São Paulo – Os industriais paulistas estão otimistas e tranqüilos sobre o futuro do País no comando do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. É o que mostra pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Pelo levantamento, 77% dos empresários paulistas estimam que o governo petista será ótimo ou bom. No universo dos 420 entrevistados pela Fundação Getúlio Vargas (FVG) para a realização da pesquisa, 59% avaliam ter muita tranqüilidade pelo fato de o País ser dirigido por um novo partido; outros 10% disseram estar tranqüilos; 27% inquietos; e 4% muito inquietos.
O estudo indicou também que 36% dos empresários acreditam que as relações entre a indústria e o futuro governo serão um pouco melhores; para 32% seguirão iguais; para 18% vão piorar um pouco; e outros 11% acreditam que serão muito melhores. “Existe um generalizado sentimento de otimismo moderado”, afirmou o presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva.
O temor de ocorrer uma escalada da inflação no próximo ano foi manifestado no levantamento. No total, 46% dos empresários manifestaram serem altas as chances de haver um descontrole da inflação, enquanto que 40% consideram essa possibilidade baixa. As chances de o governo Lula provar seus projetos no Congresso foram consideradas altas por 49% dos entrevistados e baixas para 41%.
Sobre a possibilidade de a indexação voltar, 47% avaliaram ser baixa e 33%, ser alta. Uma maioria de 48% acredita ser baixa a chance de haver controle de preços, enquanto que 32% avaliaram ser alta. A deflagração de uma nova crise de energia elétrica foi considerada baixa por 53% dos entrevistados e de alta por 29%. A análise indica ainda que 57% dos empresários acham ser baixas as chances de o desemprego aumentar, contra 28% que acreditam o contrário. Por fim, 24% estimaram serem altas as chances de ocorrer uma grande incidência de greve de trabalhadores e 57% baixa.
Reviravolta
Piva afirmou que não espera “nada menos do que uma reviravolta” na forma com que o governo Lula vai tratar o setor industrial em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso. “Esperamos o fim da fase de ostracismo da indústria e o fim da ênfase no mercado financeiro. Queremos ênfase no trabalho, suor, desenvolvimento. Ênfase na vida real” afirmou, cobrando, em seguida, um foco do novo governo no crescimento industrial.
“Não queremos subsídios ou barreiras, mas apenas sermos parceiros”, complementou. Ele também aproveitou o encontro com a imprensa para solicitar ao atual presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, que não eleve os juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, marcada para o dia 17 de dezembro. “Estamos convencidos de que o presidente Armínio Fraga não deve aumentar os juros porque, na administração dele, o aumento de juros não tem efeito sobre o câmbio; não atua em relação a credibilidade; e não vai segurar a inflação enfraquecendo ainda mais a demanda”, argumentou.
“A inflação pode ser diluída ao longo dos próximos meses”, adicionou. Ele defendeu ainda a continuidade pelo próximo governo do programa de privatizações. “Temos convicção de que o Estado deve restringir sua atuação na esfera política e regulatória”, sustentou.
Indicações
As prováveis indicações de Luiz Furlan para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e de Henrique Meirelles para o BC foram recebidas positivamente pelo presidente da Fiesp. “Não tenho a menor dúvida de que Furlan é um bom nome. Por toda a sua experiência na área industrial, por conhecer bem o ambiente internacional e as arenas de negociação em que entraremos. Certamente vai ajudar a recolocar a indústria no centro das discussões”, afirmou. Sobre Meirelles, ele destacou a vivência e experiência de mercado do ex-presidente do BankBoston. “É um nome internacional, que opera nesse ambiente há muito tempo”, destacou. Piva ressalvou, no entanto, que ainda é muito prematuro avaliar que tipo de desempenho o executivo terá à frente do BC. “É completamente diferente avaliarmos o currículo e a experiência do profissional em relação ao que ele encontrará no início de seu trabalho no BC”, lembrou o presidente da Fiesp.
Meta para 2003 é de 6,5%
A equipe econômica do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manterá o atual sistema de metas inflacionárias utilizadas pelo Banco Central. Estudo entregue ao futuro ministro da Fazenda, Antônio Palocci, mostra que a meta de inflação a ser perseguida pelo futuro governo em 2003 é de 6,5%. O estudo prevê uma variação de dois pontos para cima e dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Entre os motivos que indicam que a inflação deverá ceder no futuro governo está a entrada da nova safra agrícola, que reduzirá a pressão sobre os preços, principalmente, dos itens que compõem a cesta básica do consumidor.
