A incerteza do período eleitoral ficou para trás, mas os rumos do investimento na economia brasileira ainda devem levar tempo para mudar. A expectativa é de melhora no segundo semestre de 2015, mas crescimento mesmo só virá em 2016, segundo analistas e representantes setoriais ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Com a confiança em baixa, o empresariado manterá o pé no freio até receber um sinal firme de mudança por parte do governo.
Em 2014, a expectativa é de um tombo de 7,3% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimentos no Produto Interno Bruto), mas o resultado deve se manter em terreno negativo também em 2015, prevê o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
“O ano de 2015 ainda será difícil, mas importante é a trajetória, que já deve estar positiva (com taxas negativas, mas em menor intensidade). Já saímos do fundo do poço, mas a velocidade da recuperação vai depender de um conjunto de medidas”, diz Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro do Ibre/FGV, citando como pontos que devem receber atenção do governo o ajuste fiscal e o controle da inflação.
Desafios
Um dos principais desafios da presidente Dilma Rousseff é recuperar a confiança dos empresários e, assim, abrir caminho para novos investimentos. A produção de bens de capital acumula queda de 8,2% no ano, segundo a Pesquisa Industrial Mensal do IBGE.
“A confiança é baixa, reflete muito a situação econômica. Mas, se a confiança melhorar, não fará aumentar investimentos. As indústrias vão usar a capacidade instalada que está ociosa”, diz Silvia. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da indústria caiu para 82% entre setembro e outubro, menor patamar desde agosto de 2009.
O setor siderúrgico é um retrato da falta de ânimo para investir. De 2008 a 2013 as fabricantes de aço desembolsaram US$ 20,2 bilhões para manter seu parque industrial atualizado. Por outro lado, congelaram cerca de US$ 17 bilhões em investimentos previstos para ampliar capacidade entre 2012 e 2017.
Diante do excedente de 600 milhões de toneladas de aço no mercado internacional, do fraco crescimento doméstico e da lenta recuperação da economia europeia, não há previsão de retomada. “Só um crescimento sustentado muito forte no mercado interno justificaria uma expansão. Não existe a menor possibilidade”, diz o presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes.
Hoje as siderúrgicas locais têm sobra de 73% de capacidade ante a demanda doméstica por aço. Na média anual até setembro, o uso da capacidade do parque nacional é de 68,6%, o pior nível desde a crise de 2009.
Um dos principais grupos siderúrgicos do País, a Gerdau reduziu pela segunda vez sua projeção de investimentos para 2014. O orçamento original era de R$ 2,9 bilhões, caiu para R$ 2,4 bilhões e, agora, foi cortado para R$ 2,1 bilhões. O volume é inferior à média dos aportes da companhia nos últimos três anos e reflete a perspectiva negativa em relação à economia e à demanda do setor, segundo o diretor presidente do grupo, André Gerdau Johannpeter.
Projetos na gaveta
O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor do Instituto de Economia da Unicamp, Júlio Gomes de Almeida, também só vê retomada do investimento a partir da segunda metade de 2015. Após três anos patinando, porém, ele acredita que as perdas de 2014 na FBCF podem ser revertidas. “A recuperação do investimento pode tardar, mas vir com força. O empresário tem acumulado projetos na gaveta. Há demanda reprimida.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.