A conta de transações correntes do balanço de pagamentos do Brasil com o exterior deve voltar à “normalidade” dentro de dois anos, previu hoje o chefe do Departamento Econômico (Depec) do Banco Central, Altamir Lopes. Em 2011, segundo ele, o resultado deverá ser ainda negativo na mesma magnitude da previsão para este ano, de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB).
Categoricamente, o chefe do Depec afirmou que “não enxerga” no aumento do déficit em transações correntes este ano um sinal de vulnerabilidade externa, como é observado por vários analistas econômicos. “O que eles enxergam eu não enxergo”, disse. “A maturação de investimentos vai ajudar a ter mais exportações. Tudo isso leva a crer que o resultado de transações correntes volta à normalidade dentro do médio prazo, em dois anos”, afirmou.
Segundo ele, o déficit de 2,5% do PIB previsto para 2010 é “relativamente baixo, comparado com o passado”. “É perfeitamente financiável”, disse ele, lembrando que o déficit será financiado com investimentos de portfólio (ações e renda fixa) e empréstimos. “Temos recursos com tranquilidade para financiar o déficit. Essa é a nossa expectativa”, disse.
Para Altamir Lopes, não há vulnerabilidade nas contas externas porque o passivo do País é hoje constituído por investimentos estrangeiro diretos, relacionados a setores que são exportadores. “Isso vai gerar exportação. Temos uma plataforma exportadora e temos investimentos”, destacou. Ele ponderou que hoje as exportações não têm a dinâmica que se esperava, porque o cenário externo mudou muito com a crise. “À medida que as economias voltarem a crescer, as exportações do Brasil vão aumentar”, disse. Por outro lado, ponderou, o movimento vivido hoje, com aumento mais forte das importações, é episódico, devido à dinâmica de crescimento da economia, que tem levado ao incremento do consumo e do investimento. Depois dessa fase, disse ele, as importações vão crescer a “um ritmo mais normal”.
O chefe do Depec não demonstrou preocupação com o aumento do déficit em transações correntes nos últimos meses e com o fato de que o valor não está sendo coberto integralmente pelo ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED). “A vulnerabilidade é reduzida atualmente, o balanço de pagamento deixou de ser um problema”, afirmou em entrevista à imprensa.
Altamir explicou que o déficit brasileiro será coberto com a ajuda dos recursos que ingressam no País para o investimento em portfólio, como ações e renda fixa, e com a boa oferta de financiamento externo em papéis e empréstimos diretos que existe atualmente. Por isso, argumenta, não há razões para preocupação. “No passado, não tínhamos reservas internacionais, tínhamos de pagar o principal e juros da dívida externa e não tínhamos acesso ao financiamento externo. Hoje, a situação é bem diferente”, disse Altamir, ao comentar que o funcionamento e o financiamento externo da economia “é bem distinto” do passado.
Sobre uma eventual vulnerabilidade gerada pelo financiamento das contas externas via investimento em ações, Altamir disse que não vê motivos de preocupação. “Não vejo problema nas ações até porque só temos recursos ingressando para a compra de ações”, disse.
Em uma situação “crítica”, completou o chefe do Departamento Econômico, o BC poderia usar as reservas internacionais de US$ 246 bilhões para ajudar a fechar as contas.