Brasília
e São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu aumentar a Selic para 22% ao ano, sem viés. O mercado já apostava em alta de até um ponto percentual na taxa básica de juros. Em reunião extraordinária em outubro, o Copom aumentou a Selic de 18% para 21% ao ano. Na reunião ordinária no fim do mês passado a taxa ficou inalterada.“O aumento da expectativa de inflação para 2003 levou o Copom a aumentar a taxa Selic para 22% ao ano”, disse o comunicado do Banco Central divulgado ontem. A próxima reunião ordinária do Copom está marcada para os dias 17 e 18 de dezembro. Como a nova taxa não tem viés, para alterar a Selic antes dessa data é preciso outra reunião extraordinária.
O economista Miguel de Oliveira, presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Contabilidade e Administração (Anefac), acredita que o aumento do juro básico da economia deve ser repassado para o crédito ao consumidor final. Porém, na avaliação dele, o repasse não será generalizado, pois o juro ao consumidor está bastante alto e tem gordura para ser queimada.
– Normalmente, quando há um aumento no juro básico, as instituições repassam para o consumidor. Mas como as taxas estão muito altas e têm gordura, muitos bancos e instituições de crédito vão manter o juro atual para não desaquecer ainda mais as vendas – afirmou.
Segundo pesquisa da Anefac divulgada na última segunda-feira, as taxas de juros ao consumidor passaram de 8,18% ao mês em setembro para 8,22% em outubro – uma alta de 0,49%. Na média, os agentes financeiros não repassaram integralmente ao consumidor o aumento da Selic de 18% para 21%. Segundo Oliveira, se o repasse tivesse sido integral o juro médio mensal ao consumidor ficaria em 8,39%. Oliveira defendia que a Selic não fosse aumentada. Para ele, a inflação atual é de custos, provocada pela alta do dólar, e não por excesso de demanda, o que tornaria sem efeito sobre os índices de preço qualquer alta na taxa Selic.
Impacto no consumidor
O presidente da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), Ricardo Malcon, disse que o juro ao consumidor deve subir com a alta da taxa básica (Selic) em um ponto percentual.
– O custo da parcela mensal dos contratos vai subir e o repasse será inevitável – afirmou. Apesar disso, o Banco Central agiu corretamente ao aumentar a Selic para 22%, segundo o presidente da Acrefi. Ele disse que todos os índices de inflação apontam alta para 2003 e o governo não tinha outra opção. Malcon lembrou ainda que a demanda estará mais aquecida a partir do final deste mês com a chegada da primeira parcela do 13.º salário.
– Poderia até se contar com o desaquecimento do consumo, mas a parcela do 13.º salário não vai deixar isso acontecer. Quando o juro será repassado isso ninguém sabe. Dependerá muito do estoque que as instituições têm, ou seja, quanto elas conseguiram captar com a taxa ainda em 21%. Mas que vai acontecer isso vai. Pode demorar uma semana, mas os juros vão aumentar – afirmou.