As oscilações de preços marcaram o cotidiano dos brasileiros ao longo do século 20. Segundo o IBGE, a inflação acumulada em cem anos foi de 1.113.694.017.907.650.000% (mais de 1 quintilhão). A taxa oficial de inflação, que não ultrapassou 12% ao ano nas primeiras três décadas do século, chegou a 1.000% nos anos 80, forçando a população a contas diárias. Apesar das altas taxas registradas ao longo do século, a inflação esteve controlada tanto no início quanto no final do período. Em 1902, atingiu 6%, após deflação de 17,8% em 1901. Em 2000, foi de 8,6%.
A taxa média anual de inflação nos cem anos foi de 45,2%. Nos últimos 20 anos, até o mês passado, a taxa acumulada foi de 2,08 trilhões por cento. No período acumulado a partir de julho de 1994, quando teve início o Plano Real, até agosto deste ano, somou variação bem inferior, de 155,10%.
O economista Carlos Thadeu de Freitas, do Ibmec Business School, explica que a inflação em patamares estratosféricos não foi um privilégio do Brasil ao longo do século passado, especialmente nas décadas de 70 e 80. “A década de 70 foi quando a inflação voltou ao mundo”, lembra.
Ele afirma que o fenômeno atingiu especialmente os países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como Brasil, Argentina, México ou os do leste europeu, mas representou uma preocupação até mesmo para os Estados Unidos. Isso ocorreu devido à expansão monetária dos países, com forte emissão de moeda, ao choque do petróleo e aos gastos excessivos dos governos, como no caso dos norte-americanos na guerra do Vietnã.
Em concordância com os dados do IBGE, Thadeu de Freitas destaca o controle mundial da inflação a partir dos anos 90, fenômeno que ocorreu também no Brasil, que neste ano deverá registrar inflação anual oficial em torno de 10%. “Os anos 90 trouxeram o fim da inflação, que hoje é considerada morta em todo o mundo”, disse o economista.
Até 1930, as taxas de inflação no País apresentaram fortes oscilações, mas sem ultrapassar anualmente a taxa dos 12% e ficando na média dos 6% a cada ano, variação que as novas gerações de brasileiros só conheceram após a chegada do Real.
Em sete dos 30 primeiros anos do século a taxa ficou acima de 10% e em outros 12 anos, houve deflação. Nesse período, as oscilações da taxa estavam ligadas às flutuações de preços do café, o produto mais importante da economia brasileira na época, inclusive no comércio internacional.
A partir daí, a taxa média de inflação anual galgou patamares cada vez mais elevados, chegando a 12% nos anos 40; 19% nos anos 50; 40% nas décadas de 1960 e 1970; 330% nos anos de 1980; 764% de 1990 a 1995 e finalmente, com o Plano Real, caiu para uma faixa média de 8,6% de 1995 a 2000.
Em junho de 1994, antes do Real, a ameaça de hiperinflação no País era cada vez mais forte. A taxa no primeiro semestre daquele ano havia acumulado 757% e em 12 meses ostentatava o recorde de 4.900%.