No último ano o Paraná importou US$ 2,1 bilhões e exportou US$ 2,3 bilhões para a China, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento. Isso significa que, assim como ainda ocorre nas relações comerciais brasileiras, o Paraná é superavitário na proporção entre o que é vendido e comprado para o dragão asiático. Apesar disso, a imbatível competitividade dos produtos chineses manufaturados, agravada pela política cambial, deixa no papel de vilão o principal comprador de produtos brasileiros no mundo que, somente em 2010, adquiriu US$ 30,8 bilhões. O segundo colocado entre os destinos das exportações brasileiras, os Estados Unidos, comprou US$ 19,5 bilhões. É diante de tais constatações que O Estado procurou renomados profissionais do mercado para avaliar um cenário que mostra riscos bastante contundentes, porém, apresenta oportunidades imperdíveis para os negócios paranaenses.
De acordo com o panorama traçado pelo Banco Fator para 2011, a China apresenta como principal desafio atrelar um crescimento fabuloso, com taxas em torno de 10% ao ano, a medidas de contenção à disparada da inflação. Logo, o grande desafio chinês não envolve mudanças na principal reclamação mundial, o câmbio baixo daquele país. Prova disso, foi que não houve avanços nesse quesito no encontro, na semana passada, entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama e o presidente da China, Hu Jintao. “O exportador chinês sabe o quanto lhe custou um câmbio valorizado no passado, e sabe o quanto deixou de vender para o mundo. Sendo assim, não vejo espaço para o governo chinês fazer uma política cambial muito diferente disso. E o mundo precisa entender que, neste contexto, a China faz, em 95% do tempo, o que a China quer fazer”, avalia o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. “A China tem uma política clara em relação às suas estratégias de negócios com o mundo. Ela quer produzir ao máximo e de forma cada vez mais barata para colocar seus produtos no exterior”, aponta o consultor de negócios internacionais para o extremo oriente Elias Antunes. Nesse sentido, a crise de 2008 representou um ponto de mudança no direcionamento da produção do gigante asiático que, até então, tinha como principais mercados a União Europeia, os Estados Unidos e o Japão. “A decisão do ministro da Indústria e Comércio, na época, foi redirecionar as vendas para áreas emergentes em franco desenvolvimento. Com essa decisão, a China passou a inundar os países latinos, inclusive o Brasil, com seus produtos”, recorda Antunes.
Migração
Cerca de 60% da população chinesa ainda reside em zonas rurais, mas o forte crescimento econômico tem transformado essa realidade a passos largos. É nesse processo de urbanização no qual vive o país que se configuram as oportunidades de negócios para empresários de todo o mundo. “O grande e crescente mercado consumidor produzido pela migração de chineses do campo para a cidade gera inúmeras demandas. Não só pela redução do número de gente produzindo alimentos no País, mas também porque ao ocuparem as vagas da indústria esses trabalhadores incrementam a renda e passam a apresentar novos patamares de consumo”, explica o presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), Gilmar Mendes Lourenço. Em números, anualmente, a China tem incorporado de 30 milhões a 40 milhões de novos consumidores. “É praticamente uma Argentina por ano, só que com um contingente de pessoas economicamente ativas, ou seja, com maior poder de compra”, complementa Antunes.