O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, negou ontem que as medidas de restrição à entrada de capitais no Brasil sejam controle de capital. “Alguns chamam de controle de capital, mas nós chamamos de medidas macroprudenciais [políticas econômicas de prevenção de riscos]”, declarou, durante audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos).

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Tombini se referia tanto às atuações do BC no mercado de câmbio quanto ao aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para investidores estrangeiros e para empréstimos tomados por empresas e bancos brasileiros lá fora. Ontem, o dólar fechou cotado a R$ 2,057, aumento de 1,63%, a maior cotação desde 18 de maio de 2009, quando encerrou a R$ 2,076.

A atuação do Banco Central, que voltou a ofertar dólar no mercado futuro via swaps cambiais (operação equivalente à venda de dólar no mercado futuro), não foi suficiente para conter a alta da moeda.

Spread

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Tombini afirmou que os spreads bancários (diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar recursos no mercado e o que cobram de consumidores e empresas) estão caindo, mas que esse processo ainda está “no início”. “Esse processo [de redução dos spreads] está ocorrendo, mas ainda está no início”, declarou.

Em abril, segundo dados do BC, o spread nas operações destinadas a consumidores caiu 1,9 ponto percentual, e o de empresas se reduziu em 0,9 ponto percentual. No início do mês retrasado, o governo pressionou os bancos públicos, Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, a reduzirem suas taxas de juros. As quedas fizeram com que os bancos privados fizessem o mesmo, para evitar a perda de clientes.

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Cruzeiro do Sul

Tombini afirmou que o banco Cruzeiro do Sul -que está sob intervenção por problemas na contabilidade e no descumprimento de normas do sistema financeiro, com rombo detectado de R$ 1,3 bilhão- é um caso isolado. De acordo com ele, os bancos pequenos e médios -há 128 hoje no Brasil- representam cerca de 17% dos ativos, 13% da carteira de crédito e 15% dos depósitos bancários, e possuem um nível de capital satisfatório. “O Banco Central não faz papel de avestruz. Identificados os problemas, ele atua”, declarou.

Ele declarou ainda que não é incomum se encontrar casos de instituições financeiras que burlam as normas do Banco Central. “Nos deparamos com essas situações, que são aprofundadas, relatadas a outros órgãos e denunciadas ao Ministério Público Federal. Esse é o nosso cotidiano”, declarou Tombini.

“Instituições que estão funcionando podem tropeçar e descumprir normas do conselho monetário do Banco Central. Sempre que detectadas, atuamos e fazemos as denúncias caso a caso”, completou. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo de hoje mostrou que, dois anos antes de decretar intervenção no banco, o BC informou à Justiça que a instituição havia se tornado “grande “lavanderia’ de dinheiro das mais diversas origens e de forma premeditada”.

As movimentações atípicas do banco se deram por meio do Clube Alta Liquidez, fundo de investimento criado em 2001 -o Cruzeiro do Sul mantinha suas quatro contas. Para o Banco Central, o fundo foi constituído “com o objetivo claro de acobertar movimentação financeira de interesse de terceiros, visando lavagem/branqueamento de dinheiro”. O Cruzeiro do Sul alega que seguiu a política do “conheça seus clientes” e que não tinha por que desconfiar deles.

O banco não quis se manifestar sobre o fundo Alta Liquidez. Na Justiça, tenta anular uma multa de R$ 200 mil aplicada na esfera administrativa pelo BC. Para o Banco Central, o banco foi “complacente com operações que podem estar relacionadas a atividades criminosas”.