Para tentar resolver o impasse da venda de soja para a China, o Brasil adotará o padrão americano nos carregamentos destinados ao mercado interno e à exportação. “Adotaremos o modelo americano de três sementes (com fungicidas) por quilo, mas com mecanismos de controle mais rígidos”, afirmou ontem o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, sem dar maiores detalhes. Rodrigues ressaltou, no entanto, que não sabe se esse modelo resolve o problema com a China, que, alegando mistura, recusou 239 mil toneladas de soja brasileira. Rodrigues acrescentou que não prometeu “tolerância zero” para a China. “A China quer tolerância zero e o cliente tem sempre razão”, afirmou.
Para o chefe do Departamento Econômico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Getúlio Pernambuco, a dificuldade do governo em finalizar as regras para a mistura de soja com sementes tratadas teria sido a promessa aos chineses de “tolerância zero”, mas agora as autoridades querem adotar outro padrão, que permita mistura mínima. Apesar das expectativas, inclusive de fontes do ministério, a instrução normativa não foi publicada na edição de ontem do “Diário Oficial da União”.
Pernambuco avalia que o Brasil não tem, a curto prazo, condições de atender à exigência de “tolerância zero”. “Não podemos adequar a legislação se não temos condições de cumprir neste ano-safra”, comentou. Se os chineses querem soja sem níveis mínimos de mistura, eles devem investir na construção de armazéns e portos exclusivos para atender a essa demanda. “Todo esse tratamento diferenciado tem custo, então que os chineses paguem”, comentou.
Com o padrão americano, se for constatada a presença de quatro ou mais sementes com fungicidas por quilo de soja, o lote é considerado impróprio para consumo humano. “Esse é um valor ínfimo para a saúde humana e animal”, afirmou Pernambuco. Questionado se o governo tinha prometido uma coisa que não pode ser cumprida, ele limitou-se a dizer que o “momento é de impasse”.
“O Brasil pode fazer um entendimento com a China para a presença mínima”, afirmou. Para ele, se a China mantiver a exigência de “tolerância zero”, ela quer dizer “que não vai fazer importação de soja do Brasil”. Ele aposta, no entanto, em solução para o impasse. Números do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostram que as exportações brasileiras vão crescer de 21 milhões para 45 milhões nos próximos 10 anos, basicamente em razão da demanda da China.
Por enquanto, esse impasse comercial e a quebra da safra reduzirão as exportações do complexo soja, disse o chefe do Departamento de Comércio Exterior (Decex) da CNA, Antonio Donizeti Beraldo. Os cálculos iniciais da CNA sinalizavam exportações de US$ 12 bilhões, mas as previsões atuais estão na casa dos US$ 10,5 bilhões. “Com o problema com a China, os preços internacionais recuaram”, disse. Entre janeiro e abril, a receita cambial das vendas de soja somou US$ 2,47 bilhões, 35% acima do resultado de US$ 1,82 bilhão em igual período de 2003.