O ex-ministro e atual presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), Marcus Vinicius Pratini de Moraes, reagiu duramente às declarações do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, de que os frigoríficos brasileiros exportaram carne não rastreada para a União Européia. "O governo deu um tiro no próprio pé ao dar declaração como essa. O próprio Ministério da Agricultura está se dobrando ao embargo europeu", disse.
"Eu só posso aplaudir a iniciativa do ministro de dar essa declaração" ironizou. "Mas convém chamar o governo aos seus próprios serviços. Acho bom que o ministro reconheça as deficiências do processo de rastreabilidade, mas cabe a ele também cuidar das questões diplomáticas", disse Pratini.
"Hoje eu tenho certeza disto: eles (frigoríficos) exportaram para a União Européia carne rastreada e não rastreada", afirmou Stephanes, durante audiência na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado.
Segundo o ex-ministro, é provável que carne não rastreada tenha embarcado para o continente europeu, uma vez que há pequenos produtores que exportam carne apenas eventualmente e que não possuem os rebanhos rastreados. "Há pecuaristas que não exportam com freqüência e por isso não rastreiam seus rebanhos. Mas posso garantir que os frigoríficos associados à Abiec não exportaram carne não rastreada à União Européia", disse. A entidade reúne em torno de 20 grandes frigoríficos brasileiros.
O Brasil exportou em janeiro passado US$ 146 milhões em carnes para os países da UE. Em 2007, as exportações de carne brasileira para o bloco totalizaram US$ 1,1 bilhão, de acordo com números do governo federal. As perdas com o embargo europeu à carne bovina brasileira, decretado pela UE no final de janeiro podem chegar a US$ 80 milhões.
Procurados pela reportagem, os frigoríficos JBS Friboi e Independência, grandes exportadores de carne fresca, preferiram não se manifestar a respeito das declarações do ministro Reinhold Stephanes.