O resultado negativo em transações correntes (todas as operações do Brasil com o exterior) no primeiro semestre é o maior da série histórica, iniciada em 1947. Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (28) pelo Banco Central, o déficit foi de US$ 17,402 bilhões. Em junho o resultado negativo de US$ 2,596 bilhões é o mais elevado desde o mesmo mês de 1999 (US$ 2,926 bilhões).
De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, um dos motivos desse resultado foi o aumento das remessas de lucros e dividendos do Brasil para o exterior, principalmente dos setores financeiro e automotivo, que “não têm apresentado bom desempenho no exterior”, diferentemente dos resultados desses segmentos no país.
“Tem a ver também com o comportamento do câmbio [depreciado, ou seja, baixo valor do dólar]”. Mas a expectativa de Lopes é de acomodação das remessas, que no primeiro semestre costumam ser mais elevadas.
Outro fator foi a redução do superávit comercial (exportações menos importações). Enquanto as exportações brasileiras crescem a 24%, as importações tiveram alta de 51%. Entretanto, Lopes lembrou que a tendência das importações, a médio prazo, é apresentar acomodação, uma vez que atualmente as compras do exterior são principalmente de máquinas e equipamentos para melhorar a produção. Ele também espera acomodação no resultado da conta de viagens.
Altamir Lopes também informou que nos 12 meses fechados em junho o déficit acumula US$ 18,103. Esse valor corresponde a 1,32% do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país. “É bem inferior à média histórica iniciada em 1947, quando o déficit em relação ao PIB alcançou 1,75%”. No caso do período de 1970 a 2007, a
relação chegou a 2,15% do PIB. “É um valor ainda relativamente baixo.
“Quando se compara esse resultado com o de economias com desempenho equivalente e com nível de classificação de risco similiar, se observa que esse déficit está bem abaixo do observado em outras economias”, disse. Ele citou que em 2007 o déficit em conta corrente da Índia correspondeu a 1,2% do PIB, da Colômbia 4,9% e da Croácia 8,5%. Segundo ele, a exceção é da Rússia que registrou resultado positivo em conta corrente que corresponde a 1,32% do PIB.
O chefe do Departamento Econômico também ressaltou que a “estrutura” da conta corrente brasileira mudou, com redução do pagamento de juros por conseqüência do menor endividamento. “Os juros deixaram de ser o grande problema”. Além disso, as receitas brasileiras aumentam por conta da reservas internacionais, que são remuneradas.
Lopes também afirmou que a partir do período das privatizações no Brasil, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) voltou a crescer. A expectativa do BC é que o IED financie o déficit em conta corrente. No primeiro semestre, isso não aconteceu, uma vez que o IED chegou a US$ 16,702 bilhões. “Ao longo do ano, o IED vai superar as transações correntes”, prevê Lopes. No acumulado em 12 meses, o IED soma US$ 30,435 bilhões.
“Adicionalmete, tivemos uma taxa de rolagem de crédito de médio e longo prazo superior a 100%, o que significa dizer que os ingressos de recursos de prazos mais longos superaram as amortizações, contribuindo também para financiamento desse déficit”.