O crescimento de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, divulgado nesta quarta-feira, 30, pelo IBGE, é, antes de tudo, frustrante, diz a economista e colunista do jornal O Estado de S. Paulo Ana Carla Abrão Costa. Para ela, o dado mostra um arrefecimento da recuperação do País, após a recessão de 2015 e 2016, e aponta que 2018 será pior do que antecipavam os analistas.
Ana ressalta que o dado positivo dos três primeiros meses deste ano veio novamente pelo agronegócio, mas indústria, serviços e investimentos continuam afetados pelo desemprego, a fraqueza na geração de vagas e na renda das famílias e a insegurança das empresas, que adiam aportes pela alta ociosidade e pelo cenário eleitoral ainda muito nebuloso.
“Todo mundo está revisando as expectativas de crescimento deste ano para baixo.” O sentimento geral, diz, é que o Brasil ficou com menos combustível para a retomada, por conta do alto grau de insegurança e de incertezas. Na avaliação dela, os últimos dias mostraram que o governo de Michel Temer chegou ao fim. “Agora, é torcer para as eleições chegarem e este mandato acabar oficialmente.” Leia, a seguir, trechos da entrevista.
Como podemos interpretar esse resultado de alta de 0,4% no PIB do primeiro trimestre? É crescimento ou estagnação?
É um crescimento, mas é um crescimento frustrante. Mostra um arrefecimento da recuperação da economia, que começamos a ver no ano passado. A tendência é de piora do resultado esperado para 2018.
Até o início do ano, os analistas previam um crescimento robusto para 2018. Muitos agora estão revisando essas previsões. O que mudou em tão pouco tempo?
Todo mundo está revisando as expectativas para o ano, porque os indicadores mostram que o gás, o combustível, da recuperação da economia perdeu força, por conta das inseguranças e incertezas. O resultado do primeiro trimestre é claro: estamos colhendo os frutos das reformas que foram adiadas e ficarão por fazer. O Brasil está pagando uma conta pela falta da reforma da Previdência e das 15 medidas anunciadas pelo governo no começo do ano, que pouco avançaram. Nada indica que a recuperação do emprego será robusta e a geração de vagas não vai vir como o esperado. Eu acredito que o Brasil está num buraco cuja dimensão o Congresso ainda não entendeu – e parte da população também não. No início do ano, a gente não entendeu que a situação ainda era tão grave, apostou-se muito na reforma trabalhista e na regra do teto de gastos públicos como motores de confiança, mas os problemas estruturais não foram, nem de perto, resolvidos.
O momento atual é de frustração de expectativas?
Sim, frustrou-se a expectativa de que estávamos entrando em uma recuperação consolidada. Se confirmada essa tendência, vão pesar mais as incertezas que estão pela frente. Eleições sempre geram grande volatilidade e interrupção de investimentos. Na disputa eleitoral incerta que temos pela frente, o impacto deve ser maior. O que vemos é mais um cenário em que todos mantêm a cautela do que um ambiente de recuperação forte.
A greve dos caminhoneiros vai ter um impacto significativo no PIB do segundo trimestre?
Ainda não é possível mensurar, mas certamente terá impacto no resultado do PIB. O peso das concessões que o governo já fez virá nas contas públicas. Além disso, é ruim a sinalização de que o Brasil continua fazendo concessões, tratando de forma pontual alguns setores com maior capacidade de pressão. O governo continua cedendo ao corporativismo e fazendo intervenções que são disfuncionais, como tabelar frete e reduzir pedágio. Além disso, claramente o governo Temer acabou, está na bacia das almas. Com baixa popularidade e sem legitimidade, o governo coloca o País em uma situação complicada e isso se reflete nos investimentos, que devem voltar com força só mais tarde. É um fim de mandato melancólico, e agora nos resta contar os dias até as eleições, para que ele acabe oficialmente, e torcer para que não seja eleito um desastre. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.