Com um discurso distante das declarações otimistas de chefes de Estado, os negociadores na Organização Mundial do Comércio (OMC) em Genebra retomaram ontem as discussões agrícolas sem o menor sinal de confiança. Diante de um passividade considerada inquietante por alguns diplomatas, embaixadores e negociadores já se preparam para manter o processo em estado vegetativo até que condições políticas mais propícias apareçam, principalmente nos Estados Unidos.
O clima é de tanta resignação que poucos ontem se atreveram a discursar na reunião de abertura do processo. O Brasil sugeriu que os encontros previstos para hoje entre os 151 países fossem suspensos, dando espaço para reuniões bilaterais. Hoje, o Brasil se encontrará com os Estados Unidos para tentar aproximar posições no setor agrícola. O primeiro tema será acesso ao mercado aos países ricos, entre eles a ampliação de cotas para produtos como açúcar, soja e carnes. O mediador das negociações agrícolas, Crawford Falconer, quer que a agenda seja seguida pelo debate sobre as barreiras existentes nos países emergentes para a importação de bens agrícolas, assunto delicado para a Índia.
Mas o principal obstáculo é mesmo a falta de capacidade dos Estados Unidos em fazer qualquer oferta nova de liberalização. Sem uma autorização do Congresso americano para que a Casa Branca negocie acordos comerciais, com uma nova lei agrícola que permitirá a distribuição de bilhões de dólares em subsídios e com as eleições presidenciais se aproximando, Washington não tem condições de ceder. Os países emergentes e a Europa insistem que os americanos precisam reduzir de forma drástica seus subsídios agrícolas.