Elie Horn, de 74 anos, acomoda-se na cadeira, pede um suco de laranja e logo diz: “Quer perguntar primeiro sobre política? Porque vou falar muito pouco sobre política”. O bilionário fundador da incorporadora Cyrela, que assumiu o compromisso de doar a maior parte de sua fortuna, prefere falar de filantropia. O que não significa que não tenha suas ideias para o País.

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Para ele, tem de haver um recomeço, uma espécie de “reestruturação”. Horn acredita que, para o País voltar ao rumo, é necessário pensar numa espécie de anistia para políticos. “Muitas vezes, procurar o passado não vai ter fim. Pega um ponto zero e começa a viver com regras novas, rígidas.”

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Pessimista em relação à economia, diz não temer as eleições. Declara-se de centro-direita, mas diz não saber qual o melhor candidato. No momento, dedica-se ao lançamento da Plataforma do Bem, que ajudará iniciativas de filantropia em diversas áreas no País.

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Interesse no setor financeiro

A avaliação pessimista em relação ao desempenho da economia neste ano não impede Elie Horn de planejar investidas empresariais. O bilionário mantém o desejo de expandir os negócios no setor de saúde, área que ingressou no ano passado, e afirma que avalia agora nova empreitada: uma “possível incursão” no mercado financeiro.

O investimento em análise, cujos detalhes ele ainda não divulga, poderá ser feito por meio do fundo de sua família, batizado de Abaporu, ou por meio da própria incorporadora Cyrela. “Gosto da Cyrela. É como se fosse minha família. Não vejo diferença em trabalhar para a Cyrela ou para mim”, afirmou em entrevista ao Estado.

Horn fundou a Cyrela em 1962 e a transformou numa das maiores incorporadoras do País – a companhia, que abriu o capital em 2005, vale hoje R$ 4,4 bilhões na Bolsa. Em 2014, deixou a presidência da empresa, que passou para as mãos dos filhos Efraim e Raphael, mas segue no comando do conselho de administração e como principal acionista da incorporadora.

A ideia de investir no setor financeiro surgiu como forma de reduzir os riscos do negócio imobiliário, explicou Horn.

“O setor imobiliário tem altos e baixos. O coração bate e para, bate e para. É como ter um marido que um dia vem para casa, outro dia não vem, outro dia chega bêbado. Cansa ter tanta inconstância na sua vida”, afirmou. “Setor imobiliário é muito cíclico, está na hora de ter algo constante”, disse.

Horn não fala nem sequer que tipo de negócio no setor financeiro avalia no momento, mas diz que se trata de uma área que sua família já tem certa expertise. Segundo ele, o trabalho na incorporadora sempre exigiu atenção e rigor nas finanças. “Sempre trabalhamos com o financeiro prevalente, porque se você não paga, você morre.”

A lógica de buscar um negócio com menos “altos e baixos” também norteou a decisão de investir na área de saúde, disse Horn. Com a Hospital Care, holding de hospitais da Bozano Investimentos, na qual os Horns são sócios, adquiriu dois hospitais – o Vera Cruz, em Campinas, e o São Lucas, de Ribeirão Preto, ambos no Estado de São Paulo.

Segundo o empresário, o objetivo é chegar a pelo menos dez hospitais, especialmente por meio de aquisições. Ele não diz em quanto tempo. Afirma, porém, que há dois em negociação avançada e ele espera que as compras possam ser fechadas até o fim deste ano.

Enquanto as operações não se concretizam, trabalham na gestão das unidades já adquiridas, especialmente no corte de custos, afirmou Horn.

O projeto desenvolvido pelo Abaporu e Bozano para a Hospital Care inclui investimentos em quase todos os segmentos de saúde, menos laboratórios.

Horn já declarou admiração pelo economista Paulo Guedes, sócio da Bozano, e sua intenção de acompanhá-lo em outros investimentos, como na área de educação. Guedes assessora o pré-candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) na área econômica e formata seu programa de governo.

Como vê a economia este ano?

