Araçatuba (AE) – O Brasil irá produzir 1,118 bilhão de litros de biodiesel em 2008, 39,75% mais que a demanda – de 800 milhões de litros – esperada para suprir a mistura obrigatória de 2% (chamada de B2) ao diesel de petróleo. A previsão foi divulgada ontem pelo coordenador da Comissão Executiva Interministerial do Biodiesel, Rodrigo Augusto Rodrigues, durante simpósio sobre o tema na Feira de Negócios do Setor de Energia (Feicana/Feibio), em Araçatuba (SP).
Os volumes são somente do combustível com selo social, ou seja, os que têm como matéria-prima grãos produzidos pela agricultura familiar e os únicos que podem ser adquiridos por leilões públicos. De acordo com Rodrigues, o volume de 2008 virá da soma dos 49 milhões de litros, por ano, oferecidos pelas cinco unidades já existentes, dos 61 milhões de litros a serem produzidos por empresas em fase de regularização e dos 24 projetos em andamento ou a se iniciar.
Esses projetos serão responsáveis pela maior parte da oferta prevista, ou 1,008 bilhão de litros por ano. Para garantir a compra do produto, a Petrobras irá lançar leilões, ainda em março, para a compra de 110 milhões de litros a serem entregues de julho de 2006 a junho de 2007. Em abril, a empresa irá fazer uma nova rodada de compra, para adquirir, segundo Rodrigues, 400 milhões de litros a serem entregues ao longo do próximo ano.
?Com isso, o governo espera que sejam incorporadas 250 mil famílias de pequenos agricultores até 2008 na produção de oleaginosas para a produção do biodiesel?, afirmou o coordenador. Segundo Rodrigues, até o final de 2006 o número de postos de combustíveis que comercializam a mistura B2 deve saltar de 80 para mais de mil, com a entrada da Petrobras na distribuição do combustível adquirido nos leilões.
A política tributária do governo para o biodiesel e o mercado para o combustível dividiram opiniões de grandes empresas do setor durante o evento na Feicana/Feibio. Lincoln Camargo, executivo da Westfalia Separator do Brasil, comemora a dificuldade de a empresa, uma das produtoras de usinas de biodiesel, em atender à demanda. ?Temos mais de dez projetos encomendados até meados de 2007 e estamos com dificuldade de atender essa demanda, principalmente após os leilões da Petrobras?, disse Camargo.
Já o gerente de Novos Processos e Biocombustíveis, Tecnologia e Inovação da Bunge, Frederido Kladt, é categórico ao afirmar que a companhia, maior processadora de soja do Brasil, não tem interesse em produzir biodiesel no País. Ele cita a diferenciação na tributação para o combustível e a prioridade da agricultura familiar como os motivos para a decisão tomada pela diretoria da empresa nos Estados Unidos.
?A alta direção da empresa determina que não se entra em setores nos quais há incentivo do governo que distorçam o mercado?, afirmou Kladt. ?Também não temos interesse em comprar matéria-prima de pequenos agricultores para não pulverizarmos nosso negócio.?