Para o economista britânico Jim ONeill, criador do conceito Bric – o grupo de economias formado por Brasil, Rússia, Índia e China (a África do Sul seria incluída depois) -, o Brasil precisa parar de contar com ciclos de commodities para crescer e deve diversificar sua economia o mais rápido possível. Ele defende que a política de corte de gastos do governo brasileiro deve ser acompanhada pelo aumento dos investimentos públicos para melhorar a infraestrutura. Apesar dos desempenhos negativos das economias brasileira e russa nos últimos anos, ONeill manteria os mesmos países no grupo. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Com a crise no Brasil e na Rússia, o conceito de Bric ainda faz sentido? O sr. continua apostando nesses países como economias com potencial?
Sim, se tivesse de criar a sigla hoje, seria exatamente com Brasil, Rússia, Índia e China. Os dois últimos foram os que tiveram uma performance mais parecida com as minhas expectativas nos últimos 16 anos. Brasil e Rússia foram os que mais sofreram com os ciclos de commodities, mas são economias que ainda têm muito potencial, especialmente a brasileira. Um outro país emergente que eu incluiria no grupo e que deve se aproximar dos outros nos próximos 10 ou 20 anos é a Indonésia.
O que o grave caso de corrupção envolvendo a Petrobrás e seu impacto na economia brasileira têm a dizer sobre o País?
Uma das origens do problema é que o Brasil parece continuar sofrendo da chamada “doença holandesa”, em que a produção e os preços de commodities, como o petróleo, e os preços de companhias ligadas a esses produtos têm um peso grande demais na economia. Para aumentar o grau de imunidade a crises, o Brasil precisa tentar reduzir essa exposição ao ciclo de commodities e a importância de poucas grandes empresas em sua economia. Não é uma questão apenas da economia brasileira, ocorre em muitos outros países, mas o Brasil, com uma população tão grande, tem mais condições de se diversificar.
Como resolver essa equação?
Os políticos brasileiros precisam entender a importância de fazer o País parar de ser tão dependente de commodities. Tem de ser um projeto nacional. Alguns outros emergentes, como a Índia, se beneficiam bastante quando o preço desses produtos no mercado internacional sobe, mas não sofrem tanto quanto o Brasil quando eles caem. O Brasil precisa ser mais resistente e só vai conseguir isso se tiver uma economia diversificada.
As empresas também têm um papel importante na construção de uma economia mais sólida?
Sim. As empresas precisam parar de pensar apenas em seus resultados trimestrais e na remuneração dos seus executivos. Nos últimos 20 anos, muitas companhias, de diferentes partes do mundo, praticamente transformaram o capitalismo em um jogo, em que, independentemente do que acontece no mercado, elas manipulam seus balanços para mostrar resultados positivos e ganhar mais. É preciso pensar na sustentabilidade dos setores.
O Estado brasileiro é muito maior do que deveria ser?
Nas economias de sucesso, os investimentos do setor privado em negócios são fortemente incentivados. Se o governo tem espaço para investir, não deve confundir o aumento dos gastos correntes com aumento dos investimentos. O Brasil deveria pensar com mais cuidado na diferença entre gasto e investimento público.
O corte de gastos públicos é impositivo em tempos de crise?
O Brasil ainda gasta demais em atividades que não geram investimentos em infraestrutura. O ideal seria cortar os gastos públicos, o que o governo brasileiro anunciou que está fazendo, e aumentar investimentos. Os países que conseguem articular essa iniciativa, mesmo em tempos de crise, conseguem atrair investimentos.
Por que alguns países europeus que implementaram uma agenda de austeridade demoraram a sair da crise?
Porque o aperto da política fiscal gera dois efeitos: queda da inflação, pela diminuição da demanda, e força a competitividade. Se olharmos para outros países em crise, como Portugal e Espanha, eles tiveram recuperação mais robusta. A Grécia é um ponto fora da curva, na minha opinião, por não ter conseguido elevar a competitividade de suas empresas e, talvez, ter cortado gastos demais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.