O ouro fechou o mês de agosto como o ativo de maior valorização no mercado financeiro. O crescimento em relação a julho foi de 17,95%, bem acima do segundo colocado, o dólar, que subiu 8,46% no período. No acumulado do ano, o metal segue na liderança, com alta de 34,13%. A subida acompanhou o mercado internacional, onde o ativo atingiu a maior cotação desde 2013 para os contratos futuros, sendo negociado a US$ 1.527,80 a onça-troy (unidade de medida americana que corresponde a 31,1035 gramas) para o mês de dezembro. Quem quiser aproveitar essa valorização para melhorar os rendimentos, porém, pode chegar atrasado.
“O investidor sempre é atraído pelo que subiu. O que o faz comprar na alta e vender na baixa, ao contrário do que deveria acontecer. Hoje, o ouro é um investimento arriscado, porque já se valorizou. Logo, não dá para dizer se vai continuar nesse movimento ou não”, diz o administrador de investimentos Fabio Colombo, responsável pelo ranking dos ativos mais rentáveis no mês.
Os especialistas indicam ainda que as condições para que o ouro siga em alta passam por uma relativa piora no cenário internacional. E prever se isso vai acontecer não é tarefa fácil. “Os bancos centrais do mundo todo têm baixado as taxas de juros para tentar estimular a atividade econômica. Essa receita deu certo após a crise de 2008, mas o mundo mudou muito e ainda contamos com a tensão comercial entre Estados Unidos e China. Não tem como saber se o resultado será o mesmo”, diz Fernando Fridman, responsável pela área de produtos da Ouroinvest.
Extremo
“O queridinho do mundo para se proteger sempre foi o Tesouro americano. Com a curva de juros dos EUA no longo prazo tão baixa, porém, o ouro passa a ser uma opção”, acredita Rodrigo Franchini, responsável pela área de produtos da assessoria de investimentos Monte Bravo. O fenômeno que Franchini observa é o de inversão de curva dos juros pagos aos títulos do tesouro americano. Os papéis com vencimento daqui a dez anos estão com rendimento menor do que os que vencem em dois anos. Esse mecanismo é visto como um sinal de que os investidores projetam crescimento econômico fraco no futuro e inflação baixa.
Nesse contexto, a fuga para o ouro acontece sem perspectivas de ganho, mas sim de proteção contra grandes oscilações do mercado, um processo conhecido como hedge. “Como o ouro não está ligado diretamente a nenhuma economia, recorre-se a ele nesses momentos”, diz Franchini.
O investidor pode olhar o desempenho desse ativo como um termômetro do mercado, que, para os especialistas, se encontra em estado de atenção. “Ouro é para quando o mundo está em guerra. Hoje estamos em sinal laranja, entre o amarelo e o vermelho, para o mercado financeiro”, explica a consultora de investimentos da Órama Sandra Blanco. Ela lembra que, fora desses momentos de muitas incertezas em relação à desaceleração global, o ouro é um ativo que não rende ou se valoriza. “Ele estava parado desde 2013, só recuperou o valor agora.”
Custa caro
Como se trata de uma commodity, que não paga dividendos nem rende juros, o ouro pode custar caro para a carteira do investidor comum. “Ouro não é investimento, é reserva de valor”, diz o planejador financeiro Michael Viriato. Ele explica que o ativo só é uma opção viável para a carteira de investidores com nível de diversificação global, que separam uma pequena parte de seus montantes para esse metal. “O investidor menor pode ter ganhos nessas janelas de insegurança, mas isso é para investidores que focam em negociações de curto prazo mais arriscadas.” Ele comenta que, como o mercado de ouro tem poucos investidores, as negociações mudam rapidamente seu preço e, para ganhar dinheiro, é preciso antecipar esses movimentos. “Os gestores profissionais de fundos conseguem aproveitar essas oportunidades com mais eficiência”, afirma Viriato. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.