A posse de Michel Temer (PMDB) como presidente da República abre oportunidade para dar fim à crise política e econômica, diante da maior credibilidade da nova equipe e da capacidade de diálogo com o setor privado, avaliam economistas. O governo, contudo, terá de trabalhar para trazer progressos contínuos, sob o risco de ver a confiança depositada desmoronar com o tempo.
Temer assume a Presidência após o afastamento de Dilma Rousseff (PT) do cargo por até 180 dias. Para o economista Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada no Ibre/FGV, o governo que começa tem maior habilidade de negociação política e apoio no Congresso. Isso deve atenuar conflitos e ajudar na hora de aprovar medidas necessárias para recolocar o País em trajetória de crescimento.
“O fiscal é o mais importante, todo mundo reconhece isso. É difícil, mas é onde as expectativas estão mais colocadas. Eu entendo que há espaço para se avançar com a reforma da Previdência, que é muito importante em termos de dinâmica de longo prazo da dívida pública. É um tema que já vinha sendo defendido pela equipe que sai”, avaliou Castelar.
“Não fazer o mínimo que o País precisa para resolver a questão fiscal é suicídio. A crise não vai se resolver só com a troca do nome”, acrescentou Castelar. “O governo não vai eliminar o déficit público neste ano nem no próximo, mas precisa mostrar que está reduzindo.”
O economista-chefe da Opus Gestão de Recursos, José Marcio Camargo, afirmou que a reforma do Orçamento também deveria ser prioridade no governo Temer. O especialista defende um orçamento impositivo, em que o Congresso determine como os recursos arrecadados pelo governo federal serão gastos. Hoje, segundo ele, a prerrogativa do Executivo de gerenciar a execução das despesas estimula a criação de vinculações, engessando o orçamento.
A necessidade de apoio no Congresso para realizar tais mudanças não será problema, avaliam os economistas, uma vez que as votações sobre o impeachment no Congresso já sinalizaram que Temer terá esse respaldo. Camargo ressaltou, porém, que qualquer reforma deve preservar programas de transferência de renda como o Bolsa Família. Além disso, a nova equipe deve evitar ao máximo elevar impostos. “Acho que é possível, se fizer ajustes do lado das despesas”, disse o economista da Opus.
Trabalho sujo
Para o economista Júlio Miragaya, presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), a presidente afastada já havia feito o “trabalho sujo” para ajustar a economia, como dar fim ao represamento nas tarifas administradas e no câmbio. Por isso, o cenário já estava mais favorável para qualquer governo que fosse adiante.
Embora Temer tenha maior apoio político, Miragaya ponderou que ele contará com menor tolerância de movimentos sociais que, por sua vez, podem pressionar o Congresso e fragilizar a base. “Não é um governo eleito, é um governo que carece de legitimidade”, disse. “Um governo Temer pode ser positivo caso consiga manter a base articulada mas, se não conseguir, vamos ter uma crise acentuada.”
Castelar ainda destacou que será preciso progresso contínuo e redução de incertezas. “É da capacidade de manter expectativas melhorando que vai depender o sucesso do governo.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.