Paralisação no Porto dá prejuízo de US$ 15 milhões

A paralisação das atividades no Porto de Paranaguá, iniciada às 7h da manhã de ontem, representou um prejuízo de US$ 15 milhões para os segmentos envolvidos na atividade portuária. Segundo a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), 75 mil toneladas de mercadorias deixaram de ser movimentadas para exportação e importação. O montante das perdas foi calculado com base no valor das mercadorias e da demurrage (estadia pelo tempo de espera do navio), que é de US$ 50 mil/dia, mas não considerou as multas por quebras contratuais. Porém o prejuízo no porto pode chegar a US$ 50 milhões/dia, conforme estimativa extra-oficial que circulava entre os operadores portuários.

Segundo o balanço divulgado pela Appa, cerca de 6 mil trabalhadores dos segmentos ligados ao porto deixaram de trabalhar ontem, em protesto contra a administração portuária. O movimento – decidido na quinta-feira, em reunião no Sindicato dos Operadores Portuários (Sindop) – pede a substituição da diretoria da Appa. Em entrevista a uma rádio local, na quinta-feira à noite, o governador Roberto Requião descartou a possibilidade de afastamento do superintendente da Appa, Eduardo Requião, que é seu irmão.

Por causa da paralisação, que reuniu operadores, empresários, trabalhadores e políticos, nenhum embarque foi realizado. Quatorze navios estavam atracados em Paranaguá e dois em Antonina. Há 46 navios ao largo. Nas próximas 48 horas, está prevista a chegada de mais 21 navios. Pela manhã, centenas de manifestantes se concentraram no portão principal da Appa, com carros de som, faixas e queima de pneus. Viaturas da Rone (Ronda Especial de Natureza Especial) se deslocaram ao porto, mas não houve incidentes. Houve passeata pela cidade. Comerciantes fecharam as portas de seus estabelecimentos e a empresa de transporte coletivo suspendeu por uma hora a circulação de ônibus na cidade. O governo do Estado anunciou que vai processar a empresa pela paralisação.

À tarde, a Appa convocou uma reunião para negociar com os sindicatos grevistas, mas nem todos enviaram seus representantes e não houve avanço. No Sindop, as entidades contrárias à atual gestão da Appa participaram de outra reunião, para discutir a continuidade do movimento. Até o fechamento dessa edição, a informação era que a paralisação não seria interrompida. A Appa informou que aguarda o posicionamento dos operadores e ameaça buscar na Justiça o ressarcimento dos prejuízos de ontem. A Paranaguá Pilots, empresa responsável pela praticagem dos Portos de Paranaguá e Antonina, não participou da paralisação, já que a legislação proíbe a praticagem de paralisar seus serviços sob qualquer pretexto.

Embate

Enquanto os operadores portuários e sindicatos de trabalhadores alegam “total incompatibilidade com a atual equipe administrativa da Appa com a comunidade portuária de Paranaguá”, o superintendente da Appa, Eduardo Requião, culpa os operadores pelo problema. Ele relata que, após quatro meses de trabalho conjunto com o Ministério dos Transportes e os caminhoneiros, mudou-se a logística do porto. Uma ordem de serviço determinou que os operadores portuários nominassem as cargas exportadas e só liberassem os caminhões no interior cuja mercadoria já estivesse vendida, já que a capacidade de silagem é limitada a 1,1 milhão de toneladas.

“Durante os meses de janeiro e fevereiro, o porto atendeu mais que o dobro do número de caminhões do ano passado, sem nenhuma fila, mas a resistência à mudança é muito grande. Exportadores e operadores, de má fé, convocaram 3 mil caminhões para descer a Paranaguá sem ter local para colocar a carga e sem navio na fila de entrada. Isso mexe com a credibilidade do Porto, mexe com o valor da soja e do prêmio, porque cria uma insegurança”.

O superintendente criticou a conotação política da paralisação. “São pessoas manipuladas pelo capital, pelos grandes empresários, que não são representantes diretos das categorias”.