O ano está perdido. É um problema político mais do que outra coisa, infelizmente. Mais um ano perdido. Não aprovar a reforma da Previdência foi muito triste. O País terá problemas sérios no futuro. Esse governo fez muita coisa boa, não teve chance de continuar. Se acabou, não sei. Falarei pouco de política. A única opinião minha que vale é sobre o bem.

A política não pode ser usada para fazer o bem?

Com certeza. Só que tem de haver recomeço total, uma espécie de reestruturação do País, com regras novas. Temos de partir do zero. Muito melhor do que corrigir com emendas. Muitas vezes procurar o passado não vai ter fim. Pega um ponto zero, esquece todo o passado e começa a viver com regras novas, rígidas. Daqui em diante, quem infringir terá problemas, punições. Não se consegue consertar tudo. É impossível. Então, corta: hoje é hoje e ontem já morreu.

O sr. fala numa anistia aos erros de políticos e empresários?

Empresários nem tanto, porque não têm tanto poder. Quem tem poder são políticos.

Uma forma de pacificar o País?

De evoluir o País. Precisamos acabar com a pobreza, a ignorância. Isso só virá se o País crescer e o País só crescerá com mudanças nas regras. Temos de acabar com antagonismo, vinganças. Tem de ter espírito nobre de evoluir sem mágoas.

Não deixaria sentimento de impunidade?

É uma solução. Não é a única. Mas temos de evoluir, ter ideias. Cada dia que passa há crianças morrendo de fome, de doenças. Isso não pode ser permitido. Qual a solução? Acabar com tudo isso. Mas eu preferia falar sobre o bem. Com algumas pessoas, estamos fazendo a Plataforma do Bem. Teremos 20 embaixadores, cada um com uma missão, e vamos tentar chacoalhar a sociedade. Faremos a ponte direta entre doador e receptor. Os custos de administração serão absorvidos pela comissão gestora. Se um real for doado, alguém receberá um real. No começo, as doações virão dos gestores. Lançaremos em agosto.

Como fazer o bem na política?

Dá para fazer mudando as leis a favor do bem. Faz pouco tempo, num jantar com políticos – não vou citar nomes -, pedimos leis que ajudem a combater a pobreza e o abuso sexual.

Já não existem essas leis?

Não o bastante. Exemplo: ajudar pessoas ricas a doar mais. Tem de incentivar alguns impostos, obrigar empresas a doar para filantropia, para o bem dos funcionários ou dos que moram na mesma cidade. Roberto Setubal (presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco) comprou um apartamento e havia diferença de preço (entre o que Horn pedia e Setubal oferecia). Disse a ele que desse a diferença para caridade. No dia seguinte, ele mandou o recibo. Isso é fazer o bem.

Os empresários resistem?

Falta conscientização. Tentei convencer vários para o The Giving Pledge (movimento de bilionários que se comprometem a doar a maior parte de sua fortuna). Ainda vou conseguir alguém. Não é fácil.

Ricos têm de fazer mais filantropia ou pagar mais impostos?

Ter mais impostos faz mal ao País. Frustra a liberdade de negócios. No mundo moderno, quanto menos impostos, melhor. Agora, tem de fazer o bem. O problema não é tributo, mas como é gasto. O País tem de ser melhor gerido. Menos impostos e mais contribuição. Acredito na livre iniciativa.

Teme o desfecho das eleições?

Tivemos uma crise grave no setor imobiliário. Dizem que foi a pior. Falam o mesmo das eleições. Não acho. Em 2002, foi pior. Não houve problema, porque Lula passou a ser um gestor democrático, liberou bastante as regras dos negócios. O País balança, mas não cai. Aprendi a não ter medo.

O sr. tem candidato?

Segredo político. Sou antirradical e antiextremismo.

Qual seria o melhor desfecho?

Um presidente que faça leis a favor do liberalismo, que acabe com a miséria. Qual é esse candidato? Não sei ainda.

O sr. se considera de direita?

Direita-centro-social. Sou a favor de tudo para ajudar as pessoas menos favorecidas. A esquerda tem extremismos. Tem o senhor na Venezuela (Nicolás Maduro), que é de esquerda e ama a miséria. Prefiro a direita dos Estados Unidos à esquerda da Venezuela. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.