Após dois anos de cautela em função da crise, os investidores estrangeiros voltaram a demonstrar maior apetite por negócios no Brasil. De janeiro a março deste ano, eles já foram responsáveis pelo ingresso de US$ 14,84 bilhões de Investimento Direto no País (IDP) ligado à participação em empresas – um aporte considerado de melhor qualidade, já que diz respeito a aquisições ou a novos projetos, como a instalação de fábricas. O volume é recorde para um primeiro trimestre. Se descontado o dinheiro que regressou ao exterior, US$ 955 milhões, ainda assim a cifra chama atenção: US$ 13,88 bilhões.
Nos primeiros três meses do ano, o IDP total – que considera investimentos em participações e também operações intercompanhias, como empréstimos – somou US$ 23,94 bilhões, 41% superior ao visto no mesmo período de 2016. Mais que o montante, contabilizado pelo Banco Central, chama a atenção o fato de os recursos voltados especificamente para a produção estarem crescendo.
“Como o governo não tem mais dinheiro para uma retomada de investimentos, o Brasil ficou altamente dependente desse capital estrangeiro”, afirma o economista Otto Nogami, do Insper. “Assim, o governo começa a abrir concessões das mais diferentes naturezas, seja na distribuição de energia elétrica, seja para construção de estradas ou administração de aeroportos. Tudo isso acaba se refletindo nos números.”
Desde o fim do ano passado, o setor de energia e gás aparece como principal foco de interesse dos estrangeiros. Operações como a compra da distribuidora goiana Celg pela italiana Enel ou a aquisição da CPFL Energia pela chinesa State Grid ajudaram a engordar o volume de recursos investidos em participação no capital de companhias. Sozinho, o setor foi responsável pelo ingresso de US$ 5,52 bilhões de janeiro a março.
Leilão. “Um exemplo de como o País está voltando a ficar atrativo para o investidor internacional foi o resultado do último leilão de transmissão de energia realizado em abril, que contou com a presença de players de diferentes países, inclusive novos entrantes no setor”, afirmou Carlo Zorzoli, presidente da Enel no Brasil. “O Brasil está em um momento em que ainda há possibilidades de crescimento – com ativos sendo colocados à venda e leilões de energia programados. Sem falar no potencial do mercado de geração distribuída. Por isso, segue no foco do grupo.”
Estes US$ 5,52 bilhões do setor de energia dizem respeito ao capital que já entrou no País no primeiro trimestre, mas, em vários casos, mais aportes serão feitos ao longo dos anos, seja para cumprir contratos com o governo, seja para novos investimentos. “A compra de parte de uma empresa ou uma concessão envolve um volume de investimentos posteriores até um pouco menor que um greenfield (projeto iniciante), mas de todo modo também indica maior confiança na economia brasileira”, diz o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria Integrada.
A consultoria projeta para 2017 uma entrada total de US$ 78 bilhões de IDP – o que, de acordo com Campos Neto, é uma projeção “conservadora”, considerando o início do ano e as perspectivas para os próximos meses.
Ansioso para reativar a economia e sem dinheiro no caixa para fazer isso, o governo Michel Temer aposta em concessões de infraestrutura, em leilões no setor de petróleo e gás e em novas rodadas na área de distribuição de energia. “Aos poucos, vemos uma recuperação dos volumes de investimento, principalmente já olhando para essa nova agenda de atração de recursos”, destaca Campos Neto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.