Paraguai volta ameaçar sair do Mercosul

Londrina (AE) – Se depender do jornal ABC Color, de Assunção, ou o Brasil renegocia o tratado de Itaipu com o país vizinho ou o Mercosul terá um país a menos – o Paraguai. Historicamente crítico em relação aos termos do tratado, assinado em 1973 pelos governos militares dos dois países, o ABC Color, jornal de maior circulação no Paraguai, intensificou os ataques ao relacionamento entre os dois países desde que Evo Morales assumiu o poder na Bolívia, no início deste ano, e deu início à revolução política e econômica que culminou com a estatização das reservas minerais, atingindo diretamente a Petrobras, maior investidora daquele país. Se a Bolívia tem o direito de reconquistar sua maior riqueza, representada pelas reservas minerais e de energia, por que o Paraguai não pode recuperar seu maior patrimônio, que é o potencial hidrelétrico do rio Paraná? – argumenta o jornal em sucessivos editoriais e reportagens.

No domingo e segunda-feira as críticas do jornal subiram ainda mais de tom. Um suplemento especial foi dedicado ao tema com o sugestivo título ?Itaipu ou Mercosul? e o editorial classificava o endividamento de Itaipu como uma ?trampa financiera? (armadilha financeira) para o Brasil – que o jornal acusa de ?imperialista? usando como argumento a Guerra da Tríplice Aliança – se apropriar de toda a empresa. O endividamento, próximo dos US$ 20 bilhões, cresceu US$ 3 bilhões nos últimos dez anos por causa de itens ?espúrios? acrescentados à dívida e à ?desmedida? taxa de juros de 12% ao ano cobrada pela Eletrobrás, principal credora da hidrelétrica.

Com essa taxa, argumenta o jornal, Itaipu não conseguirá saldar sua dívida até o ano de 2023, data que o tratado estabelece como limite para que a empresa esteja paga e o Paraguai possa dispor livremente da energia que lhe correspondente na hidrelétrica. O Paraguai se queixa que, além de não poder comercializar o excedente de energia com outros países – como o Brasil tem feito com a Argentina -, recebe menos do que deveria pela energia que repassa ao Brasil. Segundo o ABC Color, essa energia rende ao país US$ 250 milhões ao ano, ou ?apenas 8%? do valor que deveria receber. ?Todos os bens e serviços da região podem ser comercializados livremente ao preço de mercado, menos a energia paraguaia de Itaipu?, enfatiza o jornal.

Os negociadores do tratado de Itaipu são ?traidores da pátria?, afirmou o ABC em seu editorial de segunda-feira. Para reforçar esse argumento, o engenheiro Oscar Gómez, ex-diretor da binacional que perdeu o emprego após se rebelar contra os termos do tratado, disse que tem apoio de juristas e congressistas para levar o tema para uma corte internacional de Justiça.

O governo paraguaio, que já comunicou ao Brasil sua disposição de negociar acordos de livre comércio com países que não integram o Mercosul, não tem se manifestado sobre a campanha do ABC Color, mas diversos parlamentares, a maioria de oposição, defendem a revisão do tratado e a renegociação da dívida de Itaipu. O deputado Eduardo Nery Huerta, do partido de oposição Pátria Querida, defende que a dívida da hidrelétrica seja discutida ?urgentemente? pelos dois países. E o senador Miguel Abdón Saguier, do Partido Liberal Radical Autêntico, que integra o governo, diz que o Paraguai ?não pode nem deve continuar aceitando as migalhas dos benefícios de Itaipu?.

Recentemente, uma comitiva de deputados visitou o Congresso brasileiro para pedir apoio para que as finanças de Itaipu sejam fiscalizadas pelos tribunais de contas dos dois países (o tratado estabelece a autonomia financeira da empresa). A chancelaria paraguaia, segundo o jornal, tentou sem êxito incluir Itaipu na pauta a ser discutida com o chanceler brasileiro Celso Amorim, que era esperado em Assunção no final de semana. Amorim cancelou a viagem. ?A miopia imperialista do governo do Brasil?, advertiu o ABC em seu editorial de domingo, ?(…) não vê que, semeando injustiças, somente poderá num futuro cada vez mais próximo colher infortúnios e animosidades entre os dois povos?.

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