Os aspectos políticos, que emperram o andamento da reforma da Previdência no Congresso Nacional, são o principal peso sobre as incertezas que levaram à paralisia da economia no primeiro trimestre deste ano, na avaliação do pesquisador Claudio Considera, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), coordenador do Monitor do PIB. Mais cedo, a FGV informou que o Monitor do PIB aponta para uma queda de 0,1% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre ante o quarto trimestre de 2018.

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“O comportamento político do governo causou confusão. O País está estressado. Todo dia tem confusão”, afirmou Considera.

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Para o pesquisador, o quadro de “compasso de espera” da economia não é novo, está desenhado há dois anos. A particularidade do cenário do primeiro trimestre é que ele tem um gosto de frustração, pois se segue a quadro de expectativas positivas após as eleições de outubro do ano passado – os ativos negociados em Bolsa se valorizaram, a confiança avançou, lembrou Considera.

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“A equipe econômica é ótima, qualificada, todas as expectativas eram positivas e isso se inverteu em três meses”, disse Considera.

Os dados desagregados do Monitor do PIB apontam para uma alta de apenas 0,4% na formação bruta de capital fixo (FBCF, conta dos investimentos no PIB) no primeiro trimestre ante igual período de 2018, sinalizando uma grande perda de ritmo. No trimestre móvel findo em agosto de 2018, a FBCF crescia a 8,5% ante igual período do ano anterior. E dentro da FBCF, o desempenho de máquinas e equipamentos passou de uma alta de 26,4% no trimestre findo em agosto de 2018 para 0,5% no primeiro trimestre desse ano.

Na comparação do primeiro trimestre com o quarto trimestre de 2018, os investimentos em máquinas e equipamentos tombaram 5,0%, informou Considera. A interrupção dos investimentos industriais em bens de capital é sinal, segundo o pesquisador, da elevação da incerteza do setor privado em relação aos rumos da economia.

Calma

Para Considera, “precisa ter calma no País” para que os investimentos privados sejam retomados, não só na indústria, mas também na infraestrutura, atraindo capital internacional. Na visão do pesquisador do Ibre/FGV, a recuperação cíclica da economia se dará via investimentos, que puxarão a produção industrial, os serviços e, aí sim, gerarão emprego e renda capazes de ampliar a demanda via consumo.

E esse investimento, diz Considera, deve ser privado, pois os governos, em todas as esferas, estão quebrados e não há espaço fiscal para investimentos públicos. Nesse sentido, “não faz nenhum sentido” uma nova rodada de cortes na taxa básica de juros (Selic, hoje em 6,5% ao ano) com o objetivo de estimular a demanda, disse Considera.

“Espero que os resultados ruins do primeiro trimestre mostrem que esse comportamento (do governo) tem que ser alterado, sob o risco de haver um tombo na economia neste ano”, afirmou Considera.

Na visão do pesquisador, a reforma da Previdência “não é suficiente, mas é condição necessária” para que a recuperação cíclica via investimentos seja retomada. Dessa forma, conclui Considera, as reformas não podem parar na Previdência, mas a alteração nas regras de aposentadoria é um primeiro passo que deve ser dado logo.