Paes acusa Queiroz Galvão de criar farsa para acelerar repasse de obra olímpica

O prefeito Eduardo Paes (PMDB) rejeitou nesta quinta-feira, 2, o argumento da empreiteira Queiroz Galvão de que a falta de pagamento do governo federal põe em risco os empregos e obras no Complexo Esportivo de Deodoro, na zona oeste, onde serão disputadas 11 modalidades nos Jogos Olímpicos. Paes disse que a prefeitura tem antecipado pagamentos que cabem à União quando há atrasos no repasse das verbas federais, causados, segundo ele, por excesso de instâncias de controle. Ele acusou a empreiteira de criar uma “farsa” para pressionar a prefeitura e descartou restrições de verbas às obras olímpicas por conta do ajuste fiscal.

A Queiroz Galvão deu aviso prévio a 480 empregados e avisou que a falta de pagamento era a razão das demissões, que serão efetivadas se não houver novos repasses. Ontem, 70 operários que estavam em período de experiência, e não precisavam de aviso prévio, foram demitidos. Fontes da empreiteira disseram que os 70 seriam dispensados de qualquer forma, porque a etapa da obra para a qual foram contratados estava concluída.

Mais 550 funcionários em período de experiência foram comunicados que também poderão ser demitidos se a União e a prefeitura não pagarem o que devem. Ao todo, 1.100 operários trabalham no complexo.

“As pessoas (demitidas) estavam em estágio probatório ou algo assim e eles (Queiroz Galvão) não precisavam mais desses 70 caras. Em qualquer ata de reunião de empreiteiro que você pegar, o empreiteiro vai chamar quem paga ele de chefe, vai reclamar que os pagamentos estão atrasados e que são menores do que tinha a receber. Não há atrasos nos pagamentos”, disse Paes ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

Contratado há cinco meses, o ajudante de obras André de Souza entrou na leva dos demitidos na quarta-feira. “Me disseram que a empresa não teria dinheiro para pagar os funcionários enquanto o governo não repassasse a verba. Está todo mundo trabalhando no aviso (prévio), esperando o prefeito pagar”, disse.

Para apagar o incêndio, o prefeito convocou à tarde uma visita da imprensa ao local. Paes garantiu que a construção está “a pleno vapor” e será entregue no prazo, até o fim de novembro. E acusou a Queiroz Galvão de usar estratégia de comunicação “jurássica” de pressão para acelerar repasses. “Falta muito para uma empreiteira me dar um ultimato. Quem dá ultimato aqui sou eu. É uma farsa para pressionar a prefeitura”, afirmou.

A prefeitura afirma que já repassou R$ 110 milhões à obra da Queiroz Galvão em Deodoro, orçada em R$ 640 milhões. Fontes ligadas à empreiteira dizem que o cronograma previa repasses mensais, mas só foram pagos até agora R$ 60 milhões, em janeiro. A empresa cobra R$ 80 milhões do governo federal, que negocia com o Congresso medidas de ajuste fiscal que implicam mudanças em regras trabalhistas e cortes de gastos.

O prefeito descartou qualquer restrição do governo à liberação de recursos para obras olímpicas. “Não há contingenciamento para Deodoro. O que existe é controle. É tanta roubalheira que a gente vê, que todo dia inventam um controle diferente. Atrasa tudo a não resolve a roubalheira. De R$ 6,5 bilhões de obras para Olimpíada, o governo federal paga R$ 1,2 bilhão. Não falta um tostão. Os ministros Aloisio Mercadante (Casa Civil) e Joaquim Levy (Fazenda) me ligam para saber se foram liberados os recursos.”

Em nota, o consórcio responsável por Deodoro disse que as obras estão em dia e que o aviso prévio aos 480 operários é “medida preventiva que certamente será revertida com a regularização dos pagamentos relativos às etapas construtivas executadas, pagamentos esses já em andamento na Prefeitura”. O consórcio é formado pelas empreiteiras Queiroz Galvão e OAS, ambas investigadas na Operação Lava Jato, que apura o esquema de corrupção na Petrobras.

O jornal teve acesso à ata da reunião em que o consórcio comunicou a decisão de dispensar funcionários por falta de repasses do governo para a obras. Segundo fontes, o governo não foi pego de surpresa pela notícia das demissões. Paes disse que, em conversa por telefone, o presidente da Queiroz Galvão acusou o sindicato de vazar para a imprensa as informações da ata, mas não se convenceu. “É uma estratégia burra (da empresa)”, disse. (Colaborou Alexa Salomão)

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