Após vários anos de crescimento rápido, a produção de biocombustíveis vai desacelerar fortemente em 2009, prevê a Agência Internacional de Energia (AIE). O resultado seria pior se não fosse a oferta do Brasil, único País que teve as projeções elevadas pela entidade.
Conforme o relatório mensal divulgado nesta sexta-feira (10), em Paris, diversos motivos conspiram para limitar a oferta e a viabilidade da indústria mundial de biocombustíveis: os preços mais baixos do petróleo, as restrições de crédito, o suporte governamental cada vez mais divergente e a queda das previsões para demanda de combustível para transporte.
A AIE reduziu sua estimativa para a produção global de biocombustíveis neste ano em 220 mil barris por dia (bpd), o que levará a um crescimento de 6,6% em relação a 2008 (ou alta de 95 mil bpd), bem menor do que o avanço de 31,5% no ano anterior, quando 345 mil bdp foram adicionados ao mercado. A produção global deve passar de cerca de 1,4 milhão de bpd no ano passado para perto de 1,5 milhão de bdp em 2009.
A desaceleração vem principalmente dos Estados Unidos e da Europa, já que a América Latina conseguirá melhor resultado em função da produção brasileira. A agência elevou a previsão para a oferta do Brasil em 100 mil barris por dia – no ano passado, a produção nacional ficou em torno de 460 mil bpd. Mesmo assim, a entidade aponta dificuldades no País e cita o anúncio feito pela União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) no mês passado, de que somente 15 a 20 usinas entrarão em operação neste ano, abaixo das 35 previstas inicialmente.
“Os biocombustíveis têm sido mais afetados pela desaceleração econômica e os baixos preços do petróleo do que a produção de óleo cru fora da Opep”, avalia a AIE. Conforme a agência, entre 15% e 20% da capacidade total de produção de etanol dos Estados Unidos, de 800 mil bpd, foi perdida e o restante está operando abaixo do potencial. A oferta atual norte-americana está perto de 630 mil bpd e a previsão para este ano foi rebaixada em 115 mil bpd. A AIE acredita que os EUA irão, no máximo, atingir as metas de uso de combustíveis renováveis, implementadas pelo Renewable Fuel Standard (RFS), podendo até mesmo ficar abaixo delas.
Na Europa, a produção de biodiesel deve ficar estagnada, apesar da decisão recente de colocar taxação sobre o produto importado dos Estados Unidos. “As importações de produtores de custos mais baixos na América Latina e Ásia devem provavelmente repor esses volumes, ao contrário da produção doméstica.” No ano passado, a Europa comprou 25 mil bpd dos EUA.
A agência prevê queda na oferta da Alemanha, em razão do fraco suporte do governo e do excesso de capacidade no maior produtor da região. Já a França, Itália, Espanha e Reino Unido devem continuar com produção de biocombustíveis em alta, só que mais fraca.