A ordem na Petrobras é praticar o desapego. Com o caixa pressionado e um vultoso programa de investimentos, a estatal aposta na redução de custos para retomar a disciplina financeira. Uma alternativa encontrada pela companhia é intensificar a venda de materiais e equipamentos em desuso, incluindo desde disjuntores, lâmpadas, utensílios de cozinha, sucatas, carros e até embarcações antigas. De janeiro a agosto, a estatal ampliou em 60% o volume de produtos colocados em leilão na comparação com o último ano.

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Apesar do esforço, os resultados ainda não provocaram o esperado alívio no caixa da empresa. O retorno obtido com os leilões no período foi 34% menor que nos oito primeiros meses de 2013. Para uma companhia com programa de investimentos de R$ 94 bilhões neste ano, o empenho para a arrecadar R$ 14 milhões, até agosto, dá a dimensão do seu constrangimento financeiro.

Funcionários de diferentes unidades operacionais relatam a diretriz da empresa para encontrar itens em desuso que possam ser incluídos nos leilões. Até agosto, foram 731 lotes de materiais disponíveis para venda, ante 457 no último ano. Na lista, que o jornal “O Estado de S. Paulo” teve acesso via Lei de Acesso a Informação, há desde luvas, cordas, cabos e parafusos, até disjuntores, material de escritório, de informática e mesmo bicicletas ergométricas e uma ambulância.

Há também equipamentos operacionais e de manutenção, comprados sob medida para os projetos da companhia. Entre os itens estão válvulas, turbinas, carretéis, peças de motor, entre outros. Pela especificidade, esses produtos têm menor saída nos leilões, voltado para empresas do setor. Aqueles que recebem mais atenção de compradores são, em geral, veículos que integraram a frota da companhia, com preços que não passam de R$ 6 mil.

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Em média, os descontos são de 40% sobre o valor de mercado. O item mais caro oferecido neste ano é um lote de sucata de hastes, orçado em R$ 2,6 milhões. Os itens com valores mais altos, em torno de R$ 300 mil, são de sucatas de ferro e alumínio, por exemplo, ou um lote de utensílios de cozinha e veículos.

Procop

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É a própria Petrobras quem define os preços dos itens disponíveis. Em média, em 2013, a estatal arrecadava R$ 58,2 mil por lote de produtos colocado à venda. Já nos oito primeiros meses deste ano, a Petrobras arrecadou apenas R$ 20,1 mil por lote, apesar do maior número de produtos. Segundo a companhia, a diferença se deve à composição e atratividade dos lotes no mercado.

A estatal confirma uma “intensificação da identificação de materiais obsoletos ou inservíveis no estoque, para posterior encaminhamento ao processo de alienação”. A medida integra um conjunto de “ações estruturantes” do Programa de Otimização de Custos Operacionais (Procop), considerado uma das marcas positivas da gestão de Graça Foster. No primeiro semestre, a iniciativa já economizou R$ 4,9 bilhões, 39% acima da meta estabelecida pela empresa.

O programa prevê também o “compartilhamento” e a “reanálise” de estoques. A economia com a venda dos produtos, de acordo com a estatal, representa “o custo de capital evitado como consequência da redução do estoque da companhia”. Em nota, a Petrobras informou que “são alienados os materiais inservíveis previamente submetidos à análise/avaliação por todas as áreas de materiais, visando seu aproveitamento em projetos ou operações”.

Os leilões são realizados pela internet por diferentes empresas previamente contratadas, que auxiliam na identificação e precificação dos itens. Entre as unidades que mais contribuíram, estão Bahia, Sergipe, Alagoas e Espírito Santo Pela norma da empresa, os preços começam em um patamar de descontos de 20%. Caso não haja interesse, a companhia realiza novos leilões ampliando a margem de descontos até conseguir se desfazer dos estoques.

Sócio de uma das empresas responsáveis pelos leilões, Pedro Barreto afirma que em todo o último ano foram realizados oito vendas da estatal. Este ano, a previsão é chegar a 20. “O programa está grande, faz parte de seu saneamento. A venda não é a função da empresa, não é seu foco. Mas há um empenho em otimizar esses estoques”, afirma Barreto.