O resultado das contas externas em setembro deverá superar as expectativas iniciais do Banco Central (BC). A combinação de dólar elevado e retração no nível de atividade da economia deveria produzir, segundo estimativas do chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, um superávit em conta corrente de US$ 1 bilhão.
No entanto, na reta final da contabilização dos números que serão divulgados oficialmente quinta-feira, o mercado financeiro já trabalha com um superávit de US$ 1,4 bilhão. Se confirmado, esse será o melhor desempenho mensal das contas externas, comparável apenas ao US$ 1,2 bilhão verificado em junho de 1989.
Esse resultado quer dizer que as receitas obtidas com a venda de produtos ao exterior, prestação de serviços, rendas e transferências unilaterais superaram em US$ 1,4 bilhão os gastos no período. Daí as previsões do presidente do BC, Armínio Fraga, de fechar 2002 com um déficit acumulado entre US$ 13 bilhões e US$ 12 bilhões. Esse valor é bem menor do que a última projeção oficial do BC, que era de US$ 14 bilhões.
E o principal fator desse ajuste das transações do Brasil com o resto do mundo tem sido o comércio internacional. Embaladas pela cotação elevada do dólar, as exportações vem crescendo e as importações despencaram, como reflexo da escalada da moeda estrangeira e também do fraco desempenho da economia. Em setembro, a balança comercial apresentou um resultado recorde ?desde o tempo de Cabral?, como enfatizou o ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, referindo-se ao superávit comercial de US$ 2,5 bilhões.
Com isso, houve entrada de moeda estrangeira no mercado doméstico. Esses dólares recebidos pelos produtores locais que conseguiram vender suas mercadorias e servem para compensar os gastos do governo com pagamento de juros, remessas de lucros e dividendos e outras despesas.
Além da balança comercial, as despesas cada vez menores de turistas brasileiros em viagem ao exterior também têm ajudado a melhorar o resultado das contas externas e a reverter a forte dependência brasileira de capital externo. Mas, ainda assim, o fluxo de recursos na conta capital e financeira, onde são registrados os ingressos de investimentos estrangeiros diretos, empréstimos e financiamentos, deverá se manter negativo em setembro. Os investimentos diretos estão em queda, os empréstimos para o País minguaram e a taxa média de rolagem das dívidas que estão vencendo continua baixa. As remessas de dólares pelas contas de não-residentes, conhecidas como CC-5, somaram US$ 1,4 bilhão, no mês passado.
Por causa da aversão ao Brasil, a conta capital e financeira teve um saldo negativo de US$ 1,525 bilhão em agosto. Somente o mercado de ações e de fundos de investimento registraram saídas de US$ 1 bilhão, já descontadas as receitas.