O grupo Odebrecht está disposto a ter uma participação mais ativa no setor elétrico brasileiro. A companhia demonstra interesse em dois ativos: a Brasiliana, que controla a distribuidora AES Eletropaulo e a geradora AES Tietê, e a americana Duke Energy, de acordo com uma fonte. Diante da ofensiva da Camargo Corrêa e da Andrade Gutierrez sobre operadoras tradicionais do mercado, a estratégia da Odebrecht tem como objetivo garantir um melhor posicionamento do grupo no setor elétrico, permitindo a participação nos futuros projetos de expansão. Procurada, a empresa não se pronunciou sobre o assunto.
Controladora de empresas como Braskem, ETH e Foz do Brasil, a Odebrecht ainda não tem um histórico de investimentos no setor elétrico. Hoje, o principal projeto é a construção da usina Santo Antônio (RO), do Rio Madeira, empreendimento de R$ 10 bilhões em que o grupo é um dos principais acionistas. Mas as operações realizadas este ano mostram que as construtoras enxergam o setor de energia elétrica como uma das principais áreas de expansão da infraestrutura nos próximos anos.
Exemplo disso foi a compra da fatia da Votorantim na CPFL Energia pela Camargo Corrêa no início do ano, por R$ 2,5 bilhões, o que reforçou a posição da Camargo na maior holding privada do setor elétrico brasileiro. Mês passado, foi a vez de a Andrade Gutierrez fechar acordo com a Southern Eletric Brasil (SEB), formada pelas americanas AES e Mirant e o Opportunity, para a aquisição da participação de 14,1% do capital da Cemig detida pelo consórcio, negócio que ainda depende da Justiça Federal e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Todas as construtoras estão se posicionando no setor, e a Odebrecht é a única que está fora. Por isso o interesse nesses ativos”, disse a fonte. Segundo uma outra fonte com larga experiência no setor, a avaliação das construtoras é de que esse é um bom momento para se investir na área. “Olhando a perspectiva de demanda consistente por energia para os próximos anos, quem estiver com dinheiro sobrando colocará no setor elétrico”, disse. Segundo a primeira fonte, o interesse da Odebrecht pela Brasiliana já levou o presidente da AES no Brasil, Britaldo Soares, a voltar a reforçar em público o interesse do grupo americano em exercer o seu direito de preferência pela fatia de 53,85% do BNDES na companhia. Outra interessada no ativo seria a Camargo, visando uma futura fusão com a CPFL.
A outra possível porta de entrada da Odebrecht no setor elétrico seria a Duke Energy, que tem um parque gerador de 2,3 mil MW, com oito usinas instaladas entre Paraná e São Paulo. Os comentários de que a geradora seria alvo de aquisições sempre circularam pelo mercado, mas ganharam força recentemente com a reestruturação administrativa iniciada nos últimos dois meses, processo que deve culminar com o retorno do atual presidente, Mickey Peters, aos EUA ainda este ano.