São Paulo – Às vésperas do plantio das lavouras de verão, a agricultura brasileira se prepara para semear mais uma safra recorde, enquanto a indústria em geral enfrenta gargalos na produção, especialmente de insumos intermediários, para sustentar o crescimento da atividade. Entre soja, algodão, arroz, feijão, milho, trigo e outros produtos, a expectativa é que a nova safra, a ser colhida a partir de março, volte a crescer e beire 130 milhões de toneladas, afastando o fantasma de pressão inflacionária que por muitos anos rondou a economia.
O crescimento da produção deve refletir o aumento da produtividade, sobretudo da soja, afetada na safra passada por problemas climáticos, e da expansão do algodão, que ganha fôlego no Centro-Oeste. Tanto as cooperativas como as indústrias de fertilizantes, defensivos e sementes não esperam aumento significativo da área plantada, depois da voracidade dos três últimos anos.
Com preços internacionais das commodities em queda e custos crescentes, os agricultores não devem ampliar gastos em tecnologia. O consumo de adubos deve crescer 3% e somar 22,7 milhões de toneladas, após ter aumentado 20% em 2003, segundo o vice-presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), Torvaldo Antônio Marzolla Filho. Por causa da disparada do petróleo, o preço do fertilizante básico (NPK) subiu 45% em dólar nos últimos seis meses. Fábio Silveira, sócio da MSConsult, calcula produção de 128,3 milhões, ante 120,3 milhões de toneladas no ano safra 2003/2004. A receita estimada é de US$ 23,1 bilhões, ante US$ 23,8 bilhões neste ano, por conta do dólar estável e do preço em queda das commodities. A soja continua sendo estrela da safra, responsável por 43% do volume e mais da metade da receita em dólar (US$ 12,9 bilhões).
A explicação para a manutenção da área cultivada, apesar da perspectiva de maior oferta mundial do grão, é que a cotação atual de US$ 11 a saca, ainda que em queda, está acima da média histórica de US$ 10. “Os agricultores têm saudade dos US$ 20 atingidos no início do ano”, observa o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes (Abrasem), Ywao Miyamoto.
Indústria está otimista
Para o vice-presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), José Roberto Da Ros, o ritmo das vendas está lento porque muitas cooperativas atrasaram compras no aguardo da regulamentação da medida que zerou o PIS/Cofins sobre o produto e que poderá reduzir entre 3% e 4% os preços dos defensivos. Marzolla diz ainda que faltam caminhões para entregar o produto no Sul. Com a interrupção da exportação de soja para a China e a posterior retomada, o fluxo de produtos foi prejudicado, pois os mesmos caminhões que levam soja do campo ao porto são usados para entregar o adubo.
Valdemar Fisher, diretor de Defensivos Agrícolas para América Latina e Brasil da Syngenta, prevê aumento de até 20% nas vendas para esta safra e estima expansão de 2 milhões de hectares da área plantada para todas as culturas, com destaque para soja e algodão. A empresa investiu US$ 1 milhão na fábrica de Paulínia (SP) para ampliar a produção de defensivos contra a ferrugem.
“A venda de sementes de algodão nos surpreendeu”, diz o diretor de Marketing e Vendas da Syngenta, Ademir Capelaro. Cerca de 60% do volume foi comercializado e a expectativa é vender 100% até meados de setembro. Ele não descarta a possibilidade de faltar semente de algodão. Já existia tendência de aumento da área de produção no Centro-Oeste, reforçada depois pela vitória do Brasil na OMC contra subsídios ao produto.