São Paulo – Aumentou nos últimos dias a cotação do coordenador da equipe de transição do PT, Antônio Palocci, para substituir o ministro Pedro Malan no comando da pasta da Fazenda no governo Lula. Palocci também continua cotado para o Planejamento, mas fontes do atual governo que mantêm contato com a equipe de transição petista informam que têm crescido os sinais de que o destino de Palocci pende mais para a Fazenda.
O prefeito de Ribeirão Preto, que deve renunciar até sexta-feira ao mandato para se integrar definitivamente à equipe de Lula, foi inicialmente cotado para a pasta do Planejamento, que, nos planos originais do PT, deveria ganhar status de superministério, assumindo o controle da política econômica, que perdeu para a Fazenda após o fim do regime militar.
As fontes ouvidas pela Agência Estado em Brasília ponderam, contudo, que o fortalecimento do Planejamento, sob comando de um nome de peso, poderia expor o ministério, que é responsável pelo orçamento, a fortes demandas políticas por aumentos de gastos e pressões econômicas por incentivos. Caso realmente opte por entregar a Fazenda a Palocci, Lula poderá evitar esta armadilha, ao manter separados o comando da macroeconomia da condução do Orçamento da União.
Mas talvez o principal fator que aproxime hoje Palocci da Fazenda seja seu crescente prestígio no mercado financeiro. Inicialmente, imaginava-se que a solução para Lula seria colocar no Planejamento um petista e deixar a Fazenda para algum nome de fora do partido, com sólida formação econômica e experiência de mercado. Ultimamente, contudo, Palocci tem conquistado elogios frequentes do mercado e até de membros graduados do atual governo.
Os elogios vão desde o seu histórico de prefeito privatista e com bom trânsito entre os empresários ao tom cuidadoso ao comentar assuntos delicados, como o Copom e a inflação. “Para o mercado, falar é prata, calar é ouro”, diz o experiente diretor de um banco de investimentos consultado pela AE, para quem Palocci também ganha pontos por sua vivência administrativa.
O executivo faz um contraponto entre o discurso de Palocci e o do assessor econômico do PT, Guido Mantega, que anteontem criticou o Banco Central por usar um modelo “burro” para definir os juros. Embora outros analistas, inclusive do mercado, também vejam com reservas uma possível alta dos juros, provocou desconforto o fato de Mantega, mesmo sendo considerado um assessor econômico importante do governo que assume em janeiro, ter feito considerações sobre a decisão que está sendo discutida pelo Copom.
Sensatez
No mercado financeiro, o economista chefe da BBA Corretora, Alexandre Schwartsman, faz coro aos que consideram Palocci hoje o melhor pertil do PT para a equipe econômica, mesmo se for para a Fazenda. “Ele tem sido responsável pelas melhores declarações do PT. Não por seu caráter ?market friendly?, mas por demonstrar uma posição muito sensata sobre as coisas”, comentou o economista.
Desde que assumiu a coordenação-executiva da campanha de Lula, o prefeito de Ribeirão Preto vem conquistando a confiança dos investidores também com declarações esclarecedoras em momentos em que houve dúvida sobre linhas a serem adotadas, como por exemplo na questão do salário mínimo, nas negociações de dívida com os Estados ou sobre outros temas polêmicos.
Em todos estes casos, sempre apontou para a direção que o mercado gostaria de ver efetivada e pareceu ter a simpatia e a autorização do próprio Lula e da cúpula do PT para fazê-lo. Com isto, o ainda prefeito de Ribeirão acabou assumindo o papel principal de interlocutor econômico do novo governo eleito, o que naturalmente reforçou as apostas de que poderia assumir um cargo com o perfil do Ministério da Fazenda. “Independente de qual ministério, será ele o responsável por responder pela área econômica do governo. Por isso as apostas para a Fazenda nesses últimos dias”, diz a economista de um grande banco doméstico.
Os analistas afirmam que sua formação universitária -Palocci é médico – não seria vista como empecilho para uma boa gestão na Fazenda. “Sua base de conhecimento econômico com certeza não é muito diferente da que tinha o Fernando Henrique quando assumiu o Ministério no governo Itamar”, lembra o estrategista de um grande banco estrangeiro. “O que o FHC fez? Se cercou de gente competente na Secretaria Executiva, na de Política Econômica, no Tesouro e na Receita Federal.”
Ou seja: o fato de não ter graduação formal em economia poderia ser compensado pela indicação dos demais integrantes da equipe econômica, que deveriam, assim, ter um perfil mais técnico. Um presidente do BC com formação acadêmica sólida e experiência de mercado, por exemplo, poderia ser um contrapeso fundamental à indicação de um político para a Fazenda.
Os agentes financeiros também vêem com bons olhos o fato de o prefeito conhecer o funcionamento da máquina pública. O diretor de investimentos de um grande banco estrangeiro sublinha que este seria um problema no caso de o indicado ser um empresário do setor privado, como se cogitou anteriormente. “São dinâmicas completamente opostas”, comentou a fonte.