A bandeira dos acordos bilaterais de livre comércio, levantada pelo chanceler Celso Amorim, deixou em observadores da política externa brasileira três amargas conclusões. Primeiro, o País está atrasado nesse campo. Segundo, o atual governo errou ao apostar todas as suas fichas na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Terceiro, não será fácil ao Brasil levar adiante uma agenda de negociações, dado o grau de assimetria entre os sócios do Mercosul e sua fragilidade acentuada pelo ingresso da Venezuela entre seus membros plenos.
"Estamos muito atrasados e corremos o risco do isolamento. Além dos problemas internos de valorização cambial, o governo não fechou acordos que permitissem a abertura de mercados ao produto brasileiro", disse José Augusto de Castro, diretor da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB).
"No atual estágio de desenvolvimento do Brasil, em que ainda é difícil assumir compromissos mais amplos de liberalização, o governo deveria ter explorado a conclusão de acordos comerciais. Mas não seria preciso esperar a Rodada Doha terminar para investir nessa área", avaliou o embaixador José Botafogo Gonçalves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).
Em Potsdam (Alemanha), onde negocia com os ministros de Comércio dos Estados Unidos, da União Européia e da Índia um acerto comum sobre a Rodada Doha, Amorim declarou anteontem que a retomada das negociações de acordos bilaterais pelo Mercosul será a alternativa para o bloco obter acesso a mercados. O chanceler informou que o Mercosul reiniciará conversas com a União Européia, suspensas desde 2005. Entretanto, ressaltou que a retomada da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) não está nos planos do governo.