Outro fator que ajudará a interromper a escalada de preços é a decisão do futuro governo de conferir autonomia operacional ao BC. O modelo estudado pela equipe petista prevê uma autonomia nos moldes do sistema inglês, ou seja, não há independência total, como no sistema norte-americano. No entanto, a futura diretoria do BC terá mais autonomia à medida que estiver livre das pressões políticas sobre a condução dessa ou daquela política monetária.
Para o professor da Unicamp, Luciano Coutinho, o IPCA acumulado de 2003 deverá ficar entre 8% e 8,5%. Segundo ele, a inflação já dá sinais de desaceleração quando se leva em conta os preços no atacado. “Os preços no atacado já estão caindo. A queda deverá chegar ao consumidor já em 2003.”
Sem saber do estudo, Coutinho – que é cotado pelo governo petista para assumir a presidência do BNDES – disse que além da nova safra agrícola, a retomada da confiança dos investidores internacionais combinada à queda do dólar puxarão a inflação para baixo. “Tudo isso coloca a inflação para baixo. Mas é cedo para se fazer especulações.”
Nome agrada executivos
São Paulo
(AE) – A indicação de Henrique Meirelles para a presidência do Banco Central (BC) agrada a executivos de multinacionais estrangeiras. O diretor-presidente da Schering do Brasil, Theo Vander Loo, afirmou que a bagagem de Meirelles vai trazer de volta a confiança dos investidores estrangeiros no Brasil. Para ele, trata-se de um profissional de larga experiência bancária e conhecedor do mercado.Loo ressaltou, no entanto, que nem toda a culpa pela crise econômica brasileira é das incertezas internas. “Não podemos esquecer a grave crise mundial que impacta, e muito, a economia brasileira”, afirmou.
Para o presidente da Daimler Chrysler, Ben van Schaik, o perfil de Meirelles é muito bom para os estrangeiros e isso ajuda a construir uma imagem positiva do Brasil no exterior. O embaixador-chefe da União Européia no Brasil, Rolf Timans, afirmou que Meirelles é profundo conhecedor de assuntos financeiros e de Wall Street, e a escolha demonstra que o BC terá uma boa direção.
Loo afirmou que há sempre muita apreensão quando ocorrem mudanças de governo e ideologia, embora as mudanças façam parte da democracia. Mas destacou que as expectativas em relação ao governo Luiz Inácio Lula da Silva demonstram forte esperança no crescimento do País. “Com as indicações feitas até agora, Lula se mostra cauteloso e acertivo”, completou.
Bovespa
O presidente da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (Bovespa), Raymundo Magliano Filho, afirmou que a indicação de Meirelles levará maior tranqüilidade ao mercado financeiro, nacional e internacional. Segundo ele, Meirelles é um nome de muita credibilidade.
Segundo ele, o fato de Meirelles ter um perfil mais institucional do que de operador de mercado, como Armíno Fraga, não é problema, pois a função pode ser suprida com as pessoas da equipe dele – os diretores do BC.
– Acreditamos que o nome dele está sendo muito bem recebido no mercado interno. Ele é também um nome reconhecido no mercado internacional e isso é muito importante para restaurar a credibilidade externa na economia brasileira – disse.
Febraban espera crescimento
São Paulo
(AE) – O presidente da Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban), Gabriel Jorge Ferreira, disse ontem que Henrique Meirelles, indicado para presidir o Banco Central (BC) no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, é “um homem que tem amor ao País”, com grande capacidade de trabalho e deve contribuir para que o Brasil tenha um crescimento sustentável.Segundo ele, a indicação de Meirelles, ex-presidente mundial do BankBoston, foi bem recebida pelo mercado financeiro nacional e internacional por possuir um perfil liberal, ser uma pessoa bastante ativa, prudente e com “grande capacidade de articulação”.
Ferreira afirmou também que acredita que Meirelles vai montar uma excelente equipe com pessoas vocacionadas para as operações técnicas. Com relação ao fato de Meirelles ter sido eleito deputado federal com maior número de votos, pelo PSDB, Ferreira disse que isso demonstra que o presidente eleito está procurando os melhores talentos do País para montar a sua equipe. Ele ressaltou também o conhecimento de Meirelles no mercado internacional, tendo sido o primeiro brasileiro a ter ocupado o cargo mundial de uma grande organização, como o BankBoston.
Questionado se haverá uma mudança expressiva em relação ao que vinha sendo feito pelo atual presidente do BC, Armínio Fraga, Ferreira disse que são pessoas com estilos diferentes mas que têm objetivo comum de buscar a estabilidade econômica do País. Para o presidente da Febraban, o principal desafio de Meirelles no início do governo será debelar os focos inflacionários. Ele disse que o mercado financeiro já tem dado sinais de tranqüilização, e que a confiança vai se estabelecer.
Quanto a meta do presidente eleito de reduzir os juros, Ferreira disse que não sabe se vai ser possível no curto prazo, mas que as taxas vão ser monitoradas com a necessidade de controle da inflação. Ele afirma também que para que o País reduza a inflação e tenha um crescimento sustentável, é preciso realizar um ajuste fiscal nas receitas e despesas públicas.
Elogiou também a possível escolha do empresário Luiz Furlan (Sadia) para o Ministério do Desenvolvimento, por ser um nome respeitado, experiente, empresário bem sucedido e que possui profundos conhecimentos do mercado doméstico e do comércio exterior.
Mercado manteve-se volátil
A novela do anúncio do presidente do Banco Central terminou com um final morno no mercado. Após semanas de suspense, no dia em que o PT anunciou o nome do escolhido, o ex-presidente do BankBoston Henrique Meirelles, o dólar fechou em alta de 0,40% vendido e comprado a R$ 3,78. O risco Brasil também diminuiu a queda para 0,56% e operou a 1.585 pontos, enquanto o principal título da dívida brasileira negociado no exterior, o C-Bond, já inverteu e passou a cair 0,2% para 61,87% do valor de face.
O mercado se dividiu a respeito da indicação de Meirelles, que este ano foi eleito deputado federal pelo PSDB em Goiás. Enquanto alguns analistas acham positivo o perfil “administrador” do economista, outros afirmaram que preferiam alguém mais “técnico”.
??Todo mundo, até ontem, achava que ia ser o (Pedro) Bodin (sócio-diretor da Icatu DTVM), alguém com perfil mais técnico??, disse José Roberto Carreira, gerente de câmbio da corretora Novação.
Fora do Brasil, a indicação também foi vista com ressalvas. Nos EUA, John Welch, chefe de pesquisas para América Latina do banco West LB, citou a ??falta de experiência com operações realizadas no mercado?? de Meirelles.
Embora a indicação não tenha despertado reações negativas, ela também não foi capaz de conter o ímpeto comprador das empresas e bancos que têm, este mês US$ 3,1 bilhões em dívida externa para saldar.
A cotação abriu em queda, chegou a recuar quase 2%, mas antes do fim da manhã já reverteu o recuo e passou a subir.
“Há uma pressão muito forte por parte de empresas e bancos que precisam de dólares agora”, afirmou Carreira. Com os feriados de fim de ano, muitos deles estariam antecipando as compras.
Entidades elogiam escolha
O presidente da Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agropecuárias do Paraná (Faciap), Jefferson Nogaroli, vê como positiva a indicação do deputado federal Hen-rique Meirelles (PSDB-GO) como o novo presidente do Banco Central. “Mesmo sendo do PSDB, Meirelles já mostrou-se afinado com o futuro ministro da Fazenda, Antônio Palocci”, afirma Nogaroli.
Para o presidente da Federação, o deputado federal é um conhecedor do mercado internacional e do setor financeiro, além da experiência como presidente mundial do BankBoston. “O novo presidente do BC transmite segurança, tem credibilidade e contatos internacionais, assim, poderá jogar duro para fazer com que as taxas de juros estejam num patamar razoável”, avalia. Nogaroli acredita que o anúncio dos novos ministros pode acalmar os ânimos do mercado brasileiro e estabilizar a moeda norte-americana.
O presidente da Federação do Comércio do Paraná, Rubens Brustolin, também é otimista com as indicações. “Acreditamos que o Brasil vai passar por grandes transformações e o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, está demonstrando grande consciência política e preparo”, diz o empresário. Brustolin espera que o nome de Henrique Meirelles seja suficientemente forte para reduzir com a especulação no mercado financeiro e que a ciranda do dólar acabe de uma vez por todas. “Essa especulação está atingindo todos os brasileiros, e não pode continuar”, conclui.
O presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João Felício, disse ter “boas informações” sobre o deputado eleito Henrique Meirelles (PSDB-GO), indicado para a presidência do Banco Central (BC). “Em 1997, quando houve uma brutal elevação da taxa de juros, ele fez um profundo questionamento dessa decisão”, disse Felício. Na ocasião, a presidência do BC era ocupada por Gustavo Franco. “Tenho informações de que Meirelles é fortemente a favor do relaxamento da taxa de juros.”
Segundo Felício, Meirelles é bem avaliado entre os bancários.