras de Curitiba, onde pode ser encontrado entre R$ 0,18 e R$ 0,25. Como a farinha de trigo, que representa 24% do custo final do pão, já subiu 184% nesse ano, é esperado um novo aumento ao redor de 20% no preço do pão, que poderia custar até R$ 0,30.
“Na atual conjuntura, fica difícil não repassar o aumento”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria de Panificação do Paraná, Joaquim Cancela Gonçalves. “Pedi no Sindicato que os panificadores esperem mais uns cinco dias para ver se há alguma mudança nesse cenário de turbulência, para então definir a planilha de custos dentro da conjuntura real. O que estamos vendo é muita especulação”, considera.
Gonçalves ressalta entretanto que o preço do pão é livre e que o dólar será o determinante do valor cobrado. “Cada panificador faz a sua planilha e compõe seu custo final”. No começo do ano, a saca de farinha de trigo de 50 quilos custava ao redor de R$ 20. Passou para R$ 79. Além do trigo, os derivados de soja e margarinas, que também fazem parte do pão, também foram impactados pela alta do dólar. “O pão começa a sair da mesa dos mais necessitados e está se tornando um artigo de luxo”, lamenta Gonçalves.
Pão por quilo
Dentro dos próximos meses, muitas padarias de Curitiba passarão a vender pão francês por quilo e não mais por unidade. A legislação permite às panificadoras optar por uma das duas possibilidades. “Estamos convocando os panificadores de boa índole a tomar essa postura para acabar com os maus companheiros, que vendem pão de 30 gramas como se fosse de 50 gramas”, explica Gonçalves. “O consumidor só tem a ganhar com isso, pois vai pagar pelo que realmente leva para casa”, conclui.
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