A Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidiu elevar a cota de produção de seus países membros em 2 milhões de barris por dia, que passa a ter efeito imediato. O acordo firmado ontem entre os 11 países membros da organização também prevê um aumento de 500 mil barris por dia, que passará a valer a partir de 1.º de agosto.
“É um bom acordo, teremos oportunidade de testar o impacto da política [da Opep] sobre o mercado antes que nos encontremos de novo em julho”, disse o ministro qatariano do Petróleo, Abdullah al-Attiyah. Os ministros representantes dos países membros se reunirão novamente em 21 de julho para revisar sua política.
O preço do barril cedeu, mas a medida adotada pela Opep ficou aquém do esperado. Às 12h53 (horário de Brasília), o barril do tipo “sweet light crude” para entrega em julho, negociado na Bolsa Mercantil de Nova York, estava em baixa de 1,53%, cotado a US$ 39,35. O barril do tipo Brent para entrega em julho, referência no International Petroleum Exchange, de Londres, estava cotado a US$ 36,91.
O governo americano aprovou a decisão. “Esta bem-vinda ação demostra que os produtores estão dando passos concretos e imediatos para suprir as necessidades mundiais de petróleo”, disse a porta-voz da Casa Branca Claire Buchan.
Compromisso
O acordo foi um compromisso, disseram delegados da Opep, entre países como a Arábia Saudita, de um lado, e, de outro, o Irã e a Venezuela, que temiam que uma alta imediata de 2,5 milhões poderiam causar um colapso dos preços.
A Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, à revelia da decisão da Opep, já haviam anunciado que iriam produzir juntos cerca de um milhão de barris por dia a mais. Os dois países são os membros da Opep que dispõem de capacidade extra.
O ministro saudita do Petróleo, Ali al Naimi, confirmou que seu país irá extrair 9,1 milhões de barris por dia, um aumento de cerca de 700 mil barris. Os Emirados Árabes Unidos haviam anunciado um incremento de 400 mil barris por dia em sua produção.
Nas últimas três semanas, os preços do petróleo superaram a barreira dos US$ 40 e anteontem atingiram o recorde histórico de US$ 42,45.
No último sábado, ataques contra instalações petroleiras de Al Khobar, no leste da Arábia Saudita, mataram 29 pessoas. A rede terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden, reivindicou a autoria dos ataques.
Dólar em alta; bolsa em queda
Após duas baixas consecutivas, o dólar voltou a subir e fechou ontem vendido a R$ 3,154 – alta de 0,70%. A moeda refletiu a desvalorização dos títulos da dívida, a saída de recursos e a compra de divisas por importadores. Pela manhã, a cotação caiu até 0,38% para R$ 3,13. Era uma reação à vitória do governo no Congresso na votação da medida provisória do reajuste do salário mínimo e à decisão da Opep (cartel dos exportadores) de elevar a produção de petróleo.
“Mas dados econômicos divulgados nos EUA reforçaram o medo de uma alta dos juros pelo BC americano”, disse o diretor da corretora Novação, Mario Battistel, em referência à queda dos pedidos de seguro-desemprego e aumento da produtividade.
Segundo o analista, uma subida forte dos juros nos EUA para esfriar a economia tende a deixar menos atraentes os títulos de países emergentes como o Brasil para os grandes investidores estrangeiros.
O risco Brasil, que mede a desconfiança externa no país, voltou a superar o patamar de 700 pontos com alta de 2,32%, aos 793 pontos. O C-Bond, principal título da dívida brasileira, desvalorizou 0,28%, cotado a US$ 0,88. A Bovespa caiu 1,61%, com movimento financeiro de R$ 718 milhões.
Preço cai, mas produto vai continuar caro
A decisão dos países produtores de petróleo de aumentar seu teto de produção em 2 milhões de barris por dia, a partir de 1.º de julho, ficou abaixo das expectativas, mas levou os preços do cru leve a cederem. Os dados positivos de estoque de gasolina e de óleo dos EUA também ajudaram a aliviar o mercado. Contudo, acredita-se que tais efeitos sejam temporários, já que os principais motivos dos altos preços relacionam-se a questões geopolíticas e de segurança.
O acordo da Opep (Organização dos Países Produtos de Petróleo), feito durante a reunião do cartel em Beirute, também promete outros 500 mil barris diários a partir de 1.º de agosto.
A princípio, a divulgação do plano desapontou aqueles que esperavam mais petróleo imediatamente. Mas os preços acabaram cedendo, com a percepção de que os principais produtores do Golfo estão mostrando boa vontade na tentativa de normalizar os preços.
O barril do cru leve para entrega em julho, negociado em Nova York, fechou com queda de US$ 0,68 (-1,7%), em US$ 39,28.
Estoques
Paralelamente, o departamento de Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos divulgou que os estoques de petróleo cresceram na semana passada em 2,8 milhões de barris, para um pouco mais de 300 milhões. Isto deveu-se a importações quase recordes, que aumentaram os estoques do país para seu patamar mais alto desde agosto de 2002.
Já as reservas de gasolina, observadas com atenção durante o pico da demanda de verão, subiram 1,3 milhão de barris para 204,3 milhões. Entretanto, mantiveram-se cerca de 2% abaixo dos níveis do ano passado.
Com esses dados, as cotações de gasolina para entrega futura, em Nova York, caíram mais de 3%, encorajando os investidores a se desfazerem de posições de petróleo já valorizadas.
Iniciativa
Os termos do novo acordo farão pouca diferença na atual oferta de petróleo da Opep, que controla mais da metade das exportações do produto no mundo. Isto porque a produção do grupo já encontra-se nos novos limites de cota.
Pensando nisso, os Emirados Árabes informaram que vão colocar mais 400 mil barris diários de petróleo neste mês. Essa produção suplementar complementará outros 700 mil barris diários que a Arábia Saudita decidiu ofertar, mesmo antes da reunião do cartel. Na verdade, os dois países são os únicos integrantes da organização que têm grande capacidade de produção extra.
Espera-se que tal iniciativa seja suficiente para tirar um pouco de pressão sobre o óleo, que nas últimas semanas vem saindo das bombas para ser vendido a preços recordes sucessivos.
Ágio
Contudo, devido à atual instabilidade geopolítica e aos temores com o terrorismo em instalações petrolíferas, um ágio de risco deve permanecer sobre os preços.
O ceticismo de uma queda generalizada nas cotações ficou evidente nas palavras de ontem do ministro de Energia e Minas da Venezuela, Rafael Ramírez.
Apesar de dizer que a decisão da Opep reflete o desejo de tranqüilizar o mercado, ele não espera que o acordo tenha um efeito duradouro, por não existir um “problema de abastecimento e, sim, de geopolítica”.
No início da semana, o ministro do Petróleo do Qatar, Abdullah bin Hamad al-Attiyah, também reconheceu que a Opep pode aumentar a produção, mas não tem controle sobre os temores do mercado.
“O fator medo está ligado a incidentes políticos e geopolíticos no mundo e ao que está acontecendo no Iraque”, disse al-Attiyah.