País está na agenda, mas perde espaço nos planos globais

O Brasil perde importância nos planos de negócios, mas continua em quarto lugar na lista dos mais citados por executivos de todo o mundo, segundo pesquisa divulgada na terça-feira, 21, pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC). EUA e outras economias avançadas voltam a ganhar destaque no planejamento externo das companhias, tomando espaço dos Brics – com exceção da China – e também de outros emergentes.

A mudança coincide com a retomada do crescimento no mundo rico, liderada pela economia americana. A alteração do cenário também se reflete no maior otimismo quanto à economia global: 44% dos entrevistados disseram acreditar em melhora. No ano anterior eram 18%. Curiosamente, uma parcela menor, 39%, aposta em maiores ganhos para a própria companhia em 2014. Os brasileiros estão acima dessa média, com 42% confiantes em maior receita neste ano, mas ficam bem longe dos mais otimistas – russos (53%), mexicanos (51%), coreanos (50%) e indianos (49%).

A divulgação da pesquisa coincidiu com o anúncio das novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), com menor crescimento estimado para o Brasil (2,3%) do que para a economia global (3,7%) neste ano. Com melhor desempenho que o do mundo rico na pior fase da crise, os Brics hoje exibem menor dinamismo e já se especula se estarão enfrentando uma crise de meia-idade – tema de uma sessão do Fórum Econômico Mundial marcada para a quinta-feira, 23. Está prevista a participação do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Na pesquisa da PwC, executivos foram convidados a apontar os três países, com exceção do próprio, mais importantes para suas perspectivas de crescimento neste ano. Foram entrevistados 1.344 dirigentes de empresas, distribuídos de acordo com o peso econômico dos países.

China (33%), EUA (30%), Alemanha (17%), Brasil (12%) e Japão (7%) foram os cinco mais citados. Excetuado o Brasil, com perda de 3 pontos porcentuais, todos esses países tiveram ganhos em relação à pesquisa do ano anterior. Os Estados Unidos tiveram o maior avanço (7 pontos). Os menores foram os da China e do Japão (2 pontos cada). Indonésia, México e Rússia nada ganharam ou perderam. A Índia, como o Brasil, perdeu 3 pontos e ficou com 7%.

“A recuperação da economia global continua frágil, mas, com a redução das pressões imediatas, os executivos se sentem mais otimistas e passam gradualmente do modo sobrevivência para o modo crescimento”, comentou o presidente da PwC International, Dennis M. Nally. Menos ocupados com a defesa contra os efeitos da crise, eles cuidam mais, agora, de preparar suas companhias para as novas condições de uma economia em transformação.

Ressaca

Uma das alterações mais evidentes, a recuperação no mundo rico e a desaceleração de alguns emergentes, já produz efeitos nas decisões. “A China permanece robusta, graças a vastas reservas cambiais e a extensas medidas de reformas introduzidas pelo governo central”, diz o relatório. “Mas o Brasil sofre uma enorme ressaca de endividamento e a Índia tem sido lenta na abertura de seus mercados”. Além disso, a Rússia depende excessivamente da exportação de commodities e o crescimento da África do Sul tem sido prejudicado pela regulação pesada, de acordo com o documento.

Mudanças mais profundas e de maior alcance também estão no radar das companhias. Os entrevistados destacaram três tendências com potencial para transformar seus negócios nos próximos cinco anos: 81% apontaram avanços na tecnologia da informação (incluída a expansão da mídia social) Mudanças demográficas (com impacto, por exemplo, na redistribuição global da força de trabalho) foram citadas por 61%. A redivisão do poder econômico foi destacada por 59%. Essas alterações já começaram, mas vêm ganhando velocidade e poderão afetar os mercados e as perspectivas das empresas nas próximas décadas, assinala o relatório. Do lado positivo, pode-se contar com a melhora de condições de 1 bilhão de pessoas nos mercados emergentes. Do lado negativo, maior desemprego e maiores problemas de escassez de recursos.

A sondagem global da PwC com executivos é produzida há 17 anos e habitualmente divulgada um dia antes da abertura da reunião do Fórum de Davos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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