O anúncio ocorrido ontem da elevação para 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) dos empréstimos tomados no exterior com prazos inferiores a dois anos ficou abaixo do esperado pelos analistas. Para o professor associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samuel Pessoa, o Ministério da Fazenda não adotou ações mais fortes porque está nitidamente preocupado com a inflação.
“Esperava-se que o governo fosse adotar um prazo maior para a alta do IOF em relação às captações de recursos no exterior com gradual redução da taxa de 6% para períodos mais longos que três anos”, disse. “O governo tem medidas bem mais fortes. Mas precisa da cotação forte do real ante o dólar para ajudar a conter a alta dos preços.”
Para Pessoa, o governo criou uma expectativa no mercado de que poderia adotar medidas vigorosas para coibir a valorização do real, mas optou por anunciar ações mais brandas. “Além do IOF de 6% para captações de dois anos, aguardava uma queda gradual da taxa, que seria mais ou menos a seguinte: o imposto chegaria a 4% para o prazo de três anos, 2% para quatro anos e a partir de cinco anos seria isento de IOF.”
Na mesma linha, o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, acredita que a medida pode atenuar os ingressos de recursos estrangeiros no País, mas não de forma relevante. Ele diz que a medida em si não chega a ser uma novidade, porque desde a semana passada o mercado já esperava que o Ministério da Fazenda fosse adotá-la. Velho entende que, ao elevar o IOF sobre essas operações, o ministro Guido Mantega manda ao mercado o recado de que o País continuará a trabalhar, na prática, com o regime de câmbio administrado, em vez do regime flutuante em vigor de fato. “O BC e o governo não irão utilizar o câmbio para ajudar no combate à inflação ou eles deixariam o câmbio flutuar mais”, afirmou.
Para diretor da corretora NGO, Sidney Nehme, a medida parece ter como objetivo arrecadar mais tributos porque, inevitavelmente, atingirá os investidores que não estão entrando no País apenas para ganhar com os juros altos. “O ministro nem esperou o resultado do aumento da tributação para operações de um ano. Deveria deixar maturar um pouco mais”, afirmou. Com informações do jornal O Estado de S. Paulo.