São Paulo – O perigo de falta de álcool no mercado foi atribuído a três importantes fatores, segundo o presidente da União da Indústria da Cana de Açúcar de São Paulo (Unica), Eduardo Carvalho: “Nível de mistura do álcool na gasolina acima do permitido (pelas distribuidoras), o famoso rabo-de-galo (pelos consumidores), e a informalidade da conversão de motores de gasolina para álcool.”
Ele explica que o aumento da demanda não estava previsto pelo setor. No começo da safra, afirma Carvalho, havia a expectativa de redução de 600 milhões de litros de álcool hidratado, com a saída dos veículos velhos do mercado, ou 10% da frota. “Mas o resultado foi o inverso.”
O presidente da distribuidora Crystal Sev, João Carlos de Figueiredo Ferraz, que trabalha com o produto de nove empresas do Estado de São Paulo, afirma que em 2002 a projeção era de distribuir cerca de 840 milhões de litros por mês, mas a demanda foi além e, em outubro, já atingia 970 milhões de litros por mês.
Para o presidente da Associação de Fornecedores de Cana-de-Açúcar de Piracicaba e Região, José Coral, o uso indiscriminado do álcool foi o responsável pelos estoques baixos e ameaça de falta do produto no mercado. “Tem gente abastecendo carro a gasolina com álcool”, comentou Coral. Ele explicou que o aumento da demanda beneficia os produtores, mas enfatizou que é preciso planejamento, inclusive com a participação do governo. Ele não acredita que a demanda de exportação de álcool, de 2 bilhões de litros em 2002, crescerá muito no curto prazo. Mas lembrou que os produtores do Brasil estão negociando com mercados em abertura, principalmente Ásia e Europa.
A redução do álcool na gasolina não deve provocar alteração no preço ao consumidor, segundo cálculos das distribuidoras. O álcool anidro custa hoje cerca de R$ 1 para as empresas – R$ 0,32 menos que a gasolina, o que provocaria um aumento entre R$ 0,01 e R$ 0,02 com o aumento do volume de gasolina. Esse efeito, porém, seria revertido com a queda no preço do álcool esperada com a redução da demanda.