Brasília (AE) – A redução de custos de exportação, principal reflexo do pacote cambial anunciado esta semana, vai beneficiar quase com exclusividade as grandes empresas. E, em especial, as que são ao mesmo tempo exportadoras e importadoras; ou as multinacionais, estrangeiras ou brasileiras, com investimentos no exterior.
Essas poderão se beneficiar mantendo parte da receita de suas exportações no exterior para pagamento de obrigações ou para custear empreendimentos em outros países. As pequenas e médias precisam internalizar os recursos para bancar investimentos e capital de giro. A exceção são as pequenas que também importam e podem ter alguma vantagem. A dedução é que o pacote deve elevar a concentração nas exportações.
De janeiro a junho, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, as 40 principais exportadoras concentraram 42% das vendas ao exterior. Foram US$ 25,718 bilhões. Caso a medida estivesse em vigor no primeiro semestre e todas elas tivessem usado o benefício de não internalizar 30% da receita, US$ 7,715 bilhões teriam ficado fora do País.
Se o desempenho exportador dessas empresas se mantivesse no segundo semestre, essa conta subiria para US$ 15,4 bilhões no ano. É um valor bem próximo do montante de dólares que, segundo o governo, deixaria de ingressar no País (US$ 20 bilhões). Para uma parcela mínima do total de cerca de 17 mil empresas exportadoras.
Ainda pelo resultado do primeiro semestre, a CPMF que deixaria de ser recolhida (0,38% sobre os 30% hipoteticamente mantidos no exterior pelas 40 maiores exportadoras) seria de R$ 64,5 milhões pelo câmbio atual. Ou R$ 129 milhões no saldo do ano, seguindo a mesma linha de projeção.
O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que a medida pode contribuir, mas não será o principal elemento de concentração num setor que já caminha nessa direção. ?O principal fator indutor da concentração, que já está ocorrendo, é o câmbio, que está alijando empresas menores da atividade exportadora?, defende.
Segundo ele, desde o início do ano 1.015 empresas desistiram de exportar por não suportarem o câmbio com o real supervalorizado. Castro lembra que são considerados grandes exportadores os que vendem, no mínimo, US$ 10 milhões por ano.
Na lista das 40 maiores, a que ocupa o último lugar, a Volvo do Brasil, exportou US$ 282,7 milhões no primeiro semestre. No topo estão Petrobras (US$ 4,6 bilhões), Vale do Rio Doce (US$ 2,4 bilhões), Volkswagen (US$ 1 bilhão), Bunge (US$ 994 milhões) e Embraer (US$ 889 milhões).
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse ontem que pretende utilizar os recursos que manterá no exterior para pagar importações e outras obrigações. Segundo ele, a empresa deverá internalizar a diferença entre as operações.
Na Vale do Rio Doce, a avaliação, segundo o diretor-financeiro, Fábio Barbosa, é que as medidas vão na direção certa, mas ainda é cedo para calcular a sua redução de custos.