O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, comentou ontem as declarações do presidente Lula de que a economia brasileira ainda é ?muito vulnerável?. Palocci afirmou que a declaração de Lula é verdadeira, mas destacou que não conhece nenhuma economia do mundo que não tenha vulnerabilidade.
?A vulnerabilidade é inerente ao processo econômico. (…) Economias de grandes nações abertas ao comércio têm que lidar com situações de estresse, situações de desequilíbrio de moedas, de desenvolvimento ou refluxo dos movimentos comerciais e isso pode eventualmente provocar vulnerabilidade?, disse.
O ministro ressaltou a evolução da economia brasileira nos últimos cinco anos. Ele citou a melhoria das contas externas, do quadro fiscal e do controle da inflação.
Assim como Lula, Palocci afirmou que ainda existe muito a ser feito. ?Temos que cuidar das reformas microeconômicas, do comportamento da nossa dívida, do quadro fiscal para que o País melhore e possa manter taxas de geração de emprego muito positivas. Obter um resultado favorável não apenas nos aspectos macro da nossa economia, mas naquilo que ela de fato importa, na economia da vida das pessoas?, disse.
Palocci descartou mudanças na política econômica ou a adoção de medidas populistas frente à crise política que tomou conta do País. ?A política econômica é um instrumento básico de desenvolvimento do país e sofreria se servisse a mudanças que não têm origem nas necessidades do seu próprio desenvolvimento. Problemas políticos se resolvem com medidas políticas, problemas econômicos se resolvem com medidas econômicas?, destacou.
O ministro descartou, totalmente, a adoção do controle de capitais como uma alternativa para evitar uma taxa de câmbio desfavorável.
?O câmbio flutuante prestou um extraordinário serviço à economia brasileira, reposicionando as contas externas, reduzindo nossas necessidades de financiamento, ampliando a presença de produtos brasileiros nos nossos mercados e melhorando a pauta de exportação, que deixou de ser essencialmente de produtos primários?, disse.
Palocci concedeu entrevista acompanhado do secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, durante o 4.º encontro do ?Grupo para o Crescimento?, um mecanismo bilateral de consultas criado durante a primeira visita do presidente Lula a Washington.
Snow elogia a política macroeconômica
Rio (AE) – O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, rasgou elogios à política econômica brasileira, citando nominalmente diversas vezes, ao longo do dia o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. ?Ele reflete o compromisso com as boas políticas?, disse a autoridade americana, acrescentando que ?em nível macroeconômico, os resultados (dessas políticas) são dramáticos, maravilhosos para o País?.
Snow esteve reunido com Palocci no Rio e defendeu a continuidade das reformas econômicas no Brasil e maior incentivo aos investimentos do setor privado, incluindo as pequenas e médias empresas. O secretário também defendeu o crescimento do comércio entre as empresas brasileiras e norte-americanas e admitiu que ?livre comércio não é fácil?.
Em palestra organizada pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Snow citou como exemplo dos bons resultados da política econômica o controle da inflação, o aumento das exportações e ?turbulências cada vez mais controladas?. Para Snow, ?isso não teria sido possível se uma fundação macroeconômica sólida não tivesse sido estabelecida?.
O secretário disse que ?gostaria de exortar o Brasil a continuar trabalhando nas reformas, que combinadas com as políticas econômicas empresariais vão liberar as energias do setor privado?. Ele lembrou que esteve anteontem (1) com o presidente Lula que, na sua percepção, ?abraçou o palco do mundo como poucos líderes têm feito, se internacionalizou de forma muito positiva?.
Snow admitiu que, no seu país, há dever de casa a fazer, mas compartilhou a responsabilidade com o mundo globalizado. Indagado sobre o déficit comercial dos Estados Unidos por um membro da platéia do Cebri, ele disse que ?o presidente Bush está comprometido com a redução do déficit, em reduzi-lo pela metade?.
Segundo ele, ?a boa notícia? é que a economia americana está se expandindo, gerando emprego e receitas tributárias. Neste cenário, ainda de acordo com Snow, os EUA iniciaram 2005 com déficit de US$ 427 bilhões e a perspectiva é que hoje esse déficit esteja em torno de US$ 330 bilhões.
Para o secretário, ?o processo de ajuste global também faz parte dessa questão?, ou seja, a questão do déficit dos EUA ?é uma responsabilidade compartilhada com países que fazem parte do comércio?.
O argumento de Snow é que uma das razões do déficit americano é que a economia do seu país está crescendo mais rápido que as de seus parceiros comerciais. ?Estamos envolvidos em um grande diálogo com outros países do mundo para introduzir mais crescimento na economia global, o que o G-7 (grupo dos sete mais ricos) precisa fazer?, disse.
Ele avalia que o Brasil tem dado a sua contribuição com as atuais taxas de crescimento no país, assim como a China e a Índia.