Ameaça de greve nacional

Com a paralisação no Porto de Paranaguá, a fila de caminhões voltou a crescer ontem. No início da noite, o final estava no km 98 do Contorno Leste, em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba. Em função da dificuldade de negociação com os operadores, os caminhoneiros não descartam o início de uma paralisação nacional pelo Paraná, informou Neuri Leubert, coordenador do Movimento União Brasil Caminhoneiro.

Por determinação do governador Roberto Requião, a Defesa Civil colocou reservatórios móveis de água potável em quatro pontos da estrada, distribuiu três mil sanduíches e refrigerantes.

Segundo Leubert, o caminhoneiro não quer receber estadia. Os caminhoneiros pedem R$ 1 por tonelada/hora após 24 horas de espera na fila. Hoje, há empresas que pagam R$ 0,15 por tonelada/hora após 72 horas de aguardo no pátio de triagem. (OP)

Assembléia protocola pedido de CPI

A crise no Porto de Paranaguá foi o empurrão que faltava: o deputado Valdir Leite (PPS) protocolou, ontem mesmo, o requerimento para criação da CPI do Porto, que ele havia anunciado no início da semana. O documento contém 18 assinaturas, o número mínimo exigido pelo Regimento Interno da Casa para sua apresentação. Na segunda-feira (22) o pedido passa pelo Departamento Legislativo e, a partir daí, a Mesa pode abrir prazo para que as lideranças de bancadas indiquem os membros da comissão. A praxe é entregar a presidência da CPI ao parlamentar que propôs sua criação.

A Assembléia já tem outros dois pedidos de CPI protocolados, a das Universidades e a da Terra, ambas aguardando as indicações de nomes para sua instalação. Conforme o Regimento Interno, podem ser instaladas até cinco comissões simultâneamente, o que ocorreu no ano passado, com as CPIs do Banestado, da Copel, do Pedágio, dos Jogos da Natureza e a da ParanaCidade. Destas tiveram resultados efetivos apenas as do Banestado e da Copel, que geraram prisões, quebras de sigilo bancário e fiscal e cancelamento de contratos considerados irregulares.

Os relatórios das comissões são encaminhados ao Ministério Público para as providências cabíveis. Elas também têm poder para requerer documentação oficial, convocar autoridades para depor e apelar à Justiça sempre que julgarem necessário.

A criação da CPI não é um ponto pacífico dentro da bancada do PPS, que integra a base de apoio ao governo na Assembléia. O líder, deputado Marcos Isfer, chegou a sugerir a criação de uma Comissão Especial de Investigação, de atuação mais restrita, para examinar as denúncias apresentadas pelo correligionário. Segundo ele, as divergências eram principalmente de cunho técnico-administrativo, e podiam ser resolvidas sem maiores traumas.

A comissão executiva regional do PPS, entretanto, não se opôs à CPI. Pelo contrário. Quando Leite cedeu a argumentação da liderança do governo e adiou a apresentação do requerimento, embora já tivésse apoio suficiente para isso, o PPS marcou uma reunião para segunda-feira (22), e convidou o parlamentar para explicar as razões do recuo.(Sandra Cantarim Pacheco)

Suspensa greve de fiscais agropecuários

Os fiscais federais agropecuários suspenderam ontem (19) a greve iniciada na última segunda-feira, após a reabertura das negociações com o governo. A Associação Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (ANFFA) divulgou documento suspendendo a paralisação até o dia 29. Nesta segunda-feira, estarão reunidos os Ministérios da Agricultura, Casa Civil, Planejamento, a Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados e a Associação Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (ANFFA) para discutir propostas de reajustes da categoria.

Cerca de US$ 500 milhões em produtos agropecuários deixaram de ser exportados durante os cinco dias de greve da categoria. Ficaram parados nos portos e aeroportos pescados, soja, carnes, frutas, açúcar e álcool, entre outros produtos.

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