A cadeia produtiva do Paraná vive um novo suspense. Agora, não mais quanto ao laudo definitivo sobre a suspeita de febre aftosa no Estado – que deve levar mais alguns dias (ou semanas) para ser divulgado -, mas quanto à flexibilização das restrições sanitárias. De acordo com o assessor econômico do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarnes-PR), Gustavo Fanaya, a expectativa era que a nova instrução normativa (IN), em substituição à IN 34, fosse divulgada ainda ontem. Até o final da tarde, porém, o Ministério da Agricultura não havia feito qualquer anúncio nesse sentido.
De acordo com Fanaya, na manhã de segunda-feira, representantes da cadeia produtiva do Paraná que participaram da reunião com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, no sábado, enviaram documento a Brasília contendo o pleito do Estado. ?Está para sair hoje (ontem), mas vindo de Brasília pode demorar um dia ou mais?, comentou. Matéria da Agência Estado, divulgada ontem no O Estado do Paraná, dizia porém que, segundo o ministro Rodrigues, a flexibilização não aconteceria imediatamente.
A principal reivindicação do setor é que a área considerada de risco sanitário – 36 municípios do Paraná – seja reduzida para um raio de apenas 10 quilômetros a partir das quatro propriedades suspeitas (em Amaporã, Loanda, Grandes Rios e Maringá). Com isso, alguns municípios ficariam apenas parcialmente interditados. ?O Ministério da Agricultura entende que houve excesso de conservadorismo?, disse.
Sobre os novos exames que serão feitos – amostras de 211 animais serão novamente analisadas -, Fanaya afirmou que técnicos do Ministério da Agricultura não conseguem chegar à conclusão sobre qual seria o problema que resultou em sintomas semelhantes ao da aftosa. ?Material ?bom? para eles é um material extremamente infectado, porque o que se olha é o vírus e não a ausência dele. Daí a negatividade até agora?, comentou.
Fraude
O vice-governador e secretário de Agricultura, Orlando Pessuti, disse que já são mais de 200 exames com laudos negativos realizados até o momento para identificar o vírus da febre aftosa no Paraná. ?Nenhum deles deu positivo?, afirmou Pessuti durante a reunião Escola de Governo ontem, em Curitiba. Pessuti contestou informações divulgadas por veículos de comunicação de circulação nacional de que o Paraná teria fraudado exames de comprovação de febre aftosa.
?Foi coletado material de cerca de 15 mil animais, alguns reagiram positivamente, mas não foi constatada a doença. No total, foram concluídos cerca de duzentos exames, mas nenhum deles atestou a presença da febre no Estado. Em nenhum momento houve qualquer tipo de fraude, pois não pretendemos colocar nenhuma sujeira debaixo dos tapetes?, afirmou.
Pessuti declarou ainda que o Paraná está pagando um preço terrível pelo surgimento da febre aftosa no Mato Grosso do Sul, mas que mantém um serviço de agropecuária bastante qualificado, o que o ajuda a manter a doença distante. ?Ontem (anteontem), obtivemos um primeiro balanço da campanha de vacinação iniciada no Estado e constatamos que pelo menos 80% do rebanho paranaense já está vacinado?, informou.
Governo contrata 180 agrônomos e 320 veterinários
O Diário Oficial da União publicou ontem a portaria interministerial n.º 329, que autoriza o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a contratar emergencialmente 500 profissionais da área de agronomia e medicina veterinária. Eles vão atuar na vigilância e inspeção relacionadas à defesa agropecuária nos portos e aeroportos, visando minimizar os impactos da paralisação dos fiscais federais agropecuários. O edital com informações completas sobre o processo seletivo deve sair no Diário Oficial ainda esta semana.
Serão contratados pelo Mapa, por meio de processo seletivo simplificado, 180 engenheiros agrônomos e 320 médicos veterinários, com uma remuneração mensal de R$ 3.770,00. Segundo a portaria, assinada pelos ministros da Agricultura, Roberto Rodrigues, e do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, o prazo de contratação dos profissionais será de 60 dias, a partir da data da assinatura dos contratos, podendo ser prorrogado, desde que sua duração não ultrapasse o prazo de dois anos.
A greve dos fiscais começou no dia 7 de novembro em todo o território nacional. Entre as reivindicações, os fiscais querem reajuste salarial e isonomia da Gratificação de Desempenho da Atividade entre ativos, aposentados e pensionistas.
Argentina amplia embargo para carne e derivados
A Argentina anunciou ontem que vai endurecer o embargo de carnes e derivados brasileiros. Em vez de deixar de comprar produtos originários dos cinco municípios do Mato Grosso do Sul onde foram encontrados focos da doença, o país vizinho resolveu estender a proibição aos produtos de todo o Mato Grosso do Sul e também para o Paraná, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A decisão surpreendeu o Ministério da Agricultura num momento em que o governo e o setor privado ainda comemoravam a decisão de Israel, de retomar parcialmente o comércio de carnes e derivados com o Brasil. Os israelenses, que compraram 1,4% da carne exportada pelo País de janeiro a agosto deste ano, haviam bloqueado totalmente suas importações, mas, na segunda-feira, anunciaram que manteriam a proibição apenas para Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo.
Num dia de más notícias, Líbano e Marrocos anunciaram a suspensão da compra de produtos brasileiros, elevando para 51 o número total de mercados fechados total ou parcialmente desde o início da crise. De acordo com balanço da Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio divulgado ontem, o Líbano suspendeu as compras de ruminantes, suínos e carnes bovina e suína do Mato Grosso do Sul, restrição que vale desde o dia 10 de novembro. Já o Marrocos proibiu as compras de carne bovina de três estados: Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, limitação que vale desde o último dia 16.
Novo foco
Além do mais, o Ministério da Agricultura confirmou ontem mais um foco de aftosa no Mato Grosso do Sul. Com esse, já são 25 os casos confirmados da doença no estado. O novo caso foi descoberto na área interditada do estado, que fica no extremo sul, no município de Mundo Novo.
