O governo brasileiro já injetou pelo menos R$ 75,28 bilhões na economia para amenizar os efeitos da crise internacional no País. Esse é o valor das medidas anunciadas nas últimas duas semanas cujo valor é conhecido. Essa quantia tende a ser bem maior, pois iniciativas do governo cujo total não está estimado, como é o caso da medida provisória (MP) que deu ao Banco Central (BC) poderes para comprar carteiras de crédito de bancos em dificuldades.
A conta do pacote deverá ficar maior também porque há outras medidas em estudo, para serem baixadas caso necessário. A parte que pode ser contada inclui medidas como o reforço de R$ 15 bilhões, feito pelo Tesouro Nacional, do caixa do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os leilões de câmbio realizados pelo BC e o reforço de R$ 10 bilhões do Fundo da Marinha Mercante, anunciado ontem pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. No caso da Agricultura, foram contabilizados os R$ 5 bilhões em reforços já anunciados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Porém, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, quer dobrar essa quantia.
As medidas de maior volume financeiro baixadas até agora são as que liberaram recursos dos depósitos que as instituições financeiras têm de fazer no Banco Central ao fim de cada dia, chamados de compulsórios. Ao reduzir essas obrigações, o governo procurou aumentar a quantidade de dinheiro em circulação no sistema financeiro, compensando em parte o “sumiço” do fluxo de dinheiro do exterior.
Há duas semanas, o Banco Central aumentou de R$ 100 milhões para R$ 300 milhões o limite de isenção a partir do qual os bancos têm de recolher uma parcela adicional de compulsório. Com isso, injetou imediatamente R$ 5,2 bilhões na economia.
Na semana passada, foi reduzido em até 40% o volume de compulsórios a serem feitos por bancos que adquirirem carteiras de empréstimo de outras instituições financeiras. Nesse caso, a injeção de dinheiro pode chegar a R$ 23,4 bilhões. Também foi adiado o prazo de aumento do compulsório sobre os depósitos das empresas de leasing (arrendamento mercantil) nos bancos, o que deixou cerca de R$ 8 bilhões a mais liberados na economia.
Na segunda-feira (dia 6), o governo anunciou que o próprio Banco Central poderá comprar carteiras de bancos em dificuldades. Na realidade, os bancos terão acesso a empréstimos de uma linha chamada redesconto e entregarão suas carteiras como garantia – o que é, no limite, uma compra.
Além de ajudar bancos em dificuldade, um dos focos de preocupação do governo esta semana foi socorrer os exportadores, que enfrentam problemas em obter empréstimos em dólares para sua produção. Foi por causa deles que o governo anunciou, ontem, que poderá utilizar parte das reservas internacionais para emprestar aos bancos. Não se sabe quanto será gasto.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, procurou mostrar que os recursos disponíveis hoje são mais do que suficientes para atender à demanda dos exportadores. Ele afirmou que os US$ 208 bilhões em reservas internacionais, somados aos cerca de R$ 250 bilhões em depósitos compulsórios e cerca de US$ 20 bilhões em contratos futuros de dólar são “várias e várias vezes superiores ao potencial máximo de necessidade desse tipo de financiamento.”
O governo vai emprestar o dinheiro das reservas de pelo menos três formas. Numa delas, vai liberar dólares para bancos que estejam no exterior e decidam financiar exportadoras brasileiras. A outra forma são empréstimos a bancos, dentro ou fora do Brasil, que possuam ativos em moeda estrangeira para dar como garantia. A terceira frente é a venda direta de dólares no mercado brasileiro, que já vem ocorrendo.
Por fim, o BC também retomou a venda de contratos de swap (troca) cambial, instrumento que equivale à oferta indireta de dólares. A opção é usada para a proteção contra a variação do câmbio para quem tem dívidas no exterior, como os importadores. Nessa operação, os compradores recebem do BC toda a oscilação da moeda estrangeira em um período estabelecido.