Mesmo com o etanol envolvido na disputa entre Estados Unidos e China, a União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica) vê mais riscos do que vantagens para o Brasil com a briga entre os dois gigantes. Para a associação, o País não tem álcool excedente para exportar e o etanol que a China deixará de importar dos Estados Unidos vai “sobrar” no mercado e poderá ser desviado para o Brasil.

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“No curto prazo, não há benefício”, afirmou Eduardo Leão de Sousa, diretor executivo da Unica. Ele explica que, atualmente, o Brasil consome perto de 28 bilhões de litros de etanol ao ano e exporta 1 bilhão de litros. “Não há excedentes que possam se beneficiar do vácuo do etanol americano no mercado chinês no curto prazo.”

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Os Estados Unidos, por sua vez, têm uma produção maior do que o consumo em 4 bilhões de litros ao ano. E havia três destinos para escoar esse excesso: Brasil, Canadá e China. “Para onde vai esse etanol? Isso vai causar uma desorganização do mercado.”

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No médio e longo prazos, há uma grande incógnita pairando sobre o mercado de etanol. A China anunciou que pretende misturar 10% de etanol à gasolina. Com isso, o consumo do produto saltará de 4 bilhões para 20 bilhões de litros.

Num primeiro momento, o país vai se abastecer com sua própria produção. Pretende utilizar, para isso, o etanol produzido a partir de um estoque de 200 milhões de toneladas de milho que, na sua maior parte, é impróprio para consumo humano ou animal. Não se sabe como o mercado será suprido depois de usado esse estoque.

“Isso abre uma perspectiva para os países exportadores de etanol, como os Estados Unidos e o Brasil”, disse Leão. Mas, para isso, seria importante a China estabelecer regras que dessem previsibilidade aos produtores.

A China já havia elevado as tarifas de importação do etanol americano de 5% para 30% no início do ano passado. No início desta semana, a tarifa foi elevada para 45%.

Mercosul-UE. A escalada de medidas protecionistas entre os Estados Unidos e a China aumenta a pressão para que Mercosul e União Europeia acelerem um acordo de complementação econômica. O efeito prático, porém, tende a ser “marginal”, segundo avalia fonte do governo próxima à negociação.

Desde o início da administração de Donald Trump, que fez a campanha eleitoral defendendo medidas unilaterais de comércio, europeus e sul-americanos tentam se colocar como um contraponto na defesa do livre-comércio e do multilateralismo. O fechamento do acordo seria um marco importante nessa direção.

As negociações, porém, ainda não estão concluídas. No momento, o plano é realizar uma reunião técnica ainda este mês para fechar uma proposta que possa ser discutida pelos ministros das duas regiões. Data e local não foram definidos. A discussão deverá ficar restrita aos temas “mais centrais”, que envolvem o acesso a mercados.

No caso do açúcar, por exemplo, as discussões estavam num impasse porque os europeus fizeram uma oferta considerada “modesta”. Eles se propõem a importar 100 mil toneladas anuais do produto. Porém, vão aplicar uma tarifa de ¤ 98 por tonelada, o que simplesmente inviabiliza a venda para aquele mercado. O governo tem mantido segredo nessa etapa, que supostamente é uma reta final dos entendimentos.

No caso do etanol, os europeus se propuseram a importar 600 milhões de toneladas por ano do produto para uso como combustível.

O diretor da Unica disse que é um volume razoável para esse segmento. Porém, quer aumentar a venda do etanol para uso pela indústria química.