A fraqueza do mercado acionário doméstico vem surpreendendo neste começo de ano. A Bovespa subiu em apenas um dos sete pregões que já ocorreram este mês, vem dia a dia renovando a menor pontuação desde meados de março de 2009 e já acumula perdas de quase 9% em 2016. Em todo o ano de 2015, a Bolsa brasileira já havia cedido 13,31%, no terceiro ano consecutivo no vermelho.
Mas quem pensa que o Ibovespa nos 39 mil pontos está num bom patamar para compras, engana-se. Há, claro, alguns bons achados, mas a tendência de baixa ainda deve predominar. Ontem, o índice fechou em queda de 1,09%, aos 39.513,83 pontos, menor nível desde 17 de março de 2009 (39.510,72 pontos).
Especialistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, concordaram que a virada de ano não foi positiva para a Bovespa. “Surpreende esse ambiente tão negativo nesse começo de ano. No último trimestre, o mercado estava muito focado em Brasil. Agora, há problemas com a China. Os mercados no mundo acordaram ao mesmo tempo para os problemas da China”, comentou Alexandre Póvoa, sócio-gestor da Canepa Asset.
Segundo ele, o ambiente bastante ruim desse começo de 2016 embute um fator psicológico, não é só fundamento, uma vez que não há nenhum dado novo que possa explicar a fraqueza do mercado todos os dias. “É muito mais sentimento coletivo do que fundamento. Apesar de fundamentalmente haver alguns papéis com preços interessantes, a Bovespa pode cair mais”, comentou.
A previsão não se baseia apenas na economia chinesa. O cenário doméstico também embute riscos. O Brasil ainda tem muitas incertezas políticas e há definições importantes esperadas para o primeiro trimestre, destacou Paulo Eduardo Nogueira Gomes, economista da Azimut Brasil Wealth Management. “O governo ainda tem popularidade baixa e precisa fazer ajustes nas contas públicas, ajeitar o lado fiscal. O dever ainda não foi feito e isso tem potencial de queda no Ibovespa”, disse. “Assim, nossa avaliação é de que ainda não é hora de comprar ações.”
Queda no PIB. Ignacio Crespo Rey, economista da Guide Investimentos, lembrou que o PIB terá nova queda neste ano – pela projeção mais recente do boletim Focus, de 2,99% – e isso vai se refletir diretamente no resultado das empresas. “Se levarmos em consideração o comportamento recente de redução dos lucros, costuma ocorrer uma revisão para baixo dos números. E os números do PIB e da atividade têm decepcionado. A recessão no ano passado foi pior do que o projetado no começo do ano. Considerando que no começo do ano geralmente as previsões são mais otimistas, a conclusão é de que não é hora de entrar na Bolsa”, disse, acrescentando que prevê queda adicional no Ibovespa.
O economista da ModalMais Álvaro Bandeira também avalia que o Ibovespa pode cair mais. “A conjuntura desfavorável deve piorar no primeiro trimestre e os resultados certamente não vêm bons.” Nem mesmo o aparente preço atrativo do Ibovespa em dólar é um convite à compra de papéis. “O investidor pode esperar o dólar se valorizar mais antes de entrar”, comentou ao ponderar, entretanto, que não espera um piso muito distante do atual. “Talvez vá para os 38 mil pontos”, arriscou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.