Uma sutil mudança na tradicional linguagem de Pequim sobre sua política cambial sugere que a liderança da China está se preparando para que a moeda local sofra mais volatilidade este ano, em meio a crescentes incertezas globais no âmbito político e econômico.

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Em discurso de abertura do Congresso Nacional do Povo, no fim de semana, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, abandonou uma promessa que havia feito em pronunciamentos similares nos últimos três anos de garantir que o yuan “continua, de forma geral, estável num nível apropriado e equilibrado”.

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A exclusão da frase sugere que o governo da China está disposto a tolerar quedas adicionais no valor do yuan em relação ao dólar, diante de sinais de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) se prepara para iniciar uma série de aumentos de juros este ano. Os mercados precificam uma elevação de um quarto de ponto porcentual nos juros básicos dos EUA na reunião do Fed dos próximos dias 14 e 15.

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Em vez de repetir a promessa, Li afirmou no último discurso que a taxa de câmbio do yuan será ainda mais flexibilizada e que a “a posição estável da moeda no sistema monetário global será mantido”. Analistas dizem que a fala provavelmente se refere à meta de Pequim de promover o yuan como uma grande moeda internacional e que a decisão de não comentar o nível do yuan reflete incertezas nos mercados financeiros.

“Com as incertezas políticas na Europa e a perspectiva de elevações de juros pelo Fed, por que não abrir mais espaço para a flexibilidade, em vez de usar a mesma linguagem este ano?”, disse Suan Teck Kin, economista do United Overseas Bank em Cingapura.

A mudança da retórica de Pequim sobre o yuan vem num momento em que a política cambial chinesa voltou a ser foco de tensão entre os EUA e a China. O presidente americano, Donald Trump, frequentemente acusou Pequim de desvalorizar o yuan para obter vantagens comerciais durante a campanha eleitoral do ano passado. Depois que assumiu o cargo, Trump descreveu o país com o “grande campeão” da manipulação cambial.

“Pequim pode estar deliberadamente tornando sua postura mais confusa porque não quer se comprometer muito antes de o novo governo Trump tomar decisões contra a China” avaliou Shuang Ding, economista do Standard Chartered em Hong Kong.

Investidores vinham interpretando a promessa de Pequim de manter o yuan estável como um objetivo de limitar as flutuações anuais da moeda a 3%, para cima ou para baixo. A China estabelece uma taxa de referência diária para o yuan ante o dólar, permitindo que a moeda flutue dentro de uma margem de 2%. O yuan teve valorização de 2,8% em 2013 e perdeu 2,5% de seu valor no ano seguinte.

Manter a estabilidade do yuan, porém, tornou-se mais difícil. Em 2015, o yuan se desvalorizou em 4,7% frente ao dólar. Naquele ano, Pequim surpreendeu os mercados com uma desvalorização abrupta de 2% da moeda, após um período inédito de turbulência nos mercados acionários domésticos.

No ano passado, o yuan se enfraqueceu mais 6% em relação ao dólar, à medida que o crescimento da China desacelerou para o menor nível desde 1990 e recursos financeiros deixaram o país, apesar de rígidas medidas de controle de capital. Fonte: Dow Jones Newswires